EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h37.
Faltando menos de duas semanas para a eleição de 6 de outubro, o cenário não poderia ser mais sombrio para os tucanos: a receita de ataque na TV que tirou Ciro do páreo não deu certo com Lula. E agora? José Serra (PSDB) caiu nas pesquisas, Lula ganhou mais pontos e até mesmo Anthony Garotinho (PSB) assanha-se em ir para o segundo turno. Números de pesquisas e do mercado lançaram a dúvida: ainda há esperança para José Serra chegar ao segundo turno e virar o jogo?
O mercado financeiro, que há tempos teme a vitória de Lula no primeiro turno, deu mais uma prova de que o receio é cada vez maior. Nesta segunda, o dólar subiu quase 5% e fechou com a maior alta do Real a R$ 3,57. O risco-país voltou a bater a casa dos dois mil pontos e fechou em 2.175 com alta de 10%, enquanto a Bovespa caiu mais de 3%. "O mercado ainda está convencido de que haverá segundo turno, mas é implacável no dia-a-dia", diz Octavio de Barros, economista-chefe do BBV Banco. Tradução: os investidores exageram, agem como se Lula já fosse hoje presidente do Brasil, mas, lá no fundo, não descartaram a virada de Serra. "Quem tem 20% de votos não pode ser considerado fora do páreo", diz Octavio.
Para a professora de Ciência Política da USP Maria DAlvo Kinzo, o cenário eleitoral, apesar das pesquisas que apontam Lula com até 44% das intenções de voto, ainda está indefinido. "Dizer que não há esperança para Serra hoje é arriscado. Muitos eleitores só decidem seus votos na última hora", diz Kinzo. "A chance de haver segundo turno é bem considerável. A eleição está muito pulverizada entre quatro candidatos e apresenta uma volatilidade muito grande." Nem mesmo Garotinho e Ciro Gomes estão descartados, afirma a professora da USP. Ela explica que as diferenças entre Serra, Ciro e Garotinho não são grandes e que o voto de quem hoje está indeciso pode pesar na escolha de quem vai para o segundo turno com Lula. "Mas, sem dúvida, o forte candidato a ir para o segundo turno é mesmo José Serra", diz Kinzo.
Três contra Lula
Na avaliação do economista Mailson da Nóbrega e para o analista político Christopher Garman, os dois da consultoria Tendências, há grandes chances de a eleição presidencial ser resolvida mesmo no segundo turno. Por diferentes razões, Serra, Ciro e Garotinho iniciaram os ataques a Lula, o que poderia enfraquecer o candidato petista perante o eleitorado e reduzir o impacto positivo de seus programas no horário gratuito. "Lula ainda tem fragilidades eleitorais que serão exploradas, e isso será refletido nas pesquisas", afirma Garman. "Os adversários tentarão mostrar que esse discurso moderado do PT não é crível", afirmou o analista durante uma coletiva realizada pela Tendências nesta segunda-feira.
Para Lourdes Sola, também analista política da consultoria, a disputa polarizada entre Lula e Serra favorecerá o candidato tucano porque será mais fácil expor as fragilidades do petista. "É muito pouco provável que o PFL, no segundo turno, se volte contra o governo, apoiando o PT", afirmou ela. "A única exceção seriam José Sarney e Roseana", diz Mailson.
Se ganhar no primeiro turno, porém, Lula sairia mais forte politicamente, mas sem apoio de grandes colégios eleitorais que não elegerão candidatos petistas. Se a vitória ocorrer apenas no segundo turno, o PT teria de ser mais conciliador. "O PT ganhando no segundo turno é preferível", afirma Christopher Garman. "Com a possibilidade de segundo turno, é muito provável que o PT tenha de reforçar a idéia de que é um partido conciliador e de que não fará mudanças drásticas nem representará riscos à atual política econômica", diz.
Para Mailson, a chance de segundo turno ainda depende também do debate final da Rede Globo, que acontecerá a apenas três dias do pleito, já que ainda há muito eleitores indecisos. "A ida de Serra para o segundo turno é quase certa, já que Lula se enfraquecerá a cada dia. No segundo turno, o debate será mais intenso", afirma o economista.
Erro estratégico
Apesar do otimismo em torno da campanha de José Serra, a professora Maria DAlva Kinzo afirma que os tucanos erraram em não defender o governo Fernando Henrique. "Foram três candidatos batendo contra o governo, que não teve defesa", diz a analista política. "O resultado foi a queda da aprovação popular do próprio Fernando Henrique."
Para ela, Serra deveria ter usado a mesma estratégia de FHC na campanha de 98, mostrando os pontos fortes do governo. "Ele deveria ter explorado os percentuais de eleitores que avaliam o governo FHC como ótimo e bom e ainda fazer um trabalho de convencimento diante da parcela que vê Fernando Henrique como regular", diz a professora. Tentar fazer pose de oposição foi um erro.