Economia

Novas regras do saneamento devem garantir R$ 80 bi por ano em investimento

Senado deve aprovar nesta quarta-feira o novo marco do saneamento, que estimula a atuação do setor privado no setor

Saneamento: calcula-se que o país precise de algo entre R$ 500 bilhões e R$ 700 bilhões para universalizar os serviços (Arison Jardim/SecomAcre/Divulgação)

Saneamento: calcula-se que o país precise de algo entre R$ 500 bilhões e R$ 700 bilhões para universalizar os serviços (Arison Jardim/SecomAcre/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de junho de 2020 às 12h40.

Última atualização em 24 de junho de 2020 às 12h41.

O Brasil poderá ganhar quase R$ 80 bilhões por ano com a expansão do saneamento básico - setor mais atrasado da infraestrutura brasileira. Hoje a falta de cobertura de água e esgoto, cujos índices são piores que em países como Iraque e Jordânia, prejudica a saúde, a produtividade e a renda da população brasileira, segundo dados do Instituto Trata Brasil.

Com a aprovação do novo marco regulatório, previsto para ser votado hoje, a expectativa é que novos investimentos mudem esse cenário. Pela primeira vez na história, há quase uma unanimidade de que é preciso aprovar uma legislação capaz de atrair novos investidores. Calcula-se que o País precise de algo entre R$ 500 bilhões e R$ 700 bilhões para universalizar os serviços e reduzir os prejuízos da população.

Para se ter ideia, o País perde 38% de toda água potável, tratada e pronta para ser distribuída. Isso representa R$ 12 bilhões, o equivalente a todo investimento que o setor tem feito por ano. "Em alguns Estados, essas perdas chegam a 70%", diz Édison Carlos, presidente do Instituto Trata Brasil.

Mas os prejuízos causados pela falta de saneamento vão além. Em 2018, último dado disponível, o Brasil registrou quase 5 milhões de Doenças Diarreicas Agudas (DDAs), segundo o economista Claudio Frischtak, presidente da consultoria de infraestrutura InterB. Ele explica que, entre 2010 e 2018, o número de casos dessa doença cresceu 2,15% ao ano - acima da expansão da população, de 0,8%.

O avanço dessas doenças resulta em maiores gastos públicos com internações e perda de produtividade do brasileiro, que falta ao trabalho por causa das enfermidades. Pelos dados do Trata Brasil o aumento dos investimentos rumo a universalização dos serviços de água e esgoto podem gerar uma economia de R$ 297 milhões por ano com saúde e promover um ganho de R$ 9 bilhões de produtividade e remuneração do trabalho.

Emprego

Isso sem considerar o aumento do número de emprego decorrente das obras de saneamento - que podem impulsionar a retomada econômica do País no pós-covid. Só no projeto de concessão da Cedae, distribuidora do Rio de Janeiro, a expectativa é de geração de 45 mil empregos, afirma o diretor de Infraestrutura, Concessões e PPPs do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Fábio Abrahão. "Isso é maior que o pico da indústria naval no Rio de Janeiro."

Para a coordenadora da divisão técnica do Departamento de Engenharia Sanitária, Recursos Hídricos e Biotecnologia do Instituto de Engenharia, Paula Rodrigues, cada real investido se transforma em benefício para a população. "Com a expansão dos serviços é possível reduzir a mortalidade da população, criar emprego, potencializar o turismo e ainda valorizar o preço de áreas degradadas. Ou seja, há uma série de oportunidades para a economia." De acordo com o Trata Brasil, o ganho decorrente da valorização imobiliária pode chegar a R$ 22 bilhões por ano e o incremento no setor de turismo, de R$ 2,1 bilhões.

"O cálculo que se faz para o Brasil é de que a cada US$ 1 investido em saneamento, o ganho para a população é da ordem de US$ 3", diz o pesquisador do Instituto Trata Brasil, Fernando Garcia. No Brasil, acrescenta ele, o potencial de ganhos nas várias esferas é muito grande. São 100 milhões de pessoas sem acesso a coleta de esgoto e 35 milhões sem água tratada em casa. Isso coloca o País no 117.º lugar em porcentual de pessoas com acessos a serviços básicos de saneamento, afirma Claudio Frischtak. Chile, Costa Rica e Argentina têm porcentuais maiores que o Brasil. 

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