Economia

Nova classe média será mão de obra mais qualificada, diz FGV

Estudo feito em parceria com o Senai mostrou que a nova classe média será mais qualificada para trabalhar no desenvolvimento industrial do país

O estudo mostra que os jovens da nova classe média costumam frequentar cursos profissionalizantes (Kiko Ferrite/EXAME)

O estudo mostra que os jovens da nova classe média costumam frequentar cursos profissionalizantes (Kiko Ferrite/EXAME)

DR

Da Redação

Publicado em 8 de fevereiro de 2012 às 17h06.

Brasília – A chamada nova classe média (com renda familiar entre R$ 1,2 mil e R$ 5,3 mil) fornecerá força de trabalho mais qualificada para o desenvolvimento industrial nos próximos anos. A expectativa é alimentada por uma análise sobre a demanda por educação profissional divulgada hoje (8), em Brasília, pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e pela Fundação Getulio Vargas (FGV).

De acordo com a avaliação, baseada nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - pesquisas mensais de emprego (PME), de 2002 a 2010, e Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/2007) -, são os jovens da classe média que alimentam a expansão de quase 77% no número de pessoas que declararam “frequentar” ou “ter frequentado” cursos de educação profissional (qualificação de 200 até 400 horas, ensino médio técnico ou curso superior de tecnólogo) entre 2004 e 2010.

Em seis anos, o percentual de quem declarou formação em educação profissional passou de 14,03% para 24,81%, segundo aponta a análise. O maior contingente é de jovens, especialmente os adolescentes de 15 anos, que representam 10% do total de pessoas que frequentam ou frequentaram educação profissional. Entre as pessoas de 15 a 29 anos que declararam frequentar a educação profissional, o maior percentual é na classe C (8%), que também aponta a maior demanda por cursos profissionalizantes na área industrial.

Para o economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da FGV, a procura dos jovens da classe C pela educação profissional indica que a ascensão do estrato na última década terá sustentabilidade. “Não é sonho de uma noite verão”, afirma.

Para ele, não é possível dizer que a mobilidade é movida meramente por aumento do acesso ao crédito e maior consumo desse segmento da população. “Há claro paralelo entre a ascensão da nova classe média (ou classe C) e a profusão de carteiras de trabalho e cursos profissionalizantes”, defende.


Na opinião de Rafael Lucchesi, diretor de Educação e Tecnologia do Senai, o ingresso desses jovens deverá dar “lastro” ao crescimento do setor industrial nos próximos anos. A expectativa do executivo é que os onze principais setores industriais brasileiros totalizem US$ 648 bilhões de investimento entre 2011 e 2015. O Senai promete até 2014 ampliar sua rede de escolas técnicas e cursos profissionalizantes de 2,4 milhões de matrículas para 4 milhões. Para isso, contará com empréstimo de R$ 1,5 bilhão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Apesar da boa perspectiva, a análise dos dados aponta que mais de três quartos da população nunca frequentou educação profissionalizante, quase 70% por falta de interesse. Além disso, a pesquisa verifica que 8% dos que iniciaram algum curso profissionalizante não concluíram. A maioria porque deixou de ter interesse pelo curso no qual estavam inscritos. Entre os que concluem, mais de 37% não conseguem trabalhar na área. Os cursos profissionalizantes no Brasil são oferecidos pela rede pública, pela rede privada, pelo Senai e por organizações não governamentais.

Na avaliação de Marcelo Neri, a baixa procura por cursos profissionalizantes tem a ver com a falta de informação e a má qualidade das escolas brasileiras. “A baixa qualidade da educação básica no Brasil influencia a demanda pela educação profissional”, diz o economista que assinala que a educação profissional resulta em um ganho médio de 15%.

Rafael Lucchesi lembra que cerca de 9 milhões de alunos estão matriculados no ensino médio no Brasil, mas apenas 1 milhão faz o ensino médico técnico (complementar) e apenas 6 milhões ingressam no nível superior. “Poucos países tem uma distribuição tão ruim para a matriz do trabalho”, ressalta.

Acompanhe tudo sobre:Classe CEmpresasFGV - Fundação Getúlio VargasIndústriaIndústrias em geral

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto