Economia

Termômetros do mercado divergem sobre impeachment

Dois indicadores vistos como termômetros do mercado estão com sinais divergentes no momento em que avança o processo de impeachment da presidente


	A presidente Dilma Rousseff: olhar para o câmbio como sinal de que o mercado está tranquilo com o impeachment pode ser enganoso, diz especialista
 (Buda Mendes/Getty Images)

A presidente Dilma Rousseff: olhar para o câmbio como sinal de que o mercado está tranquilo com o impeachment pode ser enganoso, diz especialista (Buda Mendes/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 9 de dezembro de 2015 às 19h14.

Dois indicadores vistos como termômetros do mercado estão com sinais divergentes no momento em que avança o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Mesmo contabilizando a alta desta terça-feira causada pelo receio com a China, o dólar caiu 1,6% desde que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, aceitou o pedido de afastamento de Dilma, em 2 de dezembro.

No período, o CDS brasileiro de cinco anos subiu de 448 para até 466 pontos esta semana.

Olhar para o câmbio como sinal de que o mercado está tranquilo com o impeachment pode ser enganoso, diz o ex-diretor do BC Paulo Vieira da Cunha.

Para ele, o dólar reflete sobretudo a sinalização de alta dos juros pelo Banco Central, que pode acabar frustrada devido à recessão e possível queda da inflação em 2016. Há ainda a expectativa de fluxo oriundo da venda de ativos pelo BTG, mas esse é um fator negativo, e não positivo, para o mercado, alerta o economista.

Vieira da Cunha, economista-chefe da Ice Canyon em Nova York, ainda vê uma situação política “muito complicada”. Pelos contatos que tem feito com investidores, ele diz que há uma percepção positiva do País no caso de o vice Michel Temer assumir a Presidência com amplo apoio para governar. As incertezas, porém, ainda são grandes, sobretudo para o caso de Dilma permanecer no poder.

Enquanto parte do mercado considera o desfecho do processo do impeachment positivo mesmo que Dilma sobreviva, pois ela teria mais forças para completar o ajuste, Vieira da Cunha pensa o contrário. Ele considera que a presidente poderá ficar ainda mais fraca politicamente com o aprofundamento dos efeitos cumulativos da recessão sobre as famílias em 2016. Além disso, com eleições no mesmo ano, Dilma poderia ser pressionada pelo PT a mudar a política econômica, adotando “paliativos” para estimular o crescimento. “Há o risco de a presidente reagir de forma errada.”

Rafael Cortez, analista política da Tendências, considera possível que Dilma, caso permaneça no poder, fique mais forte para tocar as reformas, sobretudo se sua vitória coincidir com a saída de Eduardo Cunha da Presidência da Câmara. Cortez reconhece, contudo, que o desenlace preferido dos investidores é o impeachment, por verem em Temer um político mais preparado para negociar com o Congresso como um todo, incluindo o PSDB.

Em qualquer cenário, as incertezas não devem desaparecer. Um dos fatores de dúvida que vai permanecer, lembra Cortez, é a investigação da Lava Jato, que deve seguir influenciando os desdobramentos do quadro político independentemente de Dilma ou Temer na Presidência da República em 2016.

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