Economia

Gregos oscilam entre o 'sim' e o 'não' antes do referendo

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, incentivou as pessoas a votar contra o último acordo apresentado pelos governos europeus


	Desde que o governo intensificou os controles na capital esta semana - fechando os bancos aos gregos que, em pânico, esvaziavam suas contas depois que as negociações com os credores fracassaram -, a raiva vem crescendo
 (REUTERS/Yannis Behrakis)

Desde que o governo intensificou os controles na capital esta semana - fechando os bancos aos gregos que, em pânico, esvaziavam suas contas depois que as negociações com os credores fracassaram -, a raiva vem crescendo (REUTERS/Yannis Behrakis)

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Da Redação

Publicado em 2 de julho de 2015 às 16h45.

À sombra dos carvalhos de um parque ateniense se desenrola um acalorado debate. É melhor votar 'Não' no referendo de domingo e libertar a Grécia do jugo dos seus credores ou dizer 'Sim' para a Europa?

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, incentivou as pessoas a votar contra o último acordo apresentado pelos governos europeus, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, tachando suas condições de "humilhantes".

Cartazes laranjas com a inscrição 'Não' ganharam as ruas, enquanto a palavra 'OXI' (não, em grego) aparece estampada em grandes letras pretas e quando cai à noite, grupos de jovens vão para os bares e clubes da cidade com panfletos, pedindo às pessoas para desafiar os credores.

Mas desde que o governo intensificou os controles na capital esta semana - fechando os bancos aos gregos que, em pânico, esvaziavam suas contas depois que as negociações com os credores fracassaram -, a raiva vem crescendo.

Cinco anos de austeridade deixaram o país exangue, mas são Tsipras e seu partido da esquerda radical, o Syriza, os acusados por infligir este último golpe a gregos exaustos e um alguns potenciais eleitores do 'Não' agora tendem a votar no 'Sim'.

"Eu ia votar no 'Não' porque acho que o povo grego está sendo tratado com desdém. Mas Tsipras tornou a situação muito pior, é culpa dele os bancos estarem fechados", criticou a auxiliar de compras Suzanna Alizoti.

Os controles significam que os gregos comuns podem retirar apenas 60 euros (US$ 67) por dia. Com muitos caixas eletrônicos ficando sem dinheiro, pessoas que fazem filas por horas podem acabar saindo de mãos vazias.

Loucura total

"Eu trabalhei duro, economizei muito e sustento meus familiares com as minhas economias. E agora eu não posso ter acesso ao meu dinheiro? Nós precisamos de novos empregos, de novos investimentos, não mais o caos", irritou-se Alizoti, de 32 anos.

O caos também paira sobre do que se trata o referendo - ou se ele faz algum sentido.

Muitas pessoas concordam com os líderes europeus, que dizem que este será um voto em se os gregos querem permanecer no euro.

Mas o governo diz que a consulta simplesmente pergunta aos gregos se querem aceitar condições de austeridade duras, exigidas pelos credores internacionais.

Contudo, como as condições estão relacionadas a uma moratória que expirou na terça-feira, muitas pessoas se questionam sobre a validade deste voto - uma das pessoas consultadas acusou Tsipras de sofrer de "estupidez e loucura total".

A consumidora Danai Hanas, de 25 anos, disse que a construção da pergunta na cédula era desnecessariamente complicada e ele acreditava ser "improvável que as pessoas idosas em vilarejos remotos consigam entendê-la".

O advogado Georgiadis Aris, que tem vários amigos que trocaram o 'Não' pelo 'Sim', na tentativa de se livrar de "um Tsipras cada vez mais errático", acrescentou. "É uma pergunta totalmente estúpida de se fazer aos gregos", prosseguiu.

Enquanto acredite que a turma do 'sim' vá ganhar, "se for apenas uma vitória marginal, nós teremos problemas dias depois".

"Agora são só os bancos. Mas se houver uma corrida aos supermercados e os combustíveis começarem a acabar, isto pode descambar para tumultos, caos, até mesmo a um golpe pelo tipo de junta militar que tomou o poder no país em 1967", afirmou.

Desespero crescente

Faltando apenas três dias para o referendo, o ministro grego das Finanças, Yanis Varoufakis, disse que o governo está "em pé de guerra" para assegurar que as cédulas cheguem aos recantos mais distantes das ilhas a tempo.

Enquanto apanhava os damascos e cerejas mais doces de um vendedor de frutas ambulante, o servidor civil Petros Eliopoulos disse que estava de olho nos gerenciadores de apostas, que acreditam que um voto no 'sim' é mais provável.

Pesquisas realizadas desde que as restrições foram impostas na segunda-feira revelaram uma queda profunda nos prováveis votantes do 'Não' de 57% para 46%.

Mas Eliopoulos disse estar "preocupado de que os controles também possam ajudar o 'Não' à medida que o desespero aumenta".

Entre os locais que apreciavam um frappuccino em um supermercado no distrito Kolonaki, em Atenas, o 'Sim' está firme na liderança.

Mas no bairro Exárchia, estudantes compartilhavam cerveja sob o sol do meio-dia observavam os idosos vestidos de forma espartana em um banco vizinho e prometem mudar o destino da Grécia votando no 'Não'.

"Todos os credores se preocupam em recuperar o dinheiro, estão nos sufocando", disse Elizabeth Markos, estudante de Filosofia de cabelos avermelhados e jeans rasgados.

"Se nós não nos libertarmos, serão os aposentados, os pobres, os estudantes que irão pagar, e não haverá futuro para a Grécia", concluiu.

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