Ovos de Páscoa: o comércio prevê vendas fracas e algumas lojas já fazem promoção (Mauro Holanda/Dedoc/Site Exame)
Estadão Conteúdo
Publicado em 4 de abril de 2020 às 16h09.
Última atualização em 4 de abril de 2020 às 16h14.
"Que almoço? É a primeira vez que a gente não vai fazer almoço de Páscoa", lamenta a pensionista Elenir Krupp, de 69 anos. De máscara, ela só foi ao supermercado porque precisava. Parte do grupo de risco da covid-19, ela não vê os quatro netos há três semanas. "Quando dá saudade, vou até a varanda do apartamento e aceno para o meu filho ou falo com eles pela internet. Não achava que alguma coisa poderia nos afastar."
Na Páscoa da quarentena, o chocolate é coadjuvante e o almoço de família vai virar encontro por Skype. Com a maior parte dos brasileiros em isolamento social para conter o avanço do novo coronavírus, o feriado, que sempre movimenta os supermercados em todo o País, deve ser de retração nas vendas.
É que o medo do desemprego tem feito as famílias direcionarem seus gastos para produtos básicos de alimentação e higiene pessoal. Assim, as vendas de chocolates e ovos de Páscoa devem cair 8,5% no Estado de São Paulo, em relação ao feriado do ano passado. A previsão é da Associação Paulista de Supermercados (Apas). Antes da crise, se esperava alta de 2,2% nas vendas.
Para a Grande São Paulo, a expectativa é ainda pior, de queda de 10,5% nas vendas ante 2019.
Na casa da cuidadora de idosos Denise Batista, de 59 anos, não vai ter chocolate para todo mundo. A preocupação com o coronavírus virou tema principal. "Nesta época, a gente estaria decidindo o cardápio do almoço de Páscoa." Com a pandemia, ela não pode trabalhar e ganha metade da remuneração de antes. "O presente do meu neto vai ser um Kinder Ovo."
Segundo pesquisa do Google com mil consumidores, ela não está sozinha: 7 em cada 10 brasileiros vão mudar algum hábito nesta Páscoa — 12% deles devem deixar de comprar chocolate e 9% não irão almoçar em família. Com mais gente em casa, as buscas por termos como "receitas de ovos" e "como fazer ovos de Páscoa" também aumentaram.
Entre os supermercadistas, a expectativa é que as vendas melhorem na próxima semana. Na rede de supermercados Hirota, já há promoções, na linha "leve quatro e pague três", e descontos de até 50% na compra do segundo ovo. A empresa deve oferecer mais descontos nos dias que antecedem o feriado, no próximo dia 12.
Já as fabricantes de chocolate reconhecem que o momento é de orçamento doméstico apertado, mas avaliam que tomaram medidas suficientes para evitar perdas de produtos. Segundo a Lacta, foram reforçados os investimentos nos canais tradicionais de compra e no e-commerce. Com a epidemia, a empresa também relançou uma loja virtual própria. "Investimos também nos aplicativos de venda delivery."
A gaúcha Neugebauer lembra que os contratos para a Páscoa foram fechados antes das medidas de isolamento social e que a preocupação maior agora é que a reposição dos produtos no supermercado demore mais que o normal. "Até agora, porém, não houve impacto no consumo", diz o diretor, Sérgio Copetti.