Economia

Saldo de transações correntes bate recorde em 2005

Desempenho foi impulsionado pela balança comercial e pelos investimentos estrangeiros. Em 2006, porém, o país não deve obter números tão positivos

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h45.

O Brasil terminou 2005 com um superávit recorde nas transações correntes de 14,2 bilhões de dólares, equivalente a 1,79% do PIB. Em 2004, o superávit foi de 11,7 bilhões de dólares e representou 1,94% do PIB. O destaque ficou por conta da balança comercial, que alcançou um saldo positivo inédito de 44,8 bilhões de dólares. O crescimento foi de 33% em relação a 2004, quando se registrou superávit de 33,6 bilhões de dólares. A demanda e os preços no mercado internacional foram os principais motivos do bom desempenho da balança.

Para o economista Pedro Paulo Bartolomei da Silveira, da Global Invest, o desempenho das transações correntes em 2005 consolida a tendência de expansão do saldo, iniciada com resultados modestos em entre 2002 e 2003, e uma aceleração a partir de 2004. Segundo Silveira, um dos motivos do saldo posivito de 2005 foi o crescimento das principais economias do mundo, que demandaram mais produtos brasileiros e ajudaram a balança comercial. Outro aspecto foi o desempenho medíocre do mercado interno brasileiro, que forçou as empresas a buscar receitas de exportação. "Quando a economia doméstica vai bem, ela compete com o mercado internacional na demanda por bens. Em 2005, a economia brasileira cresceu pouco, cerca de 2%, e a oferta de bens foi direcionada ao mercado internacional, favorecendo a balança", diz Silveira.

Investimentos estrangeiros

Os investimentos estrangeiros diretos líquidos somaram 15,2 bilhões redução de 16,4% em comparação a 2004. Segundo Silveira, da Global Invest, o saldo de IED caminha em direção à estabilização, após um período de forte ingresso de recursos, durante as privatizações promovidas pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Para ele, o crescimento modesto da economia brasileira e a taxa de juro em patamares elevados também foram responsáveis pela desaceleração de investimentos.

Em relação a dezembro, a entrada de 1,4 bilhão de dólares superou as expectativas do mercado, que esperava 1,2 bilhão, segundo Guilherme Maia, economista da consultoria Tendências. "A volatilidade dificultou a previsão das remessas de lucros e dividendos ao exterior". Segundo ele, o movimento no final de dezembro foi motivado pelo receio do mercado de novas intervenções do Banco Central na taxa de câmbio.

Sérgio Vale, economista da MB Associados, destaca a performance dos investimentos estrangeiros em carteira, com desembolsos líquidos de 1,5 bilhão em dezembro, sendo 1,1 bilhão referentes a ingressos líquidos de investimento em ações e 363 milhões em títulos de renda fixa. "A bolsa de valores foi muito atrativa, por conta do risco-país em queda e empresas de fundamentos sólidos", diz Vale.

Reservas internacionais

Em dezembro, o Banco Central fez compras líquidas de 4 bilhões de dólares no mercado doméstico de câmbio . Neste mesmo mês, realizou uma de suas principais operações externas: a liquidação antecipada do financiamento junto ao FMI, no valor de 15,5 bilhões de dólares. O resultado foi um total de 53,8 bilhões de dólares em reservas internacionais em dezembro, com redução de 10,5 bilhões de dólares em relação ao mês anterior.

A dívida externa total estimada para outubro de 2005 (os dados são divulgados pelo BC com desfasagem de dois meses) totalizou 181 bilhões de dólares, uma redução de 1,7 bilhão de dólares em relação ao mês anterior. O endividamento externo de médio e longo prazos somou 165 bilhões de dólares, 2,1 bilhões menor que o de setembro. No curto prazo, foi de US$16,8 bilhões, um aumento de 397 milhões de dólares.

Perspectivas para 2006

O último relatório de mercado do Banco Central aponta que o saldo em transações correntes não deve ser tão alto neste ano. As instituições financeiras consultadas esperam um superávit de 8 bilhões de dólares. Um dos fatores que deverá reduzir o resultado são os investimentos estrangeiros. Segundo Silveira, da Global Invest, não há indicadores substanciais de que a entrada de recursos externos seja tão boa quanto em 2005, caso seja mantido o nível da taxa de juros. "O mundo cresce a taxas de 6% desde 2003. O Brasil cresceu 2% em 2005. Nesse patamar, não há como gerar investimentos", diz Silveira.

Já as reservas internacionais deverão chegar ao final de 2006 em 62,3 bilhões de dólares, aumento de 10 bilhões de dólares em relação a 2005, segundo projeções da MB Associados. Para Sérgio Vale, o Banco Central deverá manter a política de compra de dólares como instrumento de regulação do câmbio, o que servirá para ampliar as reservas, ao lado do superávit comercial.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

Inflação de agosto desacelera e fica em -0,02%; IPCA acumulado de 12 meses cai para 4,24%

Por que o cenário de deflação na China vem preocupando o mercado?

Câmara aprova urgência para analisar renegociação da dívida dos estados

Câmara aprova urgência para projeto que define compensação à desoneração da folha