Economia

Morgan Stanley: "Não há mágica para o crescimento"

Enquanto o mercado estima alta do PIB de 2,2% em 2020, o Morgan estima 1,7%.

Análise: agenda macroeconômica está correta e o País tem a maior agenda de privatizações do mundo, o que cria a perspectiva atraente. (Mario Tama/Getty Images)

Análise: agenda macroeconômica está correta e o País tem a maior agenda de privatizações do mundo, o que cria a perspectiva atraente. (Mario Tama/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 10 de outubro de 2019 às 12h41.

Um dos maiores bancos de investimentos do mundo, o Morgan Stanley tem perspectiva de crescimento do Brasil inferior a de seus concorrentes. Enquanto o mercado estima alta do PIB de 2,2% em 2020, o Morgan estima 1,7%. Mesmo assim, Alessandro Zema, que está à frente da instituição no Brasil, enxerga boas perspectivas para o País. "Não existe solução mágica para o crescimento sustentável: ele é lento e gradual", diz. "Tentamos soluções mágicas no passado e todas falharam."

Para ele, a agenda macroeconômica está correta e o País tem a maior agenda de privatizações do mundo, o que cria a perspectiva atraente. Zema afirma, ainda, que os investidores estrangeiros não estão fugindo do Brasil. Pelo contrário: participaram de metade das emissões do mercado de capitais este ano, que movimentaram quase R$ 60 bilhões, e estão de olho em aquisições. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o sr. vê o desempenho da economia em 2019?

Estamos vendo o alinhamento da política monetária e fiscal, o que tem gerado resultados superpositivos. Taxa de juros baixas, inflação sob controle, percepção de risco país pequena. Dito isso, o crescimento virá de forma gradual. A gente já começa a ver os primeiros sinais, como sair de uma geração formal de 20 mil empregos por mês no início do ano, para 50 mil agora. Temos visto mais concessão de crédito e os índices de confiança do consumidor estão lentamente voltando. Há sinais de que esse crescimento está começando a voltar, mas não será exponencial. Não existe solução mágica para criar crescimento sustentado. O governo está na direção correta e teremos sinais mais auspiciosos daqui para frente.

Promissores mesmo com o cenário externo?

A gente não consegue ficar isolado das tensões internacionais, mas estamos vivendo um momento mais interessante de Brasil do que nos últimos anos. O Brasil está pouco presente em portfólios de mercados emergentes e temos um potencial de atratividade de recursos muito maior do ponto de vista macro. Vivemos no Brasil o programa de privatização mais ambicioso globalmente. O governo está dizendo que está saindo de 135 empresas estatais para 12, até 2022. Aliado a isso, há programas de concessões, leilões de pré-sal e cessão onerosa. Estamos falando de um volume de recursos, que pode chegar a R$ 1 trilhão vindo para o Brasil.

A chegada de recursos depende de aprovações de reformas?

À medida que se vai avançando nessa agenda - e ainda há muita coisa a ser feita -, maior a atratividade do Brasil para investidores de fora. Este ano, as empresas fizeram emissão de dívidas no exterior 44% maior que no ano passado, atingindo US$ 20,8 bilhões. As emissões de ações este ano também cresceram muito. Tivemos quase R$ 60 bilhões e vamos ver pelo menos mais R$ 30 bilhões em operações até o fim do ano. A normalidade da política macro andando em consonância com a política fiscal tem feito com que a atratividade do Brasil para os investidores tenha aumentado.

Mas os estrangeiros não vieram...

Queria desmistificar a ideia de que os investidores estrangeiros estejam saindo do Brasil. Segundo a B3, o fluxo de saída de recursos estrangeiros da Bolsa foi de R$ 22 bilhões. Mas dos R$ 58 bilhões em emissões feitos este ano, os estrangeiros ficaram com 50%. Teve a saída de R$ 22 bilhões e uma entrada de R$ 29 bilhões. Por outro lado, houve uma saída de mercados emergentes como um todo de US$ 35 bilhões. Do Brasil, saíram US$ 2,8 bilhões ou R$ 11 bilhões. Foram fundos passivos que saíram de mercados emergentes como um todo. Não é movimento de Brasil. Quando se incorpora o fluxo com emissões de ações, há um fluxo líquido de R$ 17,6 bilhões até agora no País. O investidor gringo está vindo e existe potencial de atrair mais.

Os discursos polêmicos do presidente Jair Bolsonaro não afugentam investidores?

Os investidores estão preocupados com assuntos macroeconômicos e a perspectiva de bons fundamentos para o Brasil não escapa de sua atenção. O que faria eles virem mais para o Brasil? Mais crescimento do PIB. Desta vez, há uma agenda muito clara do que tem sido feito e do que será feito. Ela vai ser lenta, gradual, mas vai ser sustentável, diferente de outras oportunidades do nosso passado recente, quando a gente teve um pico de crescimento e custou muito mais depois.

Quais benefícios da privatização, além dos recursos com a venda dessas empresas?

O que pouca gente fala é que, uma vez privatizadas, essas empresas vão se tornar mais eficientes, gerar mais resultados e pagar muitos mais impostos do que quando eram estatais. Não é só a monetização em si com a venda das estatais. Para o setor público, é um valor bem maior que o beneficio imediato da venda.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:Crescimento econômicoeconomia-brasileiraMorgan Stanley

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor