Gustavo Montezano: "O fato é que não foi encontrada nenhuma irregularidade" (Adriano Machado/Reuters)
Agência O Globo
Publicado em 29 de janeiro de 2020 às 11h07.
Última atualização em 29 de janeiro de 2020 às 11h56.
Brasília — O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, disse nesta quarta-feira (29) que auditoria para investigar contratos do banco com a empresa J&F — controladora da JBS — foi recomendada pelo auditor externo dos balanços financeiros da instituição, a consultoria KPMG. Em uma apresentação no Ministério da Economia, Montezano defendeu a contratação e disse que os dois aditivos foram sugeridos pelos técnicos do banco.
"Em setembro de 2017, o auditor das demonstrações financeiras do banco recomendou que o banco se protegesse através da contratação de uma investigação externa", disse Montezano. "A nossa função é recuperar a reputação do banco. Não estamos aqui para acusar ninguém. A nossa função é dar total transparência para qualquer cidadão que o BNDES não tem mais nada a esconder, pelo contrário".
Perguntado sobre se há ainda uma “caixa-preta” a ser aberta no BNDES, ele respondeu:
"A gente entende que, no momento atual, não há nada mais a esclarecer em relação a operações polêmicas do passado", declarou.
Segundo o presidente do BNDES, a auditoria custou R$ 42,7 milhões, somando os valores iniciais e os dois aditivos. O valor é diferente do que vinha sendo divulgado, de R$ 48 milhões, por conta da diferença da cotação do dólar. O BNDES considera o cotação da moeda americana em cada momento da contratação.
O serviço foi realizado pela consultoria Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLP, e pelo escritorios Protivi e Levy & Salomão. A KPMG e a Grant Thornton são os auditores independentes do BNDES. Foram eles que sugeriram a contratação da investigação. A KPMG e a Grant Thornton também fizeram a validação da investigação.
Montezano afirmou que a auditoria, contratada entre 2017 e 2018, mirava oito operações do banco com a J&F em montante atualizado de R$ 20,1 bilhões. A auditoria não encontrou irregularidades nas operações do BNDES com a J&F.
"Nada de ilegal foi encontrado no BNDES", disse o presidente do banco, acrescentando: "O fato é: não foram encontradas nenhuma ilegalidade nessas operações (com a J&F) e nem em outra operação do BNDES."
Para defender as decisões do banco, Montezano afirmou que a primeira decisão de contratar a auditoria foi tomada em 29 de janeiro de 2018, no valor de R$ 19,6 milhões. Depois, em 4 de fevereiro, o banco contratou o chamado shadow investigation, um auditor externo para validar a própria auditoria, pelo valor de R$ 3,7 milhões.
O aditivo foi assinado, disse ele, porque os dados analisados e as pessoas entrevistadas na investigação, subiu. Foram 100 mil documentos e 2,192 gigabyte a mais.
"O objetivo foi apurar qualquer evidência que violassem as leis anticorrupção nos EUA e no Brasil, com foco em corrupção, suborno e influência indevida", disse Montezano.
O primeiro aditivo foi firmado em novembro do mesmo ano.
"Ao decorrer da investigação, e isso é super comum, dada a complexidade do tema, o volume de trabalho foi bem superior ao inicialmente estimado. Foi necessário fazer uma extensão, foi o primeiro momento do aditamento da contratação inicial", afirmou o presidente do BNDES.
O segundo aditivo foi decidido em dois momentos. Em 2 julho de 2019, quando Montezano ainda não havia tomado posse, por R$ 11,9 milhões. Depois, em setembro, o contrato com os auditores independentes também foi renovado. O presidente do banco justificou a renovação pelo aumento do escopo do trabalho, por conta das denúncias da operação Bullish, e da CPI do BNDES.
"Em fevereiro de 2019, surgiu a denúncia da Bullish. Um mês depois, em março de 2019, foi instaurada a CPI do BNDES. Dentro desse contexto, surgiram informações adicionais que impactam a investigação", afirmou.
Montezano afirmou que o corpo técnico do banco concordou com a investigação e os aditivos:
"O time jurídico do BNDES relatou que isso fosse feito".
O TCU deu 20 dias para o BNDES prestar esclarecimentos sobre a auditoria. Na segunda-feira, a cúpula do banco passou o dia em Brasília, em reuniões no TCU e no Ministério da Economia, para dar explicações.
Na terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro disse que pareceu “que alguém quis raspar o tacho” por conta dos aditivos.
"Eu entendi que ele quis dizer que parecia que alguém queria gastar todo o dinheiro na investigação. A gente provou aqui que não foi o caso", disse Montezano.
Os escritórios foram contratados porque eles já prestavam serviços para o BNDES, num contrato que o banco chama da “guarda-chuva”. Eles foram escolhidos em uma licitação aberta em 2014, e não especificamente para esse fim.
O diretor de Compliance do BNDES, Claudemir Pereira, disse que novas investigações podem ser contratadas, desde que isso seja necessário, mas não há auditoria em curso atualmente:
—"Uma decisão como essa envolve uma série de fatores. Precisamos avaliar se o custo de uma eventual futura contratação e os benefícios que ela traria. Não há nem uma investigação em curso atualmente", afirmou.