Economia

Moeda argentina sofre maior desvalorização em 12 anos

O governo da presidente Cristina Kirchner impulsiona a depreciação monetária diante das pressões de grandes corporações econômicas

Cristina Kirchner ao lado de chefe de gabinete e Ministro da Economia: a presidente ressurgiu nesta quarta pela primeira vez em mais de um mês em ato público (AFP)

Cristina Kirchner ao lado de chefe de gabinete e Ministro da Economia: a presidente ressurgiu nesta quarta pela primeira vez em mais de um mês em ato público (AFP)

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Da Redação

Publicado em 23 de janeiro de 2014 às 18h12.

A moeda argentina sofreu nesta quarta-feira a maior desvalorização em um único dia desde 2002 e acumula uma queda de 8,43% no ano, em uma agitada jornada financeira marcada por um ambiente de incerteza.

O governo da presidente Cristina Kirchner impulsiona a depreciação monetária diante das pressões de grandes corporações econômicas, que observam uma perda de competitividade de seus produtos perante uma inflação anual de 28%, de acordo com consultoras privadas.

Segundo os analistas, a terceira economia da América Latina precisa recuperar a confiança da comunidade internacional e decidiu frear a sangria de reservas monetárias com medidas draconianas, como proibir a venda de dólares para poupança, limitar as importações e por um tributo de 35% ao turismo no exterior.

A última decisão, adotada nesta quarta-feira, foi aumentar os controles e restrições às compras pela internet ao exterior, um mercado que movimenta 350 milhões de dólares anuais, e sobre o qual pesa um encargo de 50% sobre compras superiores aos 25 dólares.

A presidente Kirchner ressurgiu nesta quarta-feira pela primeira vez em mais de um mês em ato público e durante sua intervenção, transmitida por cadeia nacional, omitiu fazer referência a estes temas.

"Este ano a desvalorização vai superar a inflação. O problema é que só com a desvalorização não se corrigem falhas da macroeconomia", disse à AFP o economista chefe da consultora Econométrica, Ramiro Castiñeira.

Mas na Argentina não se observa ainda um cenário de crise como em 2001, quando entrou na maior cessação de pagamentos contemporânea, com uma recessão brutal, desemprego e pobreza estimada em 57%, já que o entorno regional e internacional não é o mesmo.

A economia argentina agora conserva alta dinâmica de consumo, baixo desemprego, desendividamento e subsídios que atenuam a pobreza.


Se a tendência continuar, as finanças cambaleiam

A incerteza cambiária fez cair as reservas monetárias de 42 a 30 bilhões de dólares em 2013 e situá-las agora em 29,5 bilhões de dólares, nível que tinham em 2006.

Os analistas consideram que se a tendência de perda de divisas continuar, a Argentina poderia ter problemas para honrar a dívida e as importações de energia, com um cenário de crises no setor externo (divisas).

"O tipo de câmbio ficou atrasado. O dólar oficial é um dos bens mais baratos do país. Tudo subia menos o dólar e em algum momento, isto aconteceria. Era previsível", disse Castiñeira ao falar da desvalorização em curso.

Surpreendentemente, o Banco Central, que administra o tipo de câmbio oficial em coordenação com o governo, deixou fluir o mercado na quarta-feira, sem intervir com compras ou vendas, o que disparou o preço da moeda americana após uma forte demanda.

As tabelas oficiais mostraram um valor do dólar que rompeu a barreira dos 7 pesos, a 7,12 pesos, com um nível de depreciação em um dia que não se registrava desde 18 de abril de 2002, em plena sequência do colapso econômico de 2001.

Mas "por enquanto a Argentina tem um melhor perfil de vencimentos da dívida que nações da Europa. E o nível de reservas ainda previne qualquer ataque especulativo", disse à AFP Pablo Tigani, diretor da consultoria Hacer.

Mais entraves na saída de dólares

Nas últimas 48 horas, a Argentina impôs novos entraves e restrições às compras varejistas no exterior pela internet.

O governo limitou na quarta-feira a duas vezes por ano a possibilidade de comprar no exterior pela web, sem pagar impostos, artigos que custem até 25 dólares.

"A medida será impopular. Aqueles que colocarem uma nova pedra no caminho para desanimar as pessoas. Pra mim, dá igual. Chegam milhares de pacotes no correio e não vai poder controlá-los todos", comentou à AFP Miguel Ramírez, um médico de 55 anos.

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