Carlos Urzúa: em sua carta de demissão, o ex-ministro disse, entre outras coisas, que achou "inaceitável impor funcionários que não têm conhecimento" do setor (Carlos Jasso/Reuters)
AFP
Publicado em 9 de julho de 2019 às 16h23.
Última atualização em 10 de julho de 2019 às 16h49.
Alegando discrepâncias econômicas e uma ingerência "inaceitável" do governo, o ministro da Fazenda do México renunciou nesta terça-feira, gerando incerteza entre investidores e mercados, que vislumbram um relaxamento na disciplina fiscal prometida pelo esquerdista Andrés Manuel López Obrador.
Carlos Urzúa, respeitado acadêmico de 64 anos, detalhou em sua carta de demissão, divulgada em sua conta no Twitter, que teve muitas discordâncias econômicas com o governo de López Obrador porque "decisões de política pública foram tomadas sem sustento suficiente".
O ex-ministro também afirmou ter achado "inaceitável impor funcionários que não têm conhecimento" do setor.
"Isso foi motivado por personagens influentes do atual governo com um conflito de interesses patente", disse ele sem dar nomes.
López Obrador aceitou a renúncia de Urzúa e em seu lugar nomeou Arturo Herrera, que estava trabalhando como subsecretário de Finanças. "Ele (Urzúa) não está feliz com as decisões que estamos tomando e estamos comprometidos em mudar a política econômica que foi imposta por 36 anos", disse López Obrador en um vídeo.
"Aceito a renúncia do secretário do Tesouro, a quem agradeço por seu apoio e respeito. (...) decidi nomear Arturo Herrera Gutiérrez", acrescentou.
Fue todo un placer haber servido a México como Secretario de Hacienda, muchas gracias por sus mensajes. Ahora a disfrutar de mi familia.
— Carlos Urzúa (@CarlosUrzuaSHCP) July 10, 2019
Especialistas interpretaram a carta de Urzúa apontando que alguns membros do governo López Obrador estão buscando uma política fiscal mais flexível, ou seja, maior gasto público.
"A economia enfraqueceu no primeiro semestre do ano, e a política fiscal permaneceu restrita", disse a firma britânica Capital Economics em relatório a seus clientes. "Com Urzúa agora fora do caminho, isso pode abrir o caminho para um relaxamento na política fiscal", acrescentou.
Empresários lamentaram a renúncia de Urzúa e disseram estar preocupados com as discrepâncias no governo que o ex-funcionário exibiu hoje.
"Recebemos com preocupação a sua denúncia sobre as discrepâncias gritantes que agora sabemos que existem dentro do governo para a tomada de decisão sobre questões macroeconômicas, e especialmente sua denúncia sobre a adoção das mesmas sem método ou sustentação", disse em uma carta Gustavo de Hoyos, presidente da influente Confederação dos Empregadores da República Mexicana (Coparmex).
Apesar disso, alguns especialistas confiam nas habilidades profissionais do novo secretário Herrera. "A rápida nomeação de Arturo Herrera, que tem uma vasta experiência técnica e visão da política econômica do novo governo, envia um sinal de confiança para o público e, em particular, aos mercados", disse à AFP Gabriel Casillas, vice-diretor de análise econômica do banco Banorte.
Após o anúncio de Urzúa, o peso mexicano caiu 1,8%, o equivalente a 37 centavos, a 19,27 por dólar no mercado de câmbio.