Economia

Mercado não está preocupado com Meirelles, diz Maílson da Nóbrega

Para o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, sócio da Tendências Consultoria, as denúncias contra o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não afetarão o humor do mercado. Segundo Maílson, mesmo na hipótese de que Meirelles deixe seu cargo, o mercado ainda aposta na continuidade da política econômica do governo Lula. "A política econômica é […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h53.

Para o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, sócio da Tendências Consultoria, as denúncias contra o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não afetarão o humor do mercado. Segundo Maílson, mesmo na hipótese de que Meirelles deixe seu cargo, o mercado ainda aposta na continuidade da política econômica do governo Lula. "A política econômica é cada vez mais percebida como uma política da cúpula do governo", afirma. Leia, a seguir, a entrevista concedida ao Portal EXAME.

Portal EXAME - Na sua opinião, qual é a origem das denúncias contra o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles?

Maílson da Nóbrega - Há muita especulação sobre a origem. Mas, pela maneira sistemática com que são feitas, tudo leva a crer que são orquestradas por algum grupo descontente com os rumos do governo Lula.

Portal EXAME - Quem seria esse grupo, se a economia dá sinais de retomada?

Maílson da Nóbrega - Aqueles que acreditam que Lula se vendeu ao FMI, que se tornou neoliberal, que traiu os ideais de seu partido. Para eles, o Meirelles incorpora o capeta, porque é rico, bem sucedido, trabalhou em um banco internacional. E, pior, sua política monetária está dando certo.

Portal EXAME - Se isto é verdade, por que as denúncias não surgiram antes? Todo presidente do Banco Central é sabatinado pelo Congresso.

Maílson da Nóbrega - Provavelmente, porque eles não tinham essas informações antes. Se tivessem, tentariam abatê-lo antes.

Portal EXAME - Para o senhor, como o mercado está recebendo as denúncias contra Meirelles?

Maílson da Nóbrega - Acho que o mercado não está preocupado com isso. É claro que houve um susto quando o portal da Veja divulgou as primeiras denúncias, mas hoje (6/8) o mercado já operou mais tranqüilo. O Meirelles tem apresentado explicações muito plausíveis e está conseguindo justificar bem suas atitudes. Mesmo que ele não consiga justificar algum de seus atos e isso implique sua saída, a percepção do mercado é de que isso não alteraria a política econômica do governo.

Portal EXAME - Por quê?

Maílson da Nóbrega - Porque a política econômica é cada vez mais percebida como uma política de cúpula de governo, sustentada pelo núcleo duro da equipe do presidente Lula. Não é uma política apenas do (ministro da Fazenda Antonio) Palocci. Além disso, mesmo que o Meirelles deixe o governo, há oferta de pessoas qualificadas para ocupar o posto. No começo do governo Lula, havia muita resistência a se aceitar o cargo, porque achava-se que o presidente iria adotar uma política econômica radical, que queimaria o presidente do Banco Central. Mas hoje é diferente. Enfim, quando se faz uma análise serena da situação, percebe-se que não há risco de ruptura econômica.

Portal EXAME - O ministro Palocci declarou que, desde o ano passado, o governo faz uma experiência de autonomia do Banco Central. Neste sentido, Meirelles não seria o representante desta política, já que, em tese, tem autonomia para decidir a política monetária?

Maílson da Nóbrega - Não. A autonomia do Banco Central vem sendo construída há muito tempo. Ela passou pelas reformas do país nos anos 80, pela estabilidade econômica, pela preparação da equipe do banco, pelo seu arcabouço institucional. O que o governo Lula fez foi se curvar à essa realidade. O núcleo duro foi o primeiro a percebê-la e se dispôs a segurar os torpedos que foram disparados.

Portal EXAME - Então, a saída do Meirelles não altera nada?

Maílson da Nóbrega - O Meirelles não é o comandante, nem o símbolo, da autonomia do Banco Central. Ele apenas se beneficiou da situação que foi construída nos últimos anos para desempenhar bem suas funções. E tudo indica que a autonomia será formalizada após as eleições, em 2005.

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