Economia brasileira: Prévia do PIB, mostrou recuo de 0,68% entre janeiro a março de 2019. Foto: Ingo Roesler / Getty Images (Ingo Roesler/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de setembro de 2021 às 10h19.
A piora do quadro econômico, com aumento da inflação e um risco político elevado, tem feito economistas de instituições financeiras reduzirem as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano e o ano que vem.
Após o resultado abaixo do esperado do PIB do segundo trimestre, o Itaú Unibanco reduziu nesta terça-feira sua expectativa de crescimento da atividade em 2021, de 5,7% para 5,3%. Diante do cenário de juros mais elevado, o banco também diminuiu a projeção para 2022, de 1,5% para 0,5%.
O Itaú avalia que o risco fiscal tem aumentado com a perspectiva de aumento de gastos públicos e, se o materializado, traria efeitos negativos para a economia. O banco observa que o crescimento inesperado dos gastos com precatórios dificulta os planos de conciliar um aumento do Bolsa Família e a manutenção da âncora fiscal no País.
Em relatório publicado nesta terça, o Itaú Unibanco também elevou suas projeções da taxa Selic -- a taxa de juros básica do País -- no fim de 2021, de 7,5% para 8,25%, e de 2022, de 7,5% para 9,0%, devido ao cenário de inflação mais pressionado. O banco também elevou sua projeção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano, de 7,70% para 8,40%, e do próximo, de 3,90% para 4,20%. O indicador mede a inflação oficial do País.
"A situação hídrica gera pressão adicional sobre a inflação corrente, via aumento das contas de luz, e também sobre a dinâmica de preços do ano que vem, através da inércia resultante de um IPCA mais elevado e do risco de novas medidas que visem à redução do consumo de eletricidade. Adicionalmente, as dúvidas sobre a trajetória das contas públicas, em especial no que diz respeito ao cumprimento do teto de gastos em 2022, resultam em pressão mais duradoura sobre a taxa de câmbio, que deve apreciar um pouco menos do que esperávamos anteriormente", escreve o economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, em relatório.
O banco espera três aumentos de 1 ponto porcentual da Selic, de setembro a dezembro, e uma última alta de 0,75 ponto no início de 2022.
A deterioração das perspectivas para a inflação piorou o quadro econômico e causou uma série de revisões no cenário também do banco BV (ex-Banco Votorantim). A projeção para o IPCA saltou de 7,7% para 8,2% em 2021 e de 3,6% para 3,8% em 2022. A estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, por sua vez, recuou de 1,8% para 1,5%.
"Tínhamos a visão de que o dólar e as matérias-primas geravam choques temporários, mas mudamos a leitura a partir dos dados recentes de inflação", afirma o economista-chefe do BV, Roberto Padovani. "A inflação de serviços acelerou pela reabertura, mas a de bens industriais continuou pressionada. Esse acúmulo de choques jogou o IPCA em um patamar próximo de 10%, e o nível importa."
A inflação acumulada no patamar atual, segundo Padovani, reforça os reajustes de contratos e gera uma inércia que contamina as expectativas para 2022 e 2023. Como a deterioração inflacionária deve exigir mais do Banco Central (BC), o BV elevou de 7,5% para 9,0% a projeção da Selic no fim do ciclo. A taxa de juros deve chegar a 8,5% no fim deste ano e atingir o patamar estimado na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 2022.
"O BC vai ter que subir os juros até 9,0%. O ritmo ele escolhe. Esse aperto monetário vai ser reforçado por uma piora nas condições financeiras, que nos fez mudar o cenário de crescimento em 2022 [de 1,8% para 1,5%]", afirma o economista.
Mesmo com a reação da política monetária para conter o avanço dos preços, Padovani prevê dificuldades no processo de desinflação em 2022. Apesar de a alta dos juros moderar variações cambiais, deve haver um aumento do risco nos mercados emergentes e também no mercado local, em função do ciclo eleitoral. Além disso, a expectativa é de manutenção dos desequilíbrios entre oferta e demanda, principalmente no setor industrial, ainda afetado pelos problemas na cadeia global.
A crise hídrica, por sua vez, segue no radar. Com a tendência de continuidade do fenômeno La Niña, a previsão é de menos chuvas no período propício a elas, algo que implica em uso das termelétricas por mais tempo. "Isso impede uma deflação na energia elétrica. Na melhor das hipóteses, os preços vão ficar onde estão", projeta o economista.