Mercado ainda pode reagir como se BC não tivesse atuado

São Paulo, 15 de outubro (Portal EXAME) Acaba amanhã o prazo dado pelo Banco Central para as instituições financeiras se adaptarem às novas regras do mercado de câmbio, anunciadas na semana passada. Até lá, o mercado terá mais dois dias de tensão, pressionado ainda pela dívida que vence na quinta-feira (17/10) e, acreditam alguns analistas, pela pesquisa eleitoral do Ibope que será divulgada hoje (15/10) à noite.

O vencimento da dívida vai desviar o comportamento do mercado, que já poderia sentir os efeitos das medidas do BC nos primeiros dias desta semana. Os títulos da dívida pública interna são pagos em reais, mas corrigidos em dólar. Vale a taxa do câmbio (Ptax) do dia anterior ao do vencimento, ou seja, de quarta-feira. Por isso a pressão: quanto maior o valor do dólar em relação ao real, mais ganham os credores do governo. O valor da dívida em reais é de 7,2 milhões e o BC conseguiu rolar mais da metade disso.

Hoje a rolagem continua. O banco tentará vender contratos cambiais que vencem em dezembro de 2002 para tentar rolar mais uma parcela da dívida. Do total rolado até agora, cerca de 30% teve o vencimento adiado para 1º/11 quando o mercado já conhecerá o novo presidente do Brasil.

As eleições presidenciais, que pareciam ter ficado em segundo plano, ofuscadas pela inflação e taxa de juros, volta à cena hoje. O Ibope divulga sua primeira pesquisa de intenção de voto para o segundo turno, provavelmente à noite. O Vox Populi e o Datafolha mostraram seus números no final de semana que foram esquecidos pelo mercado com a confusão criada pela reunião extraordinária do Comitê de Política Monetária (Copom) de ontem. Nas duas pesquisas, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, do PT aparece bem na frente de José Serra, da coligação PMDB/PSDB. O Datafolha registrou 26 pontos a mais e o Vox Populi, 20.

Além disso, o mercado ainda terá de lidar hoje com os efeitos do aumento da taxa de juros. O clima de surpresa de ontem deve ser substituído pelo de decepção com o BC. Às vésperas do segundo turno das eleições, o Comitê de Política Monetária (Copom) privilegiou a questão técnica na gestão da política monetária e não a variável política, o

que até é desejável e coerente para uma autoridade monetária independente. Mas o Copom merece críticas por não ter dado tempo para que as medidas adotadas na última sexta-feira surtissem efeito e ajudassem a reduzir a alta do dólar, o que acontecerá só depois de amanhã , afirmam os analistas do Lloyds TSB.

Na opinião do Lloyds, a decisão do Copom, combinada com as medidas de restrição monetária adotadas na semana passada, reforça a percepção de que as vendas de

Natal devem ficar aquém das expectativas atuais, que já não eram das melhores. A eficácia das medidas que reduziram o volume de dinheiro do mercado vai depender do tempo em que for mantida a maior austeridade monetária. O resultado do PIB para este e para o próximo ano, portanto, pode ser um pouco mais prejudicado, assim como a evolução da dívida pública, que sofrerá o impacto de juros maiores. Por outro lado, a balança comercial e as contas correntes devem ser ainda mais beneficiadas.

Indicadores

O Tesouro Nacional ofertará 500 milhões em títulos pós-fixados (LFTs, ou Letras Finaceiras do Tesouro) de curto prazo. Os vencimentos serão em 18/12 de 2002 e 22/01 de 2003.

O IBGE divulgará pesquisa mensal do comércio referente ao mês de agosto. A expectativa é de continuidade da recuperação gradual verificada no comércio varejista nos meses anteriores.

Na Bolsa de Valores de São Paulo serão divulgados oficialmente dados sobre investimentos estrangeiros na Bolsa este ano que deve ser positivo em mais de 10 milhões de reais, segundo expectativa de alguns analistas.

Nos Estados Unidos acontece aa retomada dos negócios de títulos da dívida brasileira e que devem refletir a decisão do BC sobre a taxa básica de juros. Ontem foi feriado (comemorativo ao descobrimento da América) e este mercado não funcionou.

Também nos EUA serão divulgados os dados sobre estoque das empresas no mês de agosto e o RedBook, que mede o volume de vendas no varejo.