Economia

"Medo Trump" paralisa indústrias na fronteira entre México e EUA

Trump anunciou que criará um imposto de 35% na fronteira com o México, uma tarifa até agora inexistente

México: melhor exemplo da tensão é Ciudad Juárez, que faz fronteira com El Paso, no Texas (Getty Images/Getty Images)

México: melhor exemplo da tensão é Ciudad Juárez, que faz fronteira com El Paso, no Texas (Getty Images/Getty Images)

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EFE

Publicado em 20 de janeiro de 2017 às 12h30.

Ciudad Juárez - As indústrias da fronteira do México com os Estados Unidos estão vivendo uma "paralisação virtual" diante da chegada de Donald Trump ao poder, com investimentos bloqueados até segunda ordem e milhares de trabalhadores temendo a incerteza sobre o futuro de seus empregos.

O melhor exemplo da tensão é Ciudad Juárez, que faz fronteira com El Paso, no Texas, um símbolo das chamadas "maquiladoras", indústrias que importam matérias-primas sem impostos e que produzem partes ou peças de um produto para o fabricante original, no caso as companhias americanas. A primeira fábrica do tipo se instalou na região há quase 50 anos, em 1968.

A incerteza gera dúvida para uma indústria que representa mais de 60% da economia da cidade. Diretores e funcionários já fazem planos de contingência para depois da posse de Trump.

Manuel Ochoa, vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da Tecma, está há 20 anos atraindo investimentos estrangeiros para a cidade e diz que nunca viu um cenário igual ao dos últimos meses.

"A situação é de incerteza, de dúvida, pelo que Trump pode chegar a fazer. Isso fez com que as decisões quanto a investimentos sejam feitas com maior cautela", disse Ochoa à Agência Efe.

O executivo disse que os investimentos estão paralisados até "novo aviso" em Ciudad Juárez, que fica no estado de Chihuahua, região do país que tem 300 mil empregados na indústria maquiladora, segundo dados oficiais.

"Tudo agora é especulação, ainda não sabemos se as ideias deste senhor serão colocadas em prática ou não. Esperamos que isso em breve seja resolvido", completou Ochoa.

Trump anunciou que criará um imposto de 35% na fronteira com o México, uma tarifa até agora inexistente graças ao Tratado de Livre-Comércio da América do Norte, que ele exige renegociar, para empresas norte-americanas que desloquem suas operações para o México para importar de volta sua produção posteriormente.

A presidente da Associação de Indústrias Maquiladoras de Ciudad Juárez, María Teresa Delgado Zarate, disse que, ao contrário de outros anos, não houve até o momento anúncio de ampliação ou expansão da entrada de capital na cidade, famosa também pela insegurança e os homicídios de mulheres.

"Não sabemos se as empresas vão embora ou ficam. Algumas maquiladoras têm seus próprios planos, mas estamos esperando o dia 20 de janeiro, quando Trump assume a presidência, para termos certeza do que vai ocorrer", avaliou María Teresa.

As fábricas mantêm seus anúncios de vagas abertas, mas dentro das empresas as conversas entre os operários refletem o pânico generalizado de perder o emprego em um futuro próximo.

"Os chefes não nos disseram nada, mas ouvimos por aí que as maquiladoras podem fechar e que iremos para rua. O que iremos fazer?", afirmou à Efe uma mulher que trabalha em uma das fábricas voltadas para a exportação em Ciudad Juárez.

Atualmente, as mais de 320 maquiladoras instaladas no município empregam mais de 250 homens e mulheres, um sexto da população total.

Após as pressões de Trump, a Ford anunciou no início de 2017 o cancelamento de um investimento de US$ 1,6 bilhão em uma fábrica em San Luis Potosí, no centro-norte do México, para destinar o dinheiro para Michigan, nos EUA, um precedente ruim para Ciudad Juárez.

O diretor de Desenvolvimento Econômico do Norte, Héctor Núñez Polando, que fornece soluções às fábricas estrangeiras na região, disse que o ambiente de incerteza afeta só o investimento já feito, não os que já foram realizados em Ciudad Juárez.

"Os efeitos seriam no novo, no crescimento. O que já está estabelecido é muito difícil de ser retirado", disse Núñez.

No entanto, como todos em Ciudad Juárez e em boa parte do México, Núñez reconhece que só resta esperar.

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