Manter agenda social é grande desafio da América Latina
Diante de um quadro de crescimento baixo, o grande desafio dos governos da América Latina é manter a agenda social, diante de uma população muito mais exigente
Da Redação
Publicado em 21 de janeiro de 2015 às 18h16.
Davos - Terminado o superciclo das commodities, "a festa acabou" na América Latina , onde os governos se defrontam com uma população muito mais exigente, segundo economistas e dirigentes da região reunidos esta quarta-feira em Davos .
"Viemos de um boom de consumo. Em nível social houve quase um milagre no Brasil, com tanta gente saindo da pobreza. O povo consome mais, e os governos dizem agora que haverá menos o que consumir. Alguns países farão isso melhor, e outros se perderão tentando encontrar o equilíbrio", disse no Fórum Econômico Mundial o analista venezuelano Moisés Naím.
"A festa da década terminou, isso está claro. Uma das razões é que os países da América Latina dependem muito das matérias-primas, e isso é um problema", afirmou Mario Blejer, ex-presidente do Banco Central argentino e agora vice-presidente do Banco Hipotecário.
O debate coincidiu com o corte drástico na previsão de crescimento do Fundo Monetário Internacional para a região este ano, que é agora de 1,3%. No caso da Venezuela, a instituição de Washington espera um recuo de 7%.
Moisés Naím, autor do ensaio "O fim do poder", disse que o superciclo das matérias-primas alimentou em alguns países um "superciclo político, caracterizado pelo populismo".
"Penso no meu país, Venezuela, e na Argentina. O resultado é um sofrimento humano inimaginável, e não sabemos quanto durará", disse Naím.
Depois de uma década de avanços sociais, os governos da região precisam manter uma agenda social que reduza as desigualdades, mas com um crescimento baixo e com matérias-primas que já não permitem financiar de modo tão generoso esses programas.
"Uma coisa ficou clara nas manifestações do Brasil: as pessoas estão cansadas de má gestão e ineficiência. Agora há muito mais pressão", disse Roberto Setubal, presidente do banco Itaú.
Para o secretário mexicano da Economia, Ildefonso Guajardo, a saída para o impasse está em uma maior integração comercial.
O secretário ressaltou o papel da Aliança do Pacífico, formada por México, Colômbia, Peru e Chile, mas lembrou que "a América Latina, sem Brasil e Argentina, não está completa. É preciso liberalizar a forma como comercializamos uns com os outros, facilitando os trâmites de aduanas", por exemplo.
Para Mario Blejer, a receita da recuperação inclui investir e diversificar a economia, e uma revisão profunda do papel dos governos.
"Não é verdade isso de que quanto menos governo, melhor. A verdade é que quanto melhor for o governo, melhor. Porque quem vai financiar a infraestrutura?", questionou Blejer.
Um membro da plateia sugeriu que os governantes devem se preocupar com o desenvolvimento tecnológico e valorizar a imaginação e a ambição, ao que Moisés Naím reagiu energicamente.
"É preciso definir quem e como é ambicioso. Cristina Kirchner, Lula, Dilma Rousseff te dirão que representam o país. Isso não tem precedentes. E olhem onde estamos. Tenhamos cuidado com quem define o que é a ambição", opinou.
Davos - Terminado o superciclo das commodities, "a festa acabou" na América Latina , onde os governos se defrontam com uma população muito mais exigente, segundo economistas e dirigentes da região reunidos esta quarta-feira em Davos .
"Viemos de um boom de consumo. Em nível social houve quase um milagre no Brasil, com tanta gente saindo da pobreza. O povo consome mais, e os governos dizem agora que haverá menos o que consumir. Alguns países farão isso melhor, e outros se perderão tentando encontrar o equilíbrio", disse no Fórum Econômico Mundial o analista venezuelano Moisés Naím.
"A festa da década terminou, isso está claro. Uma das razões é que os países da América Latina dependem muito das matérias-primas, e isso é um problema", afirmou Mario Blejer, ex-presidente do Banco Central argentino e agora vice-presidente do Banco Hipotecário.
O debate coincidiu com o corte drástico na previsão de crescimento do Fundo Monetário Internacional para a região este ano, que é agora de 1,3%. No caso da Venezuela, a instituição de Washington espera um recuo de 7%.
Moisés Naím, autor do ensaio "O fim do poder", disse que o superciclo das matérias-primas alimentou em alguns países um "superciclo político, caracterizado pelo populismo".
"Penso no meu país, Venezuela, e na Argentina. O resultado é um sofrimento humano inimaginável, e não sabemos quanto durará", disse Naím.
Depois de uma década de avanços sociais, os governos da região precisam manter uma agenda social que reduza as desigualdades, mas com um crescimento baixo e com matérias-primas que já não permitem financiar de modo tão generoso esses programas.
"Uma coisa ficou clara nas manifestações do Brasil: as pessoas estão cansadas de má gestão e ineficiência. Agora há muito mais pressão", disse Roberto Setubal, presidente do banco Itaú.
Para o secretário mexicano da Economia, Ildefonso Guajardo, a saída para o impasse está em uma maior integração comercial.
O secretário ressaltou o papel da Aliança do Pacífico, formada por México, Colômbia, Peru e Chile, mas lembrou que "a América Latina, sem Brasil e Argentina, não está completa. É preciso liberalizar a forma como comercializamos uns com os outros, facilitando os trâmites de aduanas", por exemplo.
Para Mario Blejer, a receita da recuperação inclui investir e diversificar a economia, e uma revisão profunda do papel dos governos.
"Não é verdade isso de que quanto menos governo, melhor. A verdade é que quanto melhor for o governo, melhor. Porque quem vai financiar a infraestrutura?", questionou Blejer.
Um membro da plateia sugeriu que os governantes devem se preocupar com o desenvolvimento tecnológico e valorizar a imaginação e a ambição, ao que Moisés Naím reagiu energicamente.
"É preciso definir quem e como é ambicioso. Cristina Kirchner, Lula, Dilma Rousseff te dirão que representam o país. Isso não tem precedentes. E olhem onde estamos. Tenhamos cuidado com quem define o que é a ambição", opinou.