Economia

Lamy diz que Brasil é 'ofensivo', mas todos terão de fazer concessões

Durante encontro na sede da Fiesp, o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, Pascal Lamy, disse que as propostas feitas pelos países, até o momento, são insuficientes

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h57.

Brasil, Estados Unidos e União Européia têm até o final de abril para definirem suas divergências no comércio internacional. Caso contrário, a Rodada Doha - cujo prazo termina no final do ano - estará praticamente fadada ao fracasso. "As propostas que estão na mesa não são suficientes", disse o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy. Ele se reunião na manha desta sexta-feira (31/3) com líderes empresariais e representantes do setor agrícola, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

"Não estou aqui para negociar, e nem posso fazer isso. Sou um ativista e o que eu posso dizer é que as três partes têm um longo caminho a percorrer", disse Lamy. Entre os que participaram da reunião estavam o presidente da Fiesp, Paulo Skaf; o economista Roberto Gianetti da Fonseca; e o especialista em negociações internacionais, Marcos Jank, do instituto Ícone.

Durante o encontro, os brasileiros enfatizaram as discrepâncias do comércio agrícola internacional, que segundo eles afetam o Brasil de forma ainda mais intensa. Isso porque a pauta de exportações brasileira é repleta de "produtos sensíveis", ou seja, aqueles que são altamente protegidos no comércio internacional. O açúcar e o algodão são os principais.

"O Brasil já ganhou disputas no âmbito da OMC com relação a esses produtos, mas nada foi feito até o momento. O país precisa ter coragem para aplicar sanções. O próprio Lamy acha que o Brasil deveria ser mais duro", disse Gianetti da Fonseca, que é diretor para assuntos internacionais da Fiesp.

Fase delicada

Cerca de 25 itens precisam ser discutidos durante a Rodada Doha, mas três deles - tarifas agrícolas e industriais e subsídios agrícolas - são, de longe, os mais críticos. Desse tripé depende o restante das negociações e é por isso que Brasil, Estados Unidos e União Européia, principais atores nesses três assuntos, terão de se esforçar para chegarem a um acordo até o fim do mês.

Tanto a União Européia como os Estados Unidos já apresentaram suas propostas, mas segundo especialistas brasileiros estão muito aquém do esperado. A União Européia, por exemplo, propôs um corte médio de 50% nas suas tarifas agrícolas, mas nos produtos sensíveis, o corte seria de apenas 20%. "Cortar 20% de 200% é como cortar água. Não significa nada", diz Gianetti.

Lamy admite que negociações "cruzadas" - envolvendo demandas em agricultura em troca de concessões na indústria - são complicadas, mas que o Brasil, de uma forma geral, tem sido mais ofensivo do que defensivo em suas propostas. Segundo ele, a questão não é mais quando ceder, e sim quanto.

Indústria defensiva

Enquanto os dirigentes brasileiros reclamam das injustiças no comércio agrícola internacional, os parceiros comerciais do país, por sua vez, exigem uma maior abertura para que seus produtos industrializados entrem no Brasil. A Fiesp nega o título de protecionista. "Somos competitivos, podemos competir com a indústria estrangeira. Mas é preciso lembrar que temos problemas conjunturais, como os juros altos, a burocracia, que aumenta nossos custos", disse o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.

Alguns dos participantes da reunião de hoje disseram que o Brasil, de forma alguma, deve dar o primeiro passo. "O Brasil tem sido leniente demais no comércio internacional. "As negociações multilaterais são importantes, mas é preciso estar atento ao que se tem em troca", disse um deles.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

s Amazon consegue liminar para manter venda de celular irregular. Anatel diz que vai recorrer

Salário mínimo 2025: quanto será? Veja previsão

Reforma tributária: compra de imóveis e serviços de construção terão redução de 40% na alíquota

Ministro da Previdência vai fazer 'pente-fino' em mais de 800 benefícios temporários

Mais na Exame