Economia

José Dirceu tenta acalmar empresários, depois de alta dos juros

Chefe da Casa Civil faz visitas não agendadas à Fiesp e à Abdib "para falar de crescimento". O principal obstáculo à economia, segundo o ministro, não são os juros altos, mas as deficiências em infra-estrutura

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h38.

Em uma tentativa de conter o desgaste político decorrente da alta dos juros, o ministro da Casa Civil José Dirceu esteve nesta sexta-feira (21/1) na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), para um encontro decidido na véspera. Depois de reunir-se com Paulo Skaf, presidente da Fiesp, e outros líderes empresariais como Daniel Feffer (Suzano), Fernando Xavier (Telefonica) e Rogério Nora de Sá (Andrade Gutierrez), Dirceu seguiu para uma reunião na Associação Brasileira de Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib) com representantes do setor.

Como em outras ocasiões, o ministro procurou relativizar o impacto da política monetária e desviar o foco para uma "agenda positiva" do governo. "Viemos conversar sobre investimento em infra-estrutura, sobre PPPs [Parcerias Público-Privadas], sobre crescimento", afirmou Dirceu, logo após almoço oferecido pela federação.

Sobre a decisão tomada pelo Comitê de Política Monetária na quarta-feira, Dirceu foi discreto. "É assunto resolvido", diz. "Não acredito que o Brasil vai deixar de crescer por causa dessa alta. Já aumentamos e já reduzimos juros, é uma questão conjuntural." Ao mesmo tempo em que evitou opinar sobre o mérito do reajuste da Selic, o ministro frisou que a medida decorre da exclusiva interpretação do Banco Central (BC). "Tivemos cinco altas seguidas porque o BC entende serem necessárias para conter o que o BC entendeu como riscos de alta da inflação."

Segundo Dirceu, os empresários presentes no encontro da Fiesp manifestaram receio sobre a eficácia do fundo garantidor, o instrumento previsto na lei das PPPs para ressarcir o agente privado no caso de o projeto não remunerar adequadamente o investimento. Em sua avaliação, dentro de 30 a 40 dias, com a regulamentação da lei, será possível estruturar o fundo em um formato que satisfaça aos empresários. "Queremos três a cinco PPPs lançadas em 2005", diz o ministro, que foi destacado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para falar sobre as parcerias na reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos (Suíça), na próxima semana.

Problemas

"Infra-estrutura é o principal problema para o crescimento do país", disse Dirceu. Em sua avaliação, o importante é que o risco-país está caindo e há um ambiente de segurança e estabilidade, propício para a atração de investimentos. Além disso, o governo, segundo ele, já adotou 21 medidas de desoneração tributária para diferentes setores e continua empenhado em simplificar a operação das empresas. Mas o tom do ministro não foi tão otimista quando falou sobre dívida pública. "Mesmo com superávit de 4,5% [do PIB] nós não conseguimos pagar nem 70% do serviço da dívida", afirmou. "É uma dívida com brasileiros, pessoas físicas e jurídicas, que nós temos de pagar."

O ministro negou que o governo esteja aumentando gastos. "O custeio tem sido cortado, a pressão maior vem da Previdência", afirmou. Para lidar com o problema, o governo estaria adotando medidas de gestão para combater fraude e sonegação.

A passagem de Dirceu pela Fiesp, porém, pode não ter surtido os efeitos desejados. Paulo Skaf, presidente da entidade, agradeceu à "visita de cortesia" mas reafirmou que o setor industrial é totalmente contrário ao aumento de juros. "Temos o maior spread bancário do mundo e transferimos 120 bilhões de reais por ano ao setor financeiro", diz. Além disso, Skaf afirma que a manutenção de juros altos aprecia o câmbio, tornando o real mais forte frente ao dólar e prejudicando as exportações. "O governo tem de reduzir os gastos para baixar os juros e melhorar esse câmbio."

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