Já é hora de comprar, Brasil?
Com o refresco nas notícias negativas para o governo, começam a surgir vozes a favor de uma aposta mais firme no mercado. Os riscos, porém, seguem elevados
Da Redação
Publicado em 6 de outubro de 2015 às 21h12.
Mesmo com a alta dos últimos dias, o Ibovespa em dólar ainda está no menor nível em 10 anos.
O câmbio voltou ao patamar de R$ 3,80, mas o real segue como moeda de pior desempenho este ano entre 16 moedas principais acompanhadas pela Bloomberg.
Com o refresco nas notícias negativas para o governo e um cenário externo menos turbulento, começam a surgir vozes a favor de uma aposta mais firme no mercado brasileiro. Os riscos, porém, seguem elevados.
A história do mercado brasileiro mostra que a elevada volatilidade tem 2 lados. Um deles é o de que, em momentos ruins, os ativos do País tendem a perder mais do que a média.
É o que ocorre com o real e o Ibovespa este ano. Por outro lado, quando a situação melhora, a recuperação é muito forte. A queda de 41% do Ibovespa causada pela crise global de 2008, por exemplo, foi seguida por uma disparada de 83% no ano da retomada, em 2009.
Após a perda de 17% em 2002, ano da 1ª eleição de Lula, o índice da bolsa brasileira saltou 97% em 2003.
O mesmo padrão foi observado no governo FHC. Em 1999, a bolsa disparou 152%, após perder 33% em 1998, com o alívio pelo fato de o Brasil ter sobrevivido à crise que forçou o abandono do regime de bandas cambiais.
Ou seja, comprar após grandes perdas, à la Warren Buffett, parece compensador. Mas saber exatamente quando entrar continua sendo uma arte.
Para o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, já pode ser a hora de ”comprar Brasil”. Em sua coluna no jornal Valor, ele diz que o discurso feito por Dilma em 2 de outubro, durante o anúncio do corte de ministérios, ”algo próximo de um mea culpa”, foi o melhor que a presidente já fez.
Foi neste discurso que a presidente anunciou o corte de 8 ministérios e 3.000 cargos.
E será a reforma ministerial motivo para se ”comprar Brasil”, como diz Delfim? O fato é que, recentemente, perdeu forças o fluxo de notícias negativas que ajudou o dólar a bater em R$ 4,24 em setembro.
Ao dar mais ministérios ao PMDB, Dilma ainda pode não conseguir aprovar todas as medidas do ajuste fiscal, mas deve ter mais forças para barrar o impeachment. É o que os analistas imaginam.
“O governo está ficando mais confiante”, diz Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset Wealth Management. Investidores asiáticos e do Oriente Médio estariam mostrando maior interesse por imóveis e renda fixa.
A bolsa também caiu muito em dólar e ficou interessante para o estrangeiro, diz o executivo. O governo venceu uma batalha com a reforma ministerial, mas precisa vencer as batalhas restantes, inclusive evitar novos rebaixamentos de rating e o estouro das chamadas ”pautas-bomba” para consolidar a recuperação do mercado.
Na economia, o último resultado fiscal ainda veio largamente negativo, mas com um déficit cerca de 2 vezes menor que o previsto. Também na conta de dados que pararam de piorar está o déficit em conta corrente, que vem se estreitando.
A balança comercial já entrou no azul, embora ainda mais pela queda das importações do que aumento das exportações.
O mercado brasileiro teve uma melhora de curto prazo, mas volatilidade tende a continuar alta, diz Marcelo Giufrida, sócio da Garde Asset Management. Para ele, a retomada mais consistente da confiança do investidor ainda depende de o governo dar maiores demonstrações de força política e de uma melhora na política fiscal.
O que se vê, por enquanto, é a contínua piora das perspectivas tanto de crescimento quanto de inflação.
Para quem investe com estratégia de longo prazo, os preços relativamente baixos e a perspectiva de retorno em um ou dois anos podem compensar a perspectiva ainda incerta no curto prazo, diz Luis Otavio Leal, economista do Banco ABC Brasil. Para quem pensa em retorno imediato, contudo, o risco é mais alto. "Ainda veremos muita flutuação dos preços.”
--Com a colaboração de Davison Santana em São Paulo.
Mesmo com a alta dos últimos dias, o Ibovespa em dólar ainda está no menor nível em 10 anos.
O câmbio voltou ao patamar de R$ 3,80, mas o real segue como moeda de pior desempenho este ano entre 16 moedas principais acompanhadas pela Bloomberg.
Com o refresco nas notícias negativas para o governo e um cenário externo menos turbulento, começam a surgir vozes a favor de uma aposta mais firme no mercado brasileiro. Os riscos, porém, seguem elevados.
A história do mercado brasileiro mostra que a elevada volatilidade tem 2 lados. Um deles é o de que, em momentos ruins, os ativos do País tendem a perder mais do que a média.
É o que ocorre com o real e o Ibovespa este ano. Por outro lado, quando a situação melhora, a recuperação é muito forte. A queda de 41% do Ibovespa causada pela crise global de 2008, por exemplo, foi seguida por uma disparada de 83% no ano da retomada, em 2009.
Após a perda de 17% em 2002, ano da 1ª eleição de Lula, o índice da bolsa brasileira saltou 97% em 2003.
O mesmo padrão foi observado no governo FHC. Em 1999, a bolsa disparou 152%, após perder 33% em 1998, com o alívio pelo fato de o Brasil ter sobrevivido à crise que forçou o abandono do regime de bandas cambiais.
Ou seja, comprar após grandes perdas, à la Warren Buffett, parece compensador. Mas saber exatamente quando entrar continua sendo uma arte.
Para o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto, já pode ser a hora de ”comprar Brasil”. Em sua coluna no jornal Valor, ele diz que o discurso feito por Dilma em 2 de outubro, durante o anúncio do corte de ministérios, ”algo próximo de um mea culpa”, foi o melhor que a presidente já fez.
Foi neste discurso que a presidente anunciou o corte de 8 ministérios e 3.000 cargos.
E será a reforma ministerial motivo para se ”comprar Brasil”, como diz Delfim? O fato é que, recentemente, perdeu forças o fluxo de notícias negativas que ajudou o dólar a bater em R$ 4,24 em setembro.
Ao dar mais ministérios ao PMDB, Dilma ainda pode não conseguir aprovar todas as medidas do ajuste fiscal, mas deve ter mais forças para barrar o impeachment. É o que os analistas imaginam.
“O governo está ficando mais confiante”, diz Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset Wealth Management. Investidores asiáticos e do Oriente Médio estariam mostrando maior interesse por imóveis e renda fixa.
A bolsa também caiu muito em dólar e ficou interessante para o estrangeiro, diz o executivo. O governo venceu uma batalha com a reforma ministerial, mas precisa vencer as batalhas restantes, inclusive evitar novos rebaixamentos de rating e o estouro das chamadas ”pautas-bomba” para consolidar a recuperação do mercado.
Na economia, o último resultado fiscal ainda veio largamente negativo, mas com um déficit cerca de 2 vezes menor que o previsto. Também na conta de dados que pararam de piorar está o déficit em conta corrente, que vem se estreitando.
A balança comercial já entrou no azul, embora ainda mais pela queda das importações do que aumento das exportações.
O mercado brasileiro teve uma melhora de curto prazo, mas volatilidade tende a continuar alta, diz Marcelo Giufrida, sócio da Garde Asset Management. Para ele, a retomada mais consistente da confiança do investidor ainda depende de o governo dar maiores demonstrações de força política e de uma melhora na política fiscal.
O que se vê, por enquanto, é a contínua piora das perspectivas tanto de crescimento quanto de inflação.
Para quem investe com estratégia de longo prazo, os preços relativamente baixos e a perspectiva de retorno em um ou dois anos podem compensar a perspectiva ainda incerta no curto prazo, diz Luis Otavio Leal, economista do Banco ABC Brasil. Para quem pensa em retorno imediato, contudo, o risco é mais alto. "Ainda veremos muita flutuação dos preços.”
--Com a colaboração de Davison Santana em São Paulo.