Economia

Ipea: inflação de janeiro subiu menos para os mais pobres

A tendência de inflação mais baixa para os mais pobres começou em 2017, muito influenciada pelos preços dos alimentos

Alimento: "outros preços que têm peso grande no consumo dos mais pobres vieram mais comportados" (Alexandre Battibugli/Exame)

Alimento: "outros preços que têm peso grande no consumo dos mais pobres vieram mais comportados" (Alexandre Battibugli/Exame)

AB

Agência Brasil

Publicado em 21 de fevereiro de 2018 às 17h28.

O Indicador de Inflação por Faixa de Renda, divulgado hoje (21) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), indica que a taxa de janeiro ficou menor para a parcela mais pobre da população, atingindo 0,23% nos preços de bens e serviços, enquanto para os mais ricos, a inflação foi maior e atingiu 0,36%.

Segundo a técnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Maria Andréia Parente Lameiras, responsável pelo estudo, essa tendência de inflação mais baixa para os mais pobres começou em 2017, muito influenciada pelos preços dos alimentos.

Diante da perspectiva de aceleração dos preços dos alimentos, os pesquisadores do Ipea esperavam que esse movimento fosse sofrer algum tipo de reversão.

"Só que nos dois últimos meses (dezembro de 2017 e janeiro de 2018), mesmo com alta de alimentos, outros preços que têm peso grande no consumo dos mais pobres vieram mais comportados", disse Maria Andréia.

É o caso de energia elétrica, por exemplo, item que pesa muito mais no orçamento dos mais pobres que no dos mais ricos. Com a retirada da bandeira tarifária, os preços de energia caíram em dezembro e voltaram a cair em janeiro. As tarifas de energia elétrica em janeiro tiveram deflação de 4,3%: "isso impactou mais a inflação dos mais pobres".

Segundo a responsável pelo estudo, esse movimento de desaceleração da inflação dos mais pobres continua no começo do ano, não mais por conta dos alimentos, mas pelas tarifas públicas. "Mas, de qualquer maneira, está fazendo com que a inflação dos mais pobres continue em um patamar bem abaixo dos mais ricos", disse ela à Agência Brasil.

Maria Andréia observou, por outro lado, que a inflação dos mais ricos está um pouco mais "amarrada", uma vez que preços de mensalidades escolares e de planos de saúde pesam muito no orçamento dessas famílias de maior renda. "Esses serviços pesam muito no orçamento das famílias mais ricas e não têm caído como os demais itens que compõem a inflação". Isso fez com que a diferença entre os mais pobres e os mais ricos tenha aumentado ao longo do tempo.

No comparativo dos últimos 12 meses, o Ipea constatou que a inflação das famílias de renda muito baixa teve queda maior, caindo de 6%, em 2016, para 2,1%, enquanto para as famílias com renda maior, a inflação diminuiu de 5,5% para 3,7%.

Expectativas

Para o Ipea, a tendência é de que o movimento de inflação menor para os mais pobres continue em 2018. Maria Andréia alertou, entretanto, que o gap, isto é, a diferença do índice entre uma classe e outra, tende a se estreitar ao longo do ano, devido aos alimentos, cujos preços mostram tendência de alta e, em consequência, vão afetar mais os mais pobres. "Fora isso, a gente espera também que alguns preços de serviços que estão muito altos e estão impedindo uma queda de inflação dos mais ricos cedam um pouco mais em 2018".

Maria Andréia adiantou que os dados do Índice de Preços do Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro já vão trazer reajuste das mensalidades escolares.

"A gente espera que os reajustes em 2018 tenham sido menores do que foi em 2017. Então, o item de mensalidade escolar que pesa muito para os mais ricos e praticamente não pesa nada para os mais pobres, porque a maioria da população mais pobre não tem filho em colégio particular, se ele desacelerar vai ajudar a inflação dos mais ricos a desacelerar também".

De acordo com a metodologia da pesquisa, são consideradas mais pobres as famílias com renda mensal abaixo de R$ 900 e, mais ricas as famílias com renda mensal acima de R$ 9 mil.

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