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Instituições internacionais precisam ser mais flexíveis, diz Bird

Ao contrário do que organismos como o Fundo Monetário Internacional e o próprio Bird afirmavam, não há uma única receita para os países crescerem

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h02.

Não há uma receita única para promover o desenvolvimento dos países mais pobres. Cada um deve considerar suas próprias características, sua história e o modo como participa do comércio mundial e do fluxo global de capitais. As conclusões, que contradizem o pensamento dominante na última década, são ironicamente de um dos organismos que ajudaram a forjá-lo: o Banco Mundial (Bird).

Nesta segunda-feira (18/4), o Bird divulgou o estudo Economic Growth in the 1990s: Learning from a Decade of Reforms, em que reflete sobre as experiências dos países em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia, com o objetivo de rever suas próprias políticas de promoção do crescimento. Segundo o material, desde o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), uma série de princípios ganhou força como o corolário do desenvolvimento econômico. Sob o nome de Consenso de Washington termo que muitos economistas refutam, alegando que não há consenso algum , as fórmulas eram compartilhadas pelo governo americano, pelo Bird e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Entre os fundamentos, estão a liberalização da economia, a abertura de mercados, a redução do papel do Estado nas atividades econômicas, a responsabilidade fiscal e o combate à inflação. Embora ninguém questione que estes sejam princípios válidos, a principal falha dessa receita foi a sua rigidez, que ignorou as particularidades dos países onde foi aplicada.

"A principal falha do Consenso de Washington foi sugerir, talvez não intencionalmente, uma visão única sobre as estratégias de desenvolvimento", afirma Timothy Besley, professor da London School of Economics e autor de um dos artigos do estudo. "Os caminhos para o desenvolvimento precisam ser desenhados de acordo com a capacidade institucional de cada país", diz.

Organizações mais fortes

O livro é composto por dez capítulos, escritos por personalidades do mundo político, acadêmico e econômico que tiveram projeção reconhecida sobre suas áreas de atuação nos anos 90. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso assina um dos artigos, no qual analisa a evolução do conceito de desenvolvimento nos últimos 40 anos, além da situação do Brasil durante o seu governo.

Para FHC, o termo desenvolvimento ganhou um significado mais amplo do que o meramente econômico na última década. A sociedade começa a dar mais importância também a critérios como inclusão social, direitos humanos e meio ambiente. "O que parece estar por trás da desconstrução do conceito de desenvolvimento é a crescente percepção de que o avanço econômico só será significativo se for entendido como uma parte de um processo maior", afirma.

Em sua análise, o ex-presidente também cobra mais participação das organizações mundiais para auxiliar os países em desenvolvimento. FHC ressalta, porém, que é preciso conferir mais poder a esses organismos para que possam cumprir suas tarefas, particularmente ao FMI. Segundo ele, o crescente fluxo internacional de capitais está corroendo o poder do Fundo, comprometendo a estabilidade mundial.

Se, antes, o apoio do FMI a um país era suficiente para acalmar os investidores internacionais, hoje isso já não é mais verdade, de acordo com o ex-presidente. Um caso concreto foi a instabilidade sofrida pelo Brasil durante as eleições presidenciais de 2002, quando os agentes econômicos tinham sérias dúvidas sobre o que seria o próximo governo. "Por isso, eu acho que é preciso dar mais poder ao FMI", afirma.

A democratização da agenda internacional de discussões, no âmbito da Organização das Nações Unidas, é outro fator fundamental para reduzir a desigualdade entre os países. "Sem um impulso mais enérgico das instituições internacionais e sem a democratização da agenda internacional, formulada na ONU, será extremamente difícil avançar nesta frente", diz o ex-presidente.

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