Economia

Indicadores econômicos já mostram estrago da guerra comercial

A troca de farpas entre os EUA e seus maiores parceiros comerciais, incluindo China e União Europeia, é uma das maiores ameaças ao crescimento mundial

Economistas estão acompanhando métricas diretas do volume de comércio (Patrick T. Fallon/Bloomberg)

Economistas estão acompanhando métricas diretas do volume de comércio (Patrick T. Fallon/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 26 de junho de 2018 às 14h11.

Última atualização em 26 de junho de 2018 às 14h26.

A economia global mostra os primeiros sinais de sofrimento com o ensaio de uma guerra comercial que já abalou os mercados financeiros e a confiança dos empresários.

A troca de farpas entre os EUA e seus maiores parceiros comerciais, incluindo China e União Europeia, é uma das maiores ameaças ao crescimento mundial. Perguntamos a economistas sobre os indicadores que eles estão acompanhando para identificar os pontos de estresse.

Expectativas apuradas pelo Ifo

Como maior economia da Europa e grande exportadora, a Alemanha está especialmente exposta a qualquer desaceleração do comércio internacional. O Instituto de Pesquisa Econômica Ifo, sediado em Munique, calcula indicadores de confiança para o país e seus vizinhos na zona do euro.

As medidas anunciadas até agora diminuiriam a expansão do comércio em poucos pontos percentuais, segundo Holger Schmieding, economista-chefe da Berenberg, em Londres.

“O maior impacto será na confiança", afirmou Schmieding. "Por isso estou de olho em indicadores de confiança que olham para frente, como o índice de expectativas do Ifo e as perspectivas de produção divulgadas por empresas francesas.”

Coreia do Sul

Dados sobre as exportações da Coreia do Sul, uma líder mundial na indústria, são de grande importância para analistas que tentam prever para onde vai o crescimento global. Eles também citam as encomendas de produtos fabricados em Taiwan.

"Como ponto de partida para muitos dos insumos da cadeia de suprimentos de eletrônicos da Ásia, a Coreia do Sul é o canário na mina de carvão do comércio internacional", disse Tom Orlik, economista-chefe da Bloomberg Economics. "As exportações para os primeiros 20 dias de junho já parecem desanimadoras – com a contração de 4,8 por cento em relação a um ano antes, revertendo o ganho de 14,8 por cento registrado no mesmo período de maio. Não dá para saber se é volatilidade mensal ou a demanda recuando, mas não é bom sinal."

Novas encomendas para exportação

Outro indicador da demanda é o componente de novas encomendas para exportação que faz parte do índice dos gerentes de compras da indústria global do JP Morgan.

"Houve queda acentuada recentemente, o que já pode refletir a crescente incerteza em relação à política comercial, embora outros fatores cíclicos também influenciem", disse Frederic Neumann, corresponsável por pesquisa econômica na Ásia do HSBC Holdings, em HongKong. Ele também está de olho nas importações de itens a serem processados pela China, que dão uma ideia sobre as cadeias de suprimentos e o investimento estrangeiro direto na Ásia.

China

Os dados amplos de comércio parecem se sustentar por enquanto, mas há sinais de piora. Um subíndice de encomendas para exportação pode mostrar volatilidade devido a fatores sazonais e outras influências, mas provavelmente será um dos primeiros a sinalizar uma desaceleração.

Preços ao produtor nos EUA

Vishnu Varathan, economista e estrategista-chefe do Mizuho Bank, em Cingapura, está de olho em três indicadores principais para entender a trajetória do comércio global: índices que acompanham as encomendas de insumos (PMIs na sigla em inglês) para a indústria, especialmente na Ásia e Europa; volumes globais de exportação, como forma de “validar” o que sugerem os PMIs; e preços no atacado, especialmente nos EUA, para compreender o impacto das tarifas de importação sobre as cadeias de suprimentos.

Eletrônicos

Muitas das tarifas de Trump têm como alvo a estratégia Made in China 2025 e os setores de eletrônicos nela citados.

Selena Ling, economista da Oversea-Chinese Banking, vê sinais de deterioração das exportações de eletrônicos por Cingapura como sinal de que as tensões comerciais já têm consequências concretas.

“A pergunta agora é se a história vai mudar em 6 de julho”, quando uma nova rodada de tarifas do governo americano pode entrar em vigor, afirmou Ling. E a partir dessa data, as eleições parlamentares nos EUA alimentarão as dúvidas sobre o que fará o presidente Donald Trump.

Volumes de comércio

Os economistas também estão acompanhando métricas diretas do volume de comércio, como o transporte de cargas. Esses números estão se sustentando até agora, mas talvez seja cedo para registrarem a escalada das tensões.

“Considerando o foco da Alemanha nas exportações, eu começaria pelos dados alemães”, disse Carsten Brzeski, economista-chefe da ING-Diba. “As expectativas para exportações apuradas pelo Ifo são um bom começo, mas também encontrei indicadores mais restritos, como os dados de tráfego da Fraport e o barômetro de comércio mundial da DHL.”

PMIs

A briga comercial já se reflete em indicadores de sentimento, ressaltou Torsten Slok, economista-chefe internacional do Deutsche Bank, em Nova York. "É impressionante como o impulso significativo dado pelos cortes de impostos agora é ofuscado por outras forças, principalmente as incertezas associadas à guerra comercial."

Em relatório enviado a clientes, Slok destacou a queda recente dos PMIs, que apuram as opiniões dos gerentes de compras das empresas.

Questão de confiança: o impacto do clima de guerra comercial nos índices econômicos

Questão de confiança: o impacto do clima de guerra comercial nos índices econômicos (Gráfico/Bloomberg)

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