Importadores privados restringem negócios com a Petrobras, diz Abicom
Motivo da redução das compras de combustíveis seria defasagem entre preços da estatal e os praticados no mercado internacional
Reuters
Publicado em 20 de fevereiro de 2019 às 19h17.
São Paulo - Importadores privados de combustíveis no Brasil avaliam que as compras no exterior podem zerar a partir de março diante de uma defasagem entre os preços estabelecidos pela estatal Petrobras e os praticados no mercado internacional, disse nesta quarta-feira à Reuters uma liderança do setor.
Segundo o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, quatro das nove empresas coligadas à entidade já deixaram de realizar negócios, enquanto as outras cinco "estão muito desanimadas", podendo suspender as compras a partir do próximo mês.
"Os importadores privados estão deixando de fazer suas operações. Quem está fazendo importação para garantir o abastecimento nacional é a própria Petrobras", afirmou Araújo.
Ao longo de 2018 até o final do terceiro trimestre, segundo dados da Petrobras, a estatal ampliou seu mercado de gasolina e diesel para cerca de 90 por cento, em meio a importações elevadas.
Cálculos da própria Abicom mostram que no acumulado de fevereiro até esta quarta-feira houve alta de 17 por cento no Preço de Paridade de Importação (PPI) da gasolina, ao passo que nas refinarias da Petrobras o aumento foi de 7 por cento --a maior parte ocorrida nos últimos dias.
Em relação ao diesel, o avanço do PPI foi de 0,1465 real por litro, enquanto internamente o incremento alcançou 0,0307 real, segundo a associação.
Estabelecido pela reguladora ANP e importante balizador de precificação doméstica, o PPI considera cotações para cinco polos importadores de combustíveis no Brasil: Itaqui, Suape, Aratu, Santos e Paranaguá.
As altas observadas no mercado de combustíveis refletem diretamente os ganhos do petróleo, cujas referências internacionais têm se mantido firmes diante de cortes de produção feitos pela Opep e aliados como a Rússia, bem como por problemas de fornecimento na Venezuela, que passa por severa crise.
Entre janeiro e 15 de fevereiro, o preço do Brent subiu cerca de 23 por cento.
"Os preços internacionais subiram muito mais do que os reajustes da Petrobras. A Petrobras está praticando preços abaixo dos internacionais, pelo menos se a gente considerar os polos onde é possível entrar produto importado", disse Araújo.
Procurada para comentar o assunto, a Petrobras disse em nota que leva em consideração o PPI, margens para remuneração dos riscos inerentes à operação e o nível de participação no mercado.
Segundo a petroleira, seu PPI "estima o custo de potenciais competidores, simulando uma importação por terceiros para cada produto em cada ponto de venda, considerando a atuação de um concorrente representativo".
"É fundamental destacar que os reais valores de importação variam de agente para agente, dependendo de características como, por exemplo, as relações comerciais no mercado internacional e doméstico, o acesso a infraestrutura logística e a escala de atuação", afirmou.
"É importante reforçar que o PPI não é um valor absoluto, único e percebido da mesma maneira por todos os agentes", avaliou a companhia.
Em sua política de preços, a Petrobras utiliza mecanismos de hedge para gasolina e diesel, permitindo-lhe manter as cotações desses produtos estáveis nas refinarias por certos períodos em momentos de forte volatilidade.
No caso da gasolina, o sistema está em vigor desde setembro do ano passado, e a empresa pode segurar o valor do produto por até 15 dias se necessário.
Para o diesel, são até sete dias, e o mecanismo está em vigor desde janeiro, logo após o fim da subvenção econômica oferecida pelo governo para a comercialização do óleo, uma medida tomada em meados do ano passado por causa da greve dos caminhoneiros.