Histórico de fracassos reduz ambições de acordo Argentina
Agenda de negociações entre o país e o FMI parece modesta em comparação com as grandes ambições que definiram acordos anteriores
Bloomberg
Publicado em 9 de setembro de 2020 às 17h18.
Última atualização em 9 de setembro de 2020 às 17h18.
As atuais negociações da Argentina com o Fundo Monetário Internacional ( FMI ) estão em andamento com uma agenda que parece modesta em comparação com as grandes ambições que definiram acordos anteriores.
Levando em consideração como esses acordos acabaram, pode ser melhor.
Faz apenas dois anos que o FMI superou seu próprio recorde de concessão de crédito ao oferecer à Argentina US$ 57 bilhões. O objetivo era ajudar um governo alinhado ao mercado na batalha contra a recessão - e escrever um capítulo otimista no que tem sido um histórico amargo entre tomador-credor. Mas quase nada saiu como planejado.
O programa do FMI entrou em colapso, a economia mergulhou em um buraco ainda mais profundo e a Argentina deixou de pagar a dívida pela nona vez. No mês passado, os credores de títulos tiveram que aceitar 55 centavos por dólar.
Os eleitores tiraram do poder os políticos que emprestaram o dinheiro e elegeram um governo de esquerda segundo o qual não pretende buscar novos recursos do Fundo. Se essa posição for mantida, o 22º programa do FMI para o país será essencialmente um acordo de refinanciamento dos US$ 44 bilhões já devidos.
‘O Fundo vê’
A Argentina ainda terá que assumir compromissos, como reduzir o déficit fiscal. Mas com os governos ao redor do mundo dependendo de gastos fiscais para amortecer o golpe da pandemia, o FMI provavelmente não pressionará muito nessa frente, de acordo com Claudio Loser, ex-diretor do FMI.
“O Fundo não vai dizer ‘austeridade imediatamente’, o que é sempre uma preocupação da Argentina”, disse. “O Fundo vê o que está acontecendo no mundo.”
A Argentina impôs uma das quarentenas mais rígidas da América Latina. A economia deve encolher um recorde de 12% neste ano, e o déficit fiscal subir para cerca de 8% do PIB.
Como não pode tomar empréstimos no exterior, a Argentina imprime dinheiro para financiar os gastos da pandemia, o que contribui para manter a inflação acima de 40%. O governo respondeu congelando o preço de tarifas como de telefones celulares e de Internet. E propõe arrecadar fundos para o orçamento com um imposto único sobre o patrimônio de milionários.
Essas políticas podem se tornar pontos críticos durante as negociações com o FMI, onde recuperar o acesso aos mercados e controlar a inflação serão os principais tópicos. Outro será como suspender os controles de capital que a Argentina impôs ao longo do ano passado para sustentar a moeda.
“Não imagino o FMI pedindo à Argentina que suspenda os controles de capital a partir de amanhã”, disse Sergio Chodos, representante do país junto ao Fundo, em entrevista concedida em agosto. “Esse caminho será determinado pelos fatos, não por um cronograma.”