Economia

Há espaço para uma taxa de juros abaixo da neutra

Em um cenário que combine PIB ainda fraco mesmo após recessão, inflação abaixo da meta e reformas aprovadas, a taxa básica poderia chegar a até 8%

BC: segundo o diretor de Política Econômica do Banco Central, nada diz que se deva ficar acima da taxa neutra (Gustavo Gomes/Bloomberg)

BC: segundo o diretor de Política Econômica do Banco Central, nada diz que se deva ficar acima da taxa neutra (Gustavo Gomes/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 5 de abril de 2017 às 16h37.

São Paulo - A taxa Selic tem muito espaço para recuar e alguns analistas não descartam a queda para um nível ainda menor do que o patamar que permite ao país crescer sem ressuscitar a inflação, o chamado juro neutro.

Em um cenário que combine PIB ainda fraco mesmo após o fim da recessão, inflação abaixo da meta e reformas aprovadas, a taxa básica poderia chegar a até 8%, aproximando-se novamente do recorde de baixa atingido em 2012, de 7,25%.

Nesse patamar, o BC entraria numa política monetária considerada expansionista, o que muitos veem como a saída para estimular a economia.

A discussão, que está forte entre os economistas, ganha reforço com a fala do diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Viana, na terça-feira à noite.

Segundo ele, nada diz que se deva ficar acima da taxa neutra, desde que num ambiente de expectativas ancoradas. Isso embora, no longo prazo, o juro não deva diferir muito do estrutural.

O cenário projetado hoje já permitiria ao BC cortar a taxa Selic para 8,25% no final do ano, diz Ivo Chermont, economista da Quantitas Gestão de Recursos.

Essa taxa básica já estaria abaixo do juro neutro nominal da economia, que Chermont estima entre 9% e 9,5%. Ele explica que, para o BC conseguir impulsionar o crescimento, será necessário pôr o juro em nível inferior ao neutro.

Se as reformas da Previdência e outras medidas que reduzem os custos no país forem aprovadas, a taxa neutra cairá, permitindo ao BC reduzir ainda mais a Selic do que os 8,25% estimados hoje.

Mesmo prevendo uma Selic abaixo da mediana do mercado, que indica 8,75% no final do ano segundo a pesquisa Focus, o analista da Quantitas acha difícil o BC acelerar o corte do juro para 1,25 pp no próximo Copom.

Um corte de 1 ponto já representa um ritmo “bastante rápido” e redução em ritmo ainda maior só ocorreria se a atividade decepcionasse muito, afirma ele.

“A atividade teria de mostrar muita fraqueza, ao ponto de colocar qualquer recuperação da economia em risco”.

“O BC está em posição confortável para cortar os juros”, diz Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs em Nova York. “Questão é saber se existe espaço para política monetária expansionista, com Selic entre 8% e 8,5% ao final do ciclo, ou se juro fica no nível neutro”.

Ramos prevê Selic de 8,75% no final de 2017, na fronteira entre política neutra e expansionista, com corte de 1 pp na próxima reunião do Copom, em 12 de abril.

Na avaliação do economista  João Pedro Ribeiro, do Nomura em Nova York, dado que a economia brasileira deve acabar operando abaixo do potencial por algum tempo em razão do tamanho da recessão, pode haver espaço para que a Selic caia abaixo da taxa neutra, o que sugere que o BC entraria num ciclo de corte significativo, segundo relatório.

Ele estima que o juro neutro real está entre 4,5% e 5,5% e prevê a Selic em 8,5% no final do ano, em cima da linha para uma estratégia expansionista.

Quanto à taxa de juros real, o ideal seria o BC cortar para algo mais próximo a 4% para estimular economia, diz Luiz Eduardo Portella, sócio e gestor da Modal Asset.

Portella, ao contrário de muitos analistas do mercado, avalia que a hipótese de o BC acelerar o ritmo de corte da Selic de 0,75 pp para 1,25 pp continua de pé, mesmo após o BC ter falado em ritmo “moderado” de aceleração no último relatório trimestral. “Se o juro real cair abaixo do neutro, aumenta a chance de crescimento”, diz o profissional.

Ramos, do Goldman, considera que o “problema da inflação está mais ou menos resolvido”, mas ainda assim chama a atenção para o fato de a alta de preços no Brasil ter demonstrado tanta resiliência.

“Foi preciso uma recessão de proporções bíblicas para trazer a inflação para 4,5%.”

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