Guerra entre Rússia e Ucrânia pode elevar preço do seu pãozinho francês
Grandes produtores de trigo, os dois países representam quase 30% do mercado exportador da commodity
Gilson Garrett Jr
Publicado em 12 de fevereiro de 2022 às 08h30.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2022 às 15h23.
Após quatro meses de negociações, a Rússia invadiu a Ucrânia nesta quinta-feira, 24. A ação militar veio logo depois do presidente russo, Vladmir Putin, reconhecer as regiões de Luhansk e Donestsk, na Ucrânia, como autônomas e falar em ação para estabilizar a paz. Apesar de Putin dizer que só ficaria nas regiões separatistas, vários mísseis foram disparados contra alvos em toda a Ucrânia, incluindo regiões mais a oeste, próximo à Polônia.
O conflito entre os dois países leva a uma escalada de incertezas, que prejudicam o comércio na região. Com a economia dos dois países baseada em commodities, as movimentações lá impactam também o Brasil.
Grandes produtores de trigo, os dois países representam quase 30% do mercado exportador da commodity, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.
O Brasil não tem compras relevantes com a Rússia ou mesmo com a Ucrânia, mas mudanças de oferta do grão podem elevar os preços e refletir em toda a cadeia, culminando no aumento do quanto se paga no pãozinho francês na padaria mais próxima da sua casa.
“A Rússia é quem determina o preço do trigo do mundo e corresponde a 18% de toda a exportação mundial. Uma mudança no Mar Negro também pode alterar as movimentações das exportações de outros países da região. Tudo isso leva a uma subida de preços. E o trigo é um grão para alimentação humana, e tem ligação direta com a cadeia de produção de outros alimentos, como óleo vegetal”, explica Roberto Sandoli, gerente sênior de risco de grãos e algodão da consultoria HedgePoint Global Markets.
O analista ainda destaca que o Brasil compra trigo da Argentina, mas como o valor do grão é cotado internacionalmente, os preços no nosso vizinho também pode ficar mais caro, pressionando o produto internamente.
“Os aumentos que já ocorreram recentemente no trigo foram segurados pelos moinhos no Brasil. Como a economia não deslancha, tudo fica travado. Mas em um cenário em que o preço começa a ficar muito alto, haverá um repasse ao consumidor. Pode ser bem trágico para a economia brasileira”, diz Sandoli.
André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, lembra também que a invasão russa não vai necessariamente afetar fortemente o Brasil logo no início.
"O preço do petróleo pode subir o que irá criar incentivos para alta de empresas como Petrobras, segurando nossa bolsa. O problema maior para o Brasil em relação ao conflito é em um segundo momento com as sanções uma vez que mais de 30% dos fertilizantes importados pelo país vêm da Rússia", diz.