Grécia vive o mesmo drama da América Latina dos anos 80 e 90
A possibilidade de calote na Grécia mostra que a Europa está muito mais perto da América Latina do que se imaginava
Da Redação
Publicado em 4 de março de 2010 às 19h53.
Pouco mais de duas décadas atrás, para diferenciar um país da América Latina de um europeu bastava olhar suas contas. Detentores de dívidas exorbitantes, os países latinos buscavam ajuda junto a instituições internacionais e lutavam para evitar o calote. Nesta mesma época, a Grécia comemorava sua entrada no seleto grupo de países que faziam parte da Comunidade Européia - a futura União Européia.
"As crises externas tiveram grande impacto nesses países porque eles estavam com suas contas desequilibradas. Na América Latina, os dois choques do petróleo nos anos 70, seguidos do aumento dos juros nos Estados Unidos para combater a inflação, fragilizaram ainda mais as economias da região. No caso da Grécia e de outros países menos sólidos da Europa, a crise global que eclodiu em 2007 foi o fator que colocou as economias em xeque", explica Gonçalves.
Enquanto se acusava a Argentina de maquiar dados sobre sua economia, descobriu-se que o mesmo artifício era utilizado pelo governo grego. De um dia para outro, a Grécia se viu com um déficit fiscal de 12,7% de seu Produto Interno Bruto (PIB), percentual muito acima dos 5% estimados.
Diferentemente dos países latino-americanos, entretanto, a Grécia poderá vir a contar com ajuda de seus vizinhos e colegas de bloco econômico. "As soluções para os problemas do país vão além de suas fronteiras. É uma questão que envolve toda a União Européia", diz Gonçalves.
Ao que tudo indica, será necessário um tempo razoável para que todos os ajustes sejam feitos. E, se há algo que os anos de experiência da América Latina podem ensinar para a Grécia e toda a Europa é que é muito mais doloroso cortar gastos em tempo de crise do que fazê-lo antes da turbulência, nos anos de bonança.