Governo superestima valor da privatização da Eletrobras, diz fonte
União conta com receita de R$ 16,2 bilhões no Orçamento de 2020 que espera receber do processo de capitalização da estatal
Reuters
Publicado em 19 de novembro de 2019 às 14h50.
Última atualização em 19 de novembro de 2019 às 14h55.
Rio de janeiro - O governo federal calibrou mal no Orçamento de 2020 a receita de 16,2 bilhões de reais que espera receber do processo de capitalização da Eletrobras , que estaria superestimada em cerca de 25%, segundo uma fonte próxima do processo de desestatização da elétrica.
A fonte, que falou na condição de anonimato, considerou o valor "exagerado" com base em fatores como a tendência de preços da energia elétrica e no valor da privatização da Cesp em 2018, na qual o governo federal também participou do processo.
Com problemas fiscais, o governo prevê obter os recursos do processo de privatização com o recebimento de bônus de outorga de hidrelétricas, em troca da renovação de contratos de uma série de usinas antigas da estatal, em condições mais vantajosas para a Eletrobras.
Mas, como esse movimento está amarrado ao processo de desestatização, pode indicar que os valores esperados com a capitalização da Eletrobras estariam também elevados.
"Erraram na mão e pegaram pesado. Não vale isso", disse a fonte à Reuters, fazendo uma relação entre a estimativa da outorga e quanto se espera arrecadar com a capitalização da companhia.
A capitalização da Eletrobras prevê diluição da participação majoritária da União na empresa pela emissão de novas ações, sem a subscrição dos papéis pelo governo federal --a operação está prevista para o segundo semestre de 2020.
Segundo a fonte, giraria em torno de 13 bilhões de reais o valor correto e máximo que a União deveria obter com o pagamento das outorgas pelos novos contratos das hidrelétricas — que hoje vendem a produção a preços regulados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e abaixo de valores praticados no mercado elétrico.
Esse cálculo leva em conta fatores como valor das ações da estatal, valor da energia comercializada no mercado, participação do governo e operações semelhantes de capitalização que ocorreram no país recentemente.
"O governo não está olhando para o mercado para ver o apetite e quanto efetivamente se pode e se quer pagar", completou a fonte, que citou o processo da Cesp, que também envolveu o pagamento de outorga à União pela renovação da concessão da usina de Porto Primavera.
A fonte ainda fez um paralelo entre o que se estabeleceu em outorgas com hidrelétricas e o elevado valor de bônus de assinatura dos leilões do pré-sal, o que afastou no início do mês as maiores petroleiras globais dos certames, restritos à Petrobras e duas empresas chinesas.Essa estimativa de 13 bilhões de reais pelas outorgas, considerada a mais justa pela fonte, leva em conta ainda entrada de novas fontes de energia no mercado e resultado de leilões para a contratação de projetos de geração elétrica, que mostram uma tendência de barateamento dos custos da eletricidade.
Desafiador
Para o diretor-presidente da consultoria PSR, Luiz Barroso, a conta de 16,2 bilhões de reais do governo fecharia com um preço de energia a 150 reais por megawatt-hora, mas esse parece ser um cenário "desafiador", já que os leilões do governo têm apontado um preço menor.
"A dúvida é ver se 150 reais o megawatt-hora para um preço de longo prazo é um valor razoável. Se o preço de longo prazo for de 120 ou 130 o megawatt, significa que o valor da Eletrobras é menor", disse Barroso à Reuters.
"O valor depende do preço futuro de energia... a empresa vale o preço da sua energia. O leilão está vendendo eólica e solar por 100 reais e o mercado livre a 120", acrescentou o consultor, que já foi presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), lembrando que a projeção inicial era obter cerca de 12 bilhões de reais com as outorgas.
Factível
Quando o governo apresentou o projeto de lei Orçamentária Anual (PLOA) do próximo ano, o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, apontou que a peça contemplava a chamada descotização da Eletrobras no valor de 16,2 bilhões de reais, algo que a equipe econômica considera "factível para o ano de 2020".
Segundo uma fonte da equipe econômica, é "bem provável" que o governo tenha que retirar essa previsão de recursos no seu primeiro relatório bimestral de receitas e despesas, em março. Isso porque, para que a projeção de receitas siga no Orçamento, é necessário que o Congresso tenha aprovado a lei que pavimenta o caminho para a privatização da elétrica.
Em condição de anonimato, a fonte pontuou que há incertezas quanto à rapidez deste processo, que toca num tema considerado sensível para os parlamentares.
No início deste mês, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afirmou que a resistência à privatização da Eletrobras é muito grande na Casa.
O Ministério da Economia informou à Reuters, na segunda-feira, que considera adequada a expectativa de receita com a capitalização da Eletrobras.