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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h35.
O Banco Central fez o que o mercado pediu. Vai enviar nesta terça-feira (30/07) aos Estados Unidos uma missão para negociar ajuda com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Ninguém mais pensa em discutir se esse socorro é ou não necessário, baseando-se em fundamentos econômicos. Se a expectativa criada pelo mercado diz que, para abaixar o dólar e o nervosismo, é preciso correr ao FMI, então corremos ao FMI , afirmou o diretor de uma corretora paulista. Agora é espertar para ver se o mercado, pelo menos hoje, se contenta.
Há três semanas, quando Armínio Fraga, presidente do Banco Central, esteve em Washington, criou-se a expectativa de que o FMI faria um pacto de apoio com o país, que em breve deve passar por transições político-econômicas. Desde então, tal pacto virou bezerro de ouro : virou adoração dos negociadores de dólares e condicional para a estabilidade do mercado. Agora, a expectativa é caprichosamente maior. Além do apoio, espera-se um empréstimo que, segundo a imprensa brasileira, deve chegar a 10 bilhões de dólares. "Na verdade, o FMI não é um santo remédio que resolve todos os problemas de uma determinada economia (se fosse assim, a Argentina, por exemplo, não estaria em dificuldades depois de seguir por anos as determinações do Fundo), mas a redução da disponibilidade de dólares para o Brasil tem se acentuado e para evitar uma instabilidade ainda maior dos mercados, o acesso a novos recursos é necessário", avalia o Lloyds TSB.
Somando-se as expectativas frustradas em relação ao FMI , a divulgação seqüencial de pesquisas eleitorais que consolidaram, nas últimas semanas o candidato Ciro Gomes (PPS) em segundo lugar na intenções de voto e a queda do candidato governista José Serra (PSDB) e a crise de confiança na contabilidade de empresas multinacionais e tem-se o quadro negro de ontem: o dólar comercial chegou a subir 8% e encerrou o dia cotado a 3,18 reais. O dia de hoje não será diferente. O mercado fica de olho no trio FMI/pesquisa eleitoral/mercado americano.
FMI
A missão do governo que viaja para Washington será chefiada pelo secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Amaury Bier. Também segue viagem o diretor de Política Econômica do BC, Ilan Goldfajn. A equipe econômica não tem como prever, mas espera que um acordo seja fechado nas próximas duas semanas. Fala-se em um empréstimo entre 5 e 10 bilhões de dólares. Armínio Fraga já teria dito que o valor ideal seria de 20 bilhões de dólares.
Poderia haver ainda uma nova redução no piso das reservas internacionais líquidas (que não incluem os recursos emprestados pelo FMI). É dessa reserva, cujo piso está hoje em US$ 15 bilhões, que o Banco Central retira os dólares para intervir no mercado de câmbio. Com piso menor, o BC pode usar mais dinheiro. Atualmente, as reservas estão próximas de 27 bilhões de dólares.
O fundo, por sua vez, disse nesta segunda-feira que espera ter discussões produtivas com a missão brasileira que vai a Washington. "O FMI aprova a decisão das autoridades brasileiras de mandar uma equipe a Washignton e estamos aguardando discussões produtivas", disse o porta-voz do Fundo.
Segundo analistas de bancos de investimentos, o mercado pode reagir bem a ida da missão aos EUA, mas "se nada for anunciado no curto prazo, a reação pode ser limitada: depois de muita conversa, os investidores parecem agora procurar fatos." Os fatos a serem monitorados nas próximas semanas:
Pesquisa eleitoral
O Ibope deve divulgar amanhã uma nova pesquisa de intenção de votos, encomendada pela Rede Globo. No último levantamento do instituto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estava com 32%, Ciro Gomes com 26% e José Serra, 13%. O mercado também pode começar a especular sobre a pesquisa do Instituto Toledo & Associados para a revista "Isto É.
Mercado americano
Nos Estados Unidos, será divulgado o índice de confiança do país, elaborado pelo Conference Board, no mês de julho. O resultado do indicador é considerado fundamental. Ele mostra o nível de consumo dos americanos, responsável por pelo menos 60% do PIB do país. Em outras palavras, é o consumo que estimula a atividade econômica. E, se a atividade econômica dos EUA não vai bem, o resto do mundo vai mal.
Na semana passada, a Universidade de Michigan, que faz um levantamento semelhante ao do Conference Board, apontou que a confiança do consumidor norte-americano recuou em julho, mas melhorou na segunda metade do mês. O indicador da Universidade caiu para o menor patamar desde novembro de 2001, de 92,4 pontos em junho para 88,1 pontos em julho. Além do indicador, os mercados ficam atentos ao presidente George W. Bush, que irá assinar a lei de combate às fraudes contábeis.
Outros indicadores do Brasil
A Fundação Getúlio Vargas divulga durante à tarde o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M). A expectativa é que a taxa fique em 1,9%.
O Tesouro Nacional leiloa hoje 300 mil Notas do Tesouro Nacional, série C, com vencimento em 1 de abril de 2008, e até 300 mil em NTN-C com vencimento em 1 de julho de 2017. O Tesouro também promove, das 12h às 13h, seu tradicional leilão de títulos públicos, ofertando até 500 mil papéis pré-fixados (LTN, Letras do Tesouro Nacional) ou pós-fixados (LFT, Letras Financeiras do Tesouro) de curtíssimo prazo.