Economia

Florianópolis

A ilha do turismo e do consumo

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h22.

Na temporada de janeiro a março de 2001, o aeroporto internacional Hercílio Luz, em Florianópolis, recebeu 818 vôos fretados - 747 internacionais e 71 domésticos. A charmosa capital catarinense, plantada na ilha de Santa Catarina, com seu visual deslumbrante e nada menos que 42 praias paradisíacas, é a cidade brasileira que mais recebe vôos fretados. E neste ano o número deve aumentar. Só argentinos, são esperados nada menos que 500 mil nas praias de Santa Catarina, 15% a mais que no último verão. Também são aguardados 45 navios de cruzeiros marítimos com parada na orla catarinense, 16 a mais que na última temporada.

O turismo é, sem dúvida, o principal combustível que vai mover daqui para a frente a economia de Florianópolis, que, neste ano, desbancou a gaúcha Porto Alegre como a segunda melhor cidade para fazer negócios no Brasil. Até pouco tempo atrás, a ilha era vítima do veranismo. Suas praias, hotéis e restaurantes lotavam de dezembro a março e ficavam às moscas no restante do ano. A inauguração de um Centro de Convenções, o Centro Sul, em junho de 1998, trouxe novas oportunidades. O centro foi bancado por um consórcio de empresas locais, que investiu 11,5 milhões de reais numa área central cedida pela prefeitura - à beira-mar, no aterro da Baía Sul, a poucos metros da rodoviária e a 13 quilômetros do aeroporto. Em três anos, foram realizados 336 eventos, atraindo mais de 670 mil visitantes. "A descoberta do turismo de negócios está atraindo novas redes de hotéis para a região central e empresas de serviços de apoio, como segurança e limpeza", diz Cristiane Martins Reitz, gerente-geral do Centro Sul.

A rede Accor, por exemplo, está erguendo um hotel com a bandeira Ibis no centro de Florianópolis, com 200 apartamentos e investimento de 14 milhões de reais. O grupo francês também está construindo um hotel de luxo Sofitel com 120 apartamentos na Beira-Mar Norte, a mais movimentada e badalada avenida da cidade, e um flat da rede Parthenon com 176 apartamentos. Com investimento de 15 milhões de reais, o complexo deverá ser inaugurado até 2004. A construtora RCD vai construir o Hotel Majestic, também na Beira-Mar, com 275 apartamentos, ao custo de 25 milhões de reais. "Nos últimos dois anos, nosso garoto-propaganda Gustavo Kuerten colocou Florianópolis no mapa", diz Ronaldo Daux, dono da RCD. Esses investimentos entusiasmam os empresários do setor. "Parece que descobriram Florianópolis", diz Volnei Koch, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Santa Catarina. Segundo ele, nos últimos dez anos, houve um crescimento de cerca de 10% ao ano no setor, com abertura de pousadas e pequenos hotéis, o que deixou a cidade com cerca de 20 mil leitos. "Agora são as grandes redes que estão chegando."

O dinamismo do turismo de negócios se reproduz no de lazer. Florianópolis está a uma hora de vôo das principais cidades do Mercosul. Com a BR-101 duplicada, o acesso à ilha está mais fácil também para turistas que vêm de carro de outros estados. O surto de crescimento incentivou o grupo gaúcho Habitasul, dono do Jurerê Internacional - um loteamento de luxo, lançado há 21 anos, com mais de 800 casas e 500 apartamentos -, a ampliar seu investimento. Em dezembro, a empresa vai inaugurar o Jurerê Beach Village, um resort de mais de 20 milhões de reais, com 242 apartamentos, complexo que abrigará shopping center, restaurantes e supermercado. "Já estamos projetando outros dois hotéis, ainda mais luxuosos que o Beach Village", diz Cláudio Candiota, diretor de hotelaria e serviços do grupo Habitasul.

Segundo principal destino dos turistas estrangeiros no país, a capital catarinense ainda carece de investimentos na área de gastronomia, lazer e entretenimento. Um exemplo: tem apenas sete salas de cinema. Mas esse quadro está mudando rapidamente. Das cerca de 14 mil empresas instaladas em Floripa, 54,7% são do ramo de serviços, 37,1% de comércio e apenas 7,9% são indústrias. A falta de tradição industrial, no entanto, não impediu Florianópolis de desenvolver um pólo de informática que está em franca expansão. Já há mais de 300 empresas de software na cidade. "O crescimento da indústria de informática é fruto de uma política que une universidades, empresas e incubadoras", diz José Fernando Faraco, dono da Digitro, fabricante de plataformas de tecnologia CPA digital para empresas de comunicações, e presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina.

O desenvolvimento dessas empresas atraiu para a região da Grande Florianópolis uma população de mais de mil doutores. Muitos deles vieram de outros estados e estão ajudando a engrossar as fileiras de migrantes que não param de chegar à ilha em busca de melhor qualidade de vida. A vantagem desse tipo de migrante é que ele está

injetando dinheiro na economia - a receita do município aumentou mais de 30% entre 1998 e 2000. Os migrantes já são praticamente 11% da população de 340 mil habitantes de Florianópolis.

O crescimento acelerado e a procura por imóveis está transformando o mercado imobiliário local. "Os terrenos estão se valorizando cerca de 50% ao ano", diz José Henrique Carneiro, presidente do Secovi (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis e Condomínios) de Florianópolis. Existe uma limitação de espaço na ilha, e a cidade está ficando muito verticalizada. Estima-se que haja mais de 5 mil edifícios na Grande Florianópolis. "Se o crescimento não for ordenado, pode comprometer a qualidade de vida que as pessoas buscam aqui", diz Carneiro.

A atração de migrantes abonados resulta em outro fenômeno: 47,4% dos domicílios urbanos são das classes A e B, mais que o dobro da média entre os municípios pesquisados pela Simonsen Associados. Florianópolis já é o maior centro de consumo de Santa Catarina - o potencial de consumo per capita, de 4 623 dólares, é o terceiro mais alto entre as dez principais cidades listadas. A ilha atrai gente como o gaúcho Renan Dalzotto, ex-craque da Seleção Brasileira de Vôlei, que há três anos mora numa bonita casa em Jurerê Internacional com a mulher, Annalisa, e os filhos Gianluca e Enzo. "Vivo na beira da praia e me realizo profissionalmente", diz Renan. Como gerente de esportes da Universidade do Sul de Santa Catarina, a Unisul, ele criou o Unisul Esporte Clube, com equipes de várias modalidades. A Unisul também está capitaneando o projeto da Escola de Gastronomia, em parceria com o governo do estado e recursos do MEC, com o objetivo de qualificar a culinária da ilha, com ênfase numa matéria-prima abundante: Florianópolis é a maior produtora nacional de ostras e mexilhões.

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