Exame Logo

Fila do desemprego aumenta na capital brasileira do petróleo

Empresas terceirizadas que prestam serviços para a Petrobras demitiram cerca de 6.000 pessoas nos últimos seis meses

Macaé: cidade no litoral norte do Rio de Janeiro é considerada a capital brasileira do petróleo (Marcelo Correa/EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 1 de maio de 2015 às 09h56.

Macaé - "Eles roubaram e nós perdemos o emprego". Esta frase sobre os corruptos que se apropriaram de bilhões de dólares da Petrobras se repete como um mantra na boca dos trabalhadores que procuram emprego em Macaé, a capital brasileira do petróleo .

A dimensão da crise na cidade do litoral norte do Rio de Janeiro, porto de embarque para as plataformas marítimas, é medida pela extensão da fila que se forma a cada manhã em frente à Secretaria Municipal de Trabalho, e que, às vezes, chega a dobrar duas esquinas.

Vladimilson Pereira da Silva, que trabalhava como motorista para uma empresa terceirizada pela Petrobras, aguardava diante da porta fechada da secretaria desde as cinco da madrugada. Era o primeiro da fila.

"Por causa desta crise da Petrobras, fui despedido no dia 12 de janeiro. Estou este tempo todo desempregado e sem perspectiva de novas oportunidades, como tinha antes deste escândalo, porque aqui nesta cidade tudo gira ao redor do petróleo, e enquanto a situação não se normalizar, continuo sem perspectiva", disse ele.

O motorista já cogita voltar ao Rio de Janeiro, sua cidade natal, mas a situação de empregos na capital não é tão boa, e o fato de nenhum setor igualar os suculentos salários da indústria petrolífera o desanima.

Maicon da Silva, ex-operador de guindaste em uma plataforma marítima, também em uma terceirizada, está há 15 meses em terra, sem um trabalho fixo e sem receber o seguro-desemprego faz tempo.

Apesar de ter alta qualificação, Maicon se viu obrigado a trabalhar ocasionalmente na construção, um trabalho duro e extenuante que paga cerca de R$ 80 por dia, o que nem sempre é suficiente para pagar as contas.

"É uma questão de dignidade. De não passar aperto, chegar o fim de semana e poder sair de casa e fazer algo com minha família, com minha mulher e meus dois filhos. Estou na mão de Deus", comentou.

As empresas terceirizadas que prestam serviços para a Petrobras demitiram cerca de seis mil pessoas nos últimos seis meses por causa do final de vários contratos que não foram renovados por causa da crise da estatal e pela queda do preço do petróleo, informou o Sindicato de Trabalhadores Offshore (Sinditob).

O presidente do Sinditob, Amaro Luiz Alves da Silva, disse à Agência Efe que a sangria não acabou. A empresa Schahin porá na rua em maio outros 500 trabalhadores da área de perfuração de poços, o setor que mais demanda mão de obra.

"(O setor) está parado, e isso gerou um efeito cascata em Macaé", explicou Amaro.

Esta antiga vila de pescadores prosperou e sua população quintuplicou em três décadas por causa do petróleo, chegando a 229 mil habitantes, a maioria dedicada direta ou indiretamente ao setor petroleiro.

As empresas de helicópteros, que levam os trabalhadores até as plataformas no Atlântico, despediram 136 pilotos desde julho porque as petroleiras cancelaram ou adiaram novos contratos à espera do desenrolar das investigações.

Do mesmo modo, os hotéis operam com metade da capacidade, e a demanda do setor gastronômico caiu entre 30% e 40%, segundo cálculos da prefeitura.

A construção civil foi um dos setores mais atingidos: entre fevereiro e março, 681 trabalhadores fixos foram demitidos, e por toda Macaé é fácil encontrar edifícios com andaimes abandonados ou com obras em ritmo muito lento.

As finanças da prefeitura estão em uma situação "muito delicada", causada pela drástica redução da receita dos royalties do petróleo, consequência direta da queda do preço do barril no mercado internacional, disse o secretário de Desenvolvimento Econômico da cidade, Vandré Guimarães.

Os royalties petrolíferos forneciam aos cofres de Macaé cerca de R$ 40 milhões por mês. Em fevereiro, esse número caiu para R$ 22 milhões.

Em consequência, a prefeitura teve que cortar as despesas não prioritárias em 20% e só salvou da tesoura os setores de educação, saúde e obras públicas.

A crise não é mais grave porque as plataformas em operação da Petrobras continuam a bombear com capacidade máxima, inclusive com recordes de produção.

Segundo o sindicato Sindipetro, na empresa houve um leve aumento das demissões, explicáveis por fatores "sazonais", embora todo novo investimento - exatamente o que desencadeou o desenvolvimento de Macaé - esteja paralisado.

A Petrobras divulgará até junho seu plano de negócios para os próximos cinco anos, que contemplará grandes cortes em novos investimentos, e os trabalhadores de Macaé aguardam impacientes por essa definição, porque o documento projetará as perspectivas de emprego da cidade.

Veja também

Macaé - "Eles roubaram e nós perdemos o emprego". Esta frase sobre os corruptos que se apropriaram de bilhões de dólares da Petrobras se repete como um mantra na boca dos trabalhadores que procuram emprego em Macaé, a capital brasileira do petróleo .

A dimensão da crise na cidade do litoral norte do Rio de Janeiro, porto de embarque para as plataformas marítimas, é medida pela extensão da fila que se forma a cada manhã em frente à Secretaria Municipal de Trabalho, e que, às vezes, chega a dobrar duas esquinas.

Vladimilson Pereira da Silva, que trabalhava como motorista para uma empresa terceirizada pela Petrobras, aguardava diante da porta fechada da secretaria desde as cinco da madrugada. Era o primeiro da fila.

"Por causa desta crise da Petrobras, fui despedido no dia 12 de janeiro. Estou este tempo todo desempregado e sem perspectiva de novas oportunidades, como tinha antes deste escândalo, porque aqui nesta cidade tudo gira ao redor do petróleo, e enquanto a situação não se normalizar, continuo sem perspectiva", disse ele.

O motorista já cogita voltar ao Rio de Janeiro, sua cidade natal, mas a situação de empregos na capital não é tão boa, e o fato de nenhum setor igualar os suculentos salários da indústria petrolífera o desanima.

Maicon da Silva, ex-operador de guindaste em uma plataforma marítima, também em uma terceirizada, está há 15 meses em terra, sem um trabalho fixo e sem receber o seguro-desemprego faz tempo.

Apesar de ter alta qualificação, Maicon se viu obrigado a trabalhar ocasionalmente na construção, um trabalho duro e extenuante que paga cerca de R$ 80 por dia, o que nem sempre é suficiente para pagar as contas.

"É uma questão de dignidade. De não passar aperto, chegar o fim de semana e poder sair de casa e fazer algo com minha família, com minha mulher e meus dois filhos. Estou na mão de Deus", comentou.

As empresas terceirizadas que prestam serviços para a Petrobras demitiram cerca de seis mil pessoas nos últimos seis meses por causa do final de vários contratos que não foram renovados por causa da crise da estatal e pela queda do preço do petróleo, informou o Sindicato de Trabalhadores Offshore (Sinditob).

O presidente do Sinditob, Amaro Luiz Alves da Silva, disse à Agência Efe que a sangria não acabou. A empresa Schahin porá na rua em maio outros 500 trabalhadores da área de perfuração de poços, o setor que mais demanda mão de obra.

"(O setor) está parado, e isso gerou um efeito cascata em Macaé", explicou Amaro.

Esta antiga vila de pescadores prosperou e sua população quintuplicou em três décadas por causa do petróleo, chegando a 229 mil habitantes, a maioria dedicada direta ou indiretamente ao setor petroleiro.

As empresas de helicópteros, que levam os trabalhadores até as plataformas no Atlântico, despediram 136 pilotos desde julho porque as petroleiras cancelaram ou adiaram novos contratos à espera do desenrolar das investigações.

Do mesmo modo, os hotéis operam com metade da capacidade, e a demanda do setor gastronômico caiu entre 30% e 40%, segundo cálculos da prefeitura.

A construção civil foi um dos setores mais atingidos: entre fevereiro e março, 681 trabalhadores fixos foram demitidos, e por toda Macaé é fácil encontrar edifícios com andaimes abandonados ou com obras em ritmo muito lento.

As finanças da prefeitura estão em uma situação "muito delicada", causada pela drástica redução da receita dos royalties do petróleo, consequência direta da queda do preço do barril no mercado internacional, disse o secretário de Desenvolvimento Econômico da cidade, Vandré Guimarães.

Os royalties petrolíferos forneciam aos cofres de Macaé cerca de R$ 40 milhões por mês. Em fevereiro, esse número caiu para R$ 22 milhões.

Em consequência, a prefeitura teve que cortar as despesas não prioritárias em 20% e só salvou da tesoura os setores de educação, saúde e obras públicas.

A crise não é mais grave porque as plataformas em operação da Petrobras continuam a bombear com capacidade máxima, inclusive com recordes de produção.

Segundo o sindicato Sindipetro, na empresa houve um leve aumento das demissões, explicáveis por fatores "sazonais", embora todo novo investimento - exatamente o que desencadeou o desenvolvimento de Macaé - esteja paralisado.

A Petrobras divulgará até junho seu plano de negócios para os próximos cinco anos, que contemplará grandes cortes em novos investimentos, e os trabalhadores de Macaé aguardam impacientes por essa definição, porque o documento projetará as perspectivas de emprego da cidade.

Acompanhe tudo sobre:Capitalização da PetrobrasCorrupçãoDesempregoEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEnergiaEscândalosEstatais brasileirasFraudesGás e combustíveisIndústria do petróleoOperação Lava JatoPetrobrasPetróleo

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Economia

Mais na Exame