Economia

Inflação acelera a 0,25% em fevereiro, menor nível para o mês em 20 anos

Acima do esperado pelo mercado, o IPCA do mês reflete os reajustes de mensalidade no início do ano letivo

Estudante: acima do esperado no mercado, o IPCA de fevereiro reflete os reajustes de mensalidade no início do ano letivo (PhotoAlto/Sigrid Olsson/Getty Images)

Estudante: acima do esperado no mercado, o IPCA de fevereiro reflete os reajustes de mensalidade no início do ano letivo (PhotoAlto/Sigrid Olsson/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 11 de março de 2020 às 09h06.

Última atualização em 11 de março de 2020 às 10h31.

São Paulo — A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou para 0,25% em fevereiro, o menor resultado para o mês desde 2000, quando o índice foi de 0,13%, revelou o  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (11). Em janeiro, a alta havia sido de 0,21%.

O avanço nos preços, comum nesta época do ano, foi puxada pelo grupo Educação (3,70%) e reflete os reajustes de mensalidade no início do ano letivo, especialmente referentes aos cursos regulares (4,42%), em que aparecem ensino fundamental, médio, graduação e pós-graduação, cursos preparatórios e de idiomas, por exemplo.

“Os cursos regulares têm grande impacto no índice porque têm um peso maior dentro do orçamento das famílias”, explica o gerente de Índice de Preços do IBGE, Pedro Kislanov no material de divulgação do índice.

O resultado ficou um pouco acima do esperado pelo mercado, cujo consenso convergia para 0,15% segundo a Bloomberg. "A maior surpresa entre as altas de fevereiro foi a no grupo de cuidados pessoais, no qual os preços subiram 2,12%, ante -2,07% em janeiro", destaca Alberto Ramos, diretor do Goldman Sachs para América Latina, em relatório. O economista nota também uma desaceleração mais suave do que o esperado da inflação nos alimentos consumidos em casa.

No ano, o IPCA acumula alta de 0,46% e, nos últimos 12 meses, de 4,01%, abaixo dos 4,19% observados nos 12 meses anteriores. Em fevereiro de 2019, a taxa havia sido de 0,43%.

A projeção dos especialistas de instituições financeiras ouvidos pelo último Boletim Focus é de que a inflação esteja em 3,20% no fim de 2020. A meta é de 4%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Gráfico - IBGE - 2020-3-11

O grupo Alimentação e bebidas desacelerou para 0,11% em fevereiro, afetado novamente pela queda nos preços das carnes (-3,53%), que haviam recuado 4,03% em janeiro após ter um pico no fim do ano passado.

“Com essa queda, o item carnes está devolvendo a alta de 32,40% no acumulado de 2019, embora ainda não tenha devolvido completamente. É importante destacar que a distribuição entre as áreas é diferente. No Rio de Janeiro, por exemplo, os preços das carnes têm caído mais”, diz Kislanov.

A deflação das carnes contribuiu para a desaceleração da alimentação no domicílio (0,06%, frente a 0,20% em janeiro). No lado das altas, os destaques foram o tomate (18,86%) e cenoura (19,83%), segundo o IBGE.

Do lado das quedas, os recuos mais relevantes foram nos grupos Habitação (-0,39%) e Transportes (-0,23%). Esse primeiro havia registrado alta de 0,55% no mês anterior. A queda foi puxada principalmente pelo item energia elétrica (-1,71%), em função da mudança da bandeira tarifária de amarela para verde. Na bandeira amarela, é cobrado um acréscimo para cada 100 quilowatts-hora consumidos.

Transportes também havia subido em janeiro (0,32%). Gasolina e passagens aéreas foram os maiores impactos negativos no grupo, com deflação de -0,72% e -6,85%, respectivamente .

Apesar de vir acima do esperado, Ramos destaca que o IPCA de fevereiro está num nível confortável, já que a economia ainda conta com um grande hiato negativo do produto e com um cenário ainda ruim no mercado de trabalho. "As perspectivas reduzidas para o crescimento real de curto prazo do PIB devem contribuir para manter a inflação bem ancorada, em nossa visão", diz.

O cenário abre caminho ainda, segundo o especialista, para que o Banco Central corte os juros. "O esperado impacto negativo significativo na economia do atual surto global de coronavírus, o grande declínio nos preços das commodities e a mudança para condições monetárias globais mais acomodatícias devem permitir ao Copom baixar moderadamente o Selic nos próximos meses", diz.

 

GrupoVariação janeiro (%)Variação fevereiro (%)
Índice Geral0,210,25
Alimentação e Bebidas0,390,11
Habitação0,55-0,39
Artigos de Residência-0,07-0,08
Vestuário-0,48-0,73
Transportes0,32-0,23
Saúde e Cuidados Pessoais-0,320,73
Despesas Pessoais0,350,31
Educação0,163,70
Comunicação0,120,21
GrupoImpacto janeiro (%)Impacto fevereiro (%)
Índice Geral0,210,25
Alimentação e Bebidas0,070,02
Habitação0,08-0,06
Artigos de Residência00
Vestuário-0,02-0,03
Transportes0,06-0,05
Saúde e Cuidados Pessoais-0,040,10
Despesas Pessoais0,040,03
Educação0,010,23
Comunicação0,010,01

 

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralInflaçãoIPCA

Mais de Economia

Lula pede a construtoras maior participação em faixa do Minha Casa, Minha Vida voltada a mais pobres

Arrecadação de impostos atinge R$ 2,65 trilhões em 2024 e bate recorde da série histórica

Às vésperas do Copom, cenário para inflação deteriora a reboque da incerteza fiscal

China aprova investimento de US$ 7 bilhões de seguradoras no mercado de ações