Economia

Fed calibra expectativas e alivia Brasil, dizem economistas

Anúncio de que o programa de compra de títulos não será reduzido por enquanto surpreendeu o mercado


	Ben Bernanke, presidente do Fed, em Jackson Hole
 (David Stubbs/Reuters)

Ben Bernanke, presidente do Fed, em Jackson Hole (David Stubbs/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 18 de setembro de 2013 às 16h55.

São Paulo - O Federal Reserve surpreendeu nesta quarta-feira. Era grande a expectativa de que o banco central americano anunciaria a redução do ritmo do Quantitative Easing - o que não aconteceu.

O programa consiste na compra de US$ 85 bilhões em títulos por mês para estimular a economia e está em vigor desde novembro de 2008, no auge da crise.

Em junho deste ano, o presidente do Banco Central Ben Bernanke sinalizou que com a melhora das condições econômicas americanas, o ritmo de compra poderia ser reduzido nos meses seguintes, levando ao eventual encerramento do QE em meados de 2014.

Esta expectativa era a principal razão por trás da desvalorização das moedas emergentes nos últimos meses. Depois do anúncio de hoje, o dólar já está caindo ao redor do mundo, assim como as expectativas de juros futuros. 

Para Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da consultoria Tendências, a surpresa não foi tão grande: "O próprio Bernanke já vinha dizendo que o Fed seria gradualista e que não queria ameaçar a recuperação. A economia americana está naquela região limítrofe: mesmo os números positivos não são tão positivos quanto o mercado espera. No momento, eles querem evitar uma mudança na politica monetária que depois poderiam precisar reverter." 

Ele considera que houve um exagero nos últimos meses: "O mercado estava muito puxado pro outro lado: houve uma sobre-reação, muito clara no mercado de títulos. Há um excesso de pessimismo em relação aos emergentes. Nós não deveríamos ter nada a temer com a recuperação americana: a situação externa é desafiadora, mas não há tragédia."

Para o Brasil, o anúncio é um respiro: "A tendência é de um certo alivio no curto prazo, pois tira a pressão do câmbio. Ainda assim, a política de compra de ativos é excepcional, envolve riscos e será revertida em algum momento."


Tony Volpon, chefe de pesquisa de mercados emergentes para as Américas do banco japonês Nomura em Nova York, esperava uma redução do QE: "É uma surpreendente guinada de posição no que estava sendo sinalizado desde maio. Havia uma visão que o Fed seria insensível aos últimos dados econômicos, que mostraram inflação mais baixa e crescimento do emprego mais fraco do que o esperado."

Ele acredita que o mercado não soube ler o banco central americano: "Todos avaliavam que essa seria uma decisão estratégica e que o Fed não estava mais vendo os benefícios do programa e sim os riscos envolvidos. Esta avaliação estava errada, pois eles deram mais força aos dados e disseram que precisam ver mais evidencias da retomada."

Volpon também vê o movimento do Fed como positivo para o país: "Por hora, são boas notícias para o Brasil, que já havia saido da pior para a melhor performance entre os emergentes nas últimas semanas."

Alexandre Schwartsman, ex-economista-chefe do grupo Santander Brasil e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, o Fed quis passar um recado: “Havia um consenso de que o mercado queria começar a diminuição agora, mas o Fed insistiu que nada está em um curso pré-determinado e que tudo é contingente na evolução da economia. O juro de longo prazo havia subido muito, uma coisa que eles não queriam que acontecesse, e agora deve se corrigir. Eles estão tentando dar uma calibrada; é esta a mensagem."

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