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Fazendeiros argentinos temem escalada de impostos após pacote do governo

Cinco dias após a posse, Fernández elevou os impostos sobre vendas de soja em grãos, farelo de soja e óleo de soja de cerca de 24,5% para 30%

Plantação: Argentina é líder mundial na exportação de farelo de soja para ração animal e óleo de soja para cozinhar. (Diego Giudice/Bloomberg)

Ligia Tuon

Publicado em 17 de dezembro de 2019 às 18h12.

Última atualização em 17 de dezembro de 2019 às 18h13.

Um aumento nos impostos de exportação pelo novo governo da Argentina pode não alterar os planos de plantio por enquanto. Mas muitos agricultores temem que seja apenas o primeiro de vários acréscimos implementados pelo presidente Alberto Fernández.

Cinco dias após a posse, Fernández elevou os impostos sobre vendas de soja em grãos, farelo de soja e óleo de soja de cerca de 24,5% para 30%. A alíquota sobre vendas de milho e trigo subiu de aproximadamente 6,5% para 12%. A Argentina é líder mundial na exportação de farelo de soja para ração animal e óleo de soja para cozinhar.

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Embora amplamente antecipada pelos fazendeiros, a medida adotada rapidamente por Fernández gerou pânico de mais aumentos. Ainda que o presidente deseje estimular as exportações para trazer os dólares necessários para revitalizar a economia e pagar dívidas, os produtores temem a prevalência de atitudes hostis em relação ao setor agrícola, bastante notáveis entre alguns integrantes da coalizão peronista.

“O problema é que este é o começo de um conceito”, disse Santiago Fernández de Maussion, agricultor da província de Córdoba. “Não sei se as taxas permanecerão onde estão.”

Alguns líderes agrícolas expressaram revolta com a medida na segunda-feira e alertaram para a possibilidade de redução na produção no Cinturão dos Pampas. No entanto, as novas alíquotas são apenas um pouco mais altas do que as praticadas em setembro do ano passado. Foi quando o ex-presidente Mauricio Macri, grande defensor do livre mercado, recorreu ao aumento dos impostos de exportação para controlar o déficit fiscal, após a pressão do Fundo Monetário Internacional.

Consequentemente, o padrão de plantio dos últimos anos — que resultou em recordes nas colheitas de milho e trigo e abundantes safras de soja — não deve se alterar, acredita Eugenio Irazuegui, chefe de pesquisa da corretora de grãos Enrique Zeni. “Se essas taxas forem mantidas, não haverá grandes mudanças”, disse ele em entrevista por telefone de Rosário.

A preocupação era que os impostos sobre a exportação de milho e trigo voltassem aos níveis do início da década, de pelo menos 20%, o que pressionaria as margens de lucro e forçaria os fazendeiros a plantar soja, que tem menor preço.

As alíquotas definidas no fim de semana não comprometem as sequências de rotação nos Pampas por enquanto. “Não é tão ruim quanto poderia ser”, disse Juan Ouwerkerk, presidente da cooperativa de fazendas Alfa, na província de Buenos Aires. “A rotação de plantações deve permanecer estável.”

De qualquer forma, os efeitos no plantio não seriam vistos até o ano que vem porque o trigo desta temporada já está sendo colhido e é tarde demais para reverter os planos para soja e milho, que estão sendo semeados.

No entanto, com grande parcela dessas safras já negociadas por agricultores experientes que antecipavam o aumento de impostos, pode haver impacto nos mercados globais de grãos à medida que o ritmo de vendas diminui “consideravelmente”, alimentando preocupações em relação à oferta argentina, explicou Jacob Christy, operador da Andersons, em vídeo publicado na internet.

Produtores argentinos apressaram comerciantes em antecipação a aumento de impostos (Bloomberg/Divulgação)

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