Economia

Exposição dos bancos à crise fiscal nos estados chega a R$49,8 bi

A conta considera os desequilíbrios fiscais dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Goiás

Rio de Janeiro: os cálculos foram feitos a partir da classificação de risco feita pelo Tesouro Nacional para Estados e municípios (Oscar Cabral/Divulgação)

Rio de Janeiro: os cálculos foram feitos a partir da classificação de risco feita pelo Tesouro Nacional para Estados e municípios (Oscar Cabral/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 3 de abril de 2017 às 17h03.

Brasília - O diretor de Fiscalização do Banco Central, Anthero Meirelles, avaliou nesta segunda-feira, 3, que a exposição do Sistema Financeiro Nacional (SFN) aos desequilíbrios fiscais de Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Goiás em caso de default desses governos chega a R$ 49,8 bilhões, o que levaria a uma necessidade de capital de R$ 9,5 bilhões aos bancos, considerada baixa pelo BC.

Os cálculos foram feitos a partir da classificação de risco feita pelo Tesouro Nacional para Estados e municípios, e considerou seus servidores e as empresas públicas, além das suas principais cadeias de fornecedores e respectivos funcionários. As contas do BC excluíram os débitos que têm garantias da União, porque são valores recuperáveis.

Adicionando os Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Acre, Santa Catarina e a cidade de Itabuna (BA) ao primeiro grupo - de RJ, MG, RS e GO -, a exposição do SFN aumentaria para R$ 101,6 bilhões, com necessidade de capital de R$ 19,7 bilhões.

E com a adição de Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e os municípios com nota C+ a essa simulação, a exposição do SFN chega a R$ 120,7 bilhões, o que demandaria um aporte de capital de R$ 24,3 bilhões.

"Esse exercício mostra que, mesmo estressando a situação fiscal desses entes, o sistema financeiro tem condições de absorver e gerenciar eventuais perdas", comentou o diretor.

Ativos problemáticos

Meirelles também ser provável que os ativos problemáticos de crédito para pessoas físicas já tenham alcançado um pico, e que agora começaria um processo de normalização. Segundo ele a perspectiva de aumento de ativos problemáticos para o SFN se dá, principalmente, pela grandes empresas.

"Já houve uma desalavancagem importante das famílias", afirmou. "À medida que a economia melhorar, a tendência é que os ativos problemáticos de pessoas físicas caiam", completou, ao comentar o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) do segundo semestre de 2016.

Segundo ele, o aumento de ativos problemáticos de pequenas e médias empresas também já teria ficado para trás. Já entre as grandes corporações, acrescentou, há ainda impactos de ativos problemáticos de companhias envolvidas na Operação Lava Jato, além da Oi e da Sete Brasil. "Essa perspectiva é muito impactada por eventos específicos", argumentou.

Anthero Meirelles destacou que a distensão monetária, com a queda da Selic, já trará um alívio para o carregamento desses passivos pelas empresas não financeiras. "Na nossa visão, os principais riscos já se materializaram e foram absorvidos pelas provisões adicionais formadas, e nossa expectativa é que isso entre em processo de estabilização, com queda a partir do momento em que a economia se recupere", estimou. "Há uma certa defasagem nesse processo. Ativos problemáticos podem continuar sendo percebidos até uma renegociação adequada", explicou.

Estímulo a novos bancos

Questionado sobre a grande concentração no mercado bancário no País e o seu impacto sobre as altas taxas de juros cobradas aos tomadores de crédito, o diretor de Fiscalização do Banco Central considerou que a concorrência é "muito bem vinda" e disse achar que a própria recuperação da atividade econômica do País pode causar uma renovação da vontade de novos bancos estrangeiros atuarem aqui.

"Poderemos ver esse interesse ser renovado na medida que os riscos e incertezas (da economia brasileira) vão se dissipando", alegou. "O grande estímulo para a entrada de novos concorrentes é um mercado que cresce e se recupera. A queda do risco Brasil e o endereçamento de questões fiscais, com uma política macroeconômica que gere confiança nos agentes é o que vai estimular a chegadas de novos concorrentes.

Meirelles afirmou ainda que o governo tem trabalhado em alternativas para a redução estrutural do custo de crédito no País. Ele destacou que um dos principais fatores para o custo dos empréstimos no Brasil é a inadimplência.

"Estamos trabalhando para reduzir o custo relacionado à inadimplência, que acaba representando um ônus para todo mundo. Isso passa por melhorar o chamado cadastro positivo e o sistema de garantias e recuperação de crédito. A história brasileira mostra resultados muito interessantes quando você aumenta a garantia e a segurança da concessão de crédito", avaliou o representante do BC.

O diretor disse não saber se o aumento das garantias no crédito teria mais impacto que o aumento da concorrência bancária sobre o custo do empréstimos no País.

Acompanhe tudo sobre:Banco CentralBancosCrise econômicaDéficit públicoEstados brasileirosRio de Janeiro

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor