O índice acionário de referência da MSCI desabou 10% e as moedas do grupo se depreciaram quase 6% (Foto/Thinkstock)
João Pedro Caleiro
Publicado em 1 de julho de 2018 às 08h00.
Última atualização em 2 de julho de 2018 às 10h04.
Um trimestre sombrio para os entusiastas dos mercados emergentes está chegando ao fim, mas ninguém sabe se as coisas vão melhorar adiante, especialmente no curto prazo.
Ações, títulos e moedas de países emergentes amargaram o pior trimestre desde 2015 e o cenário atual não é trivial: há temores sobre uma guerra comercial, os EUA continuam a apertar sua política monetária, há eleições na América Latina e houve piora nas projeções para o crescimento econômico global. Os preços dos ativos parecem atraentes, mas diante do conjunto de riscos, investidores receiam voltar a esses mercados.
O consenso é que, no curto prazo, essa classe de ativos está à mercê das notícias sobre o comércio internacional. Recentemente, Goldman Sachs Group, Morgan Stanley e Citigroup alertaram para mais perdas nos emergentes por conta da guerra tarifária entre EUA e China.
Mesmo as instituições mais otimistas, como UBS Global Wealth Management, aguardam o rancor entre os governos na área comercial esfriar para então voltarem com tudo a esses mercados.
“Do ponto de vista dos preços dos ativos, há valores atraentes. Mas taticamente, esperamos mais perdas nas próximas semanas”, disse Alessio de Longis, gestor de carteiras da OppenheimerFunds em Nova York, cujo fundo Global Multi-Asset Income Fund teve desempenho melhor que 89 por cento dos pares no último mês.
Ele também destacou as preocupações em relação às eleições no México e Brasil — com possibilidade de vitórias por candidatos desfavoráveis aos mercados — e a típica aversão a risco durante as férias de verão no Hemisfério Norte, que podem pressionar as moedas de países emergentes nos próximos meses.
O que parecia um recuo moderado no início do ano evoluiu para um grande tombo no segundo trimestre. O índice acionário de referência da MSCI desabou 10 por cento e as moedas do grupo se depreciaram quase 6 por cento, registrando os piores resultados trimestrais desde setembro de 2015, quando os ativos das nações em desenvolvimento estavam em queda livre devido à derrocada dos preços das commodities e às negociações para o resgate financeiro da Grécia.
Títulos de países emergentes denominados em moeda local também se queimaram porque o retorno que proporcionam aos investidores estrangeiros é automaticamente espremido pelo fortalecimento do dólar. Um índice do Barclays que acompanha o segmento caiu mais de 5,5 por cento neste trimestre, eliminando totalmente o ganho de 3 por cento apurado entre janeiro e março.
A desvalorização cambial que prejudicou os títulos provocou respostas de diversos bancos centrais. A Argentina subiu a taxa básica de juros em 6,75 pontos percentuais para 40 por cento para conter o colapso do peso. A Turquia também elevou os juros, apesar da pressão contrária do presidente Recep Tayyip Erdogan.
Índia, Indonésia e Filipinas também apertaram a política monetária, enquanto o Banco Central do Brasil interrompeu antes do previsto o ciclo de flexibilização e tem feito intervenções pesadas no mercado de câmbio para segurar a queda do real.
“Os bancos centrais nos emergentes estão reagindo de maneira ortodoxa”, disse Timothy Ash, especialista em ativos soberanos de países emergentes da Bluebay Asset Management, em Londres. No entanto, “se as preocupações com uma guerra comercial atingirem o crescimento global e isso impactar as commodities, então os mercados emergentes podem entrar em uma fase pessimista de fato.”
Analistas estão cortando as projeções de lucro das empresas pela primeira vez em seis trimestres. Embora o crescimento nas nações emergentes siga intacto, o temor é que as tarifas impostas por EUA e China diminuam a demanda global e prejudiquem economias dependentes das exportações.
Alguns investidores enxergam oportunidades nos destroços. Para Greg Lesko, gestor de recursos da Deltec Asset Management, em Nova York, apesar dos “muitos obstáculos” ao avanço dos mercados emergentes, a queda recente dos preços criou oportunidades de compra porque, no longo prazo, os fundamentos econômicos permanecem robustos.
“Todos os mercados emergentes parecem baratos", ele disse. “Os desafios e riscos são principalmente políticos."