Eletrobras: "Eu acredito na execução desse projeto... ele é bom para o consumidor, porque vai baixar a tarifa" (Nadia Sussman/Bloomberg)
Reuters
Publicado em 10 de novembro de 2017 às 21h19.
Rio de Janeiro - A privatização da Eletrobras será a maior da história do Brasil em termos de valores envolvidos e deve atrair forte interesse de players como fundos de investimento e de pensão, além de atuais acionistas minoritários da companhia, disse nesta sexta-feira o presidente da elétrica, Wilson Ferreira Júnior.
A operação deve arrecadar 12 bilhões de reais para o Tesouro em 2018, além de gerar recursos para a Eletrobras e para abater encargos nas contas de luz ao longo dos próximos 30 anos, disse o executivo, que garantiu que a desestatização não irá elevar custos para os consumidores.
O governo revelou em agosto os planos de privatizar a Eletrobras, que serão efetivados por meio de uma oferta de novas ações que diluirá a União para uma fatia minoritária na companhia, de menos de 40 por cento.
"Eu acredito na execução desse projeto... ele é bom para o consumidor, porque vai baixar a tarifa. E não é só baixar, você vai criar condições de mantê-la baixa", afirmou Ferreira, em entrevista à Reuters no Rio de Janeiro.
As ações preferenciais da Eletrobras acumulam alta de cerca de 20 por cento desde que o executivo deixou a privada CPFL Energia e assumiu a companhia, em julho de 2016.
Para atrair ainda mais interesse do mercado na oferta de ações, a Eletrobras definirá um plano de negócios para os próximos anos que irá prever a retomada dos investimentos da companhia em novos projetos de geração e transmissão já em 2018 ou no início de 2019.
"Não tenho dúvidas que, se tiver um plano de negócios criador de valor, entra quem não está e aumenta a aposta quem já está. Dúvida zero nisso", afirmou.
O grupo atual de acionistas minoritários da Eletrobras inclui nomes como Banco Clássico, Citibank, fundos da gestora 3GRadar e o Banco Central da Noruega (Norges Bank), e outros fundos também são vistos por Ferreira como possíveis compradores de papéis da companhia.
"Todos os fundos que são atrelados ao setor elétrico globalmente, todos os fundos de infraestrutura, os fundos de países emergentes, fundos de pensão. É o investidor institucional", apontou.
Mas o presidente da Eletrobras alertou que é fundamental que o governo federal solucione rapidamente um impasse sobre o tratamento do risco hidrológico no setor elétrico, iniciado após anos consecutivos de chuvas abaixo da média na região das hidrelétricas do país.
Com pouca água nos reservatórios, as hidrelétricas não têm conseguido produzir toda a energia que venderam em contratos, o que impactou o faturamento das empresas do segmento e gerou uma guerra judicial no mercado de eletricidade que se arrasta desde meados de 2015.
Na privatização da Eletrobras, está previsto que a companhia utilizará valores arrecadados com a oferta de ações para pagar ao governo federal um bônus em troca de novos e mais vantajosos contratos para suas hidrelétricas mais antigas, mas o risco hídrico pode reduzir a projeção de retorno desses ativos.
"É muito importante... certamente o GSF (jargão técnico do risco hidrológico) é um ‘issue’ na precificação e é bom que seja resolvido antes da operação... Se a gente achava que isso era (um risco) marginal no passado, hoje a gente vê que não é”, afirmou.
O Ministério de Minas e Energia decidiu nesta semana dar um tratamento urgente ao tema, com o envio de uma medida provisória (MP) à Casa Civil que propõe um acordo entre governo e empresas para resolver o impasse.
O presidente da Eletrobras também avaliou que há muito apetite de possíveis compradores por um conjunto de 77 participações minoritárias em linhas de transmissão e usinas eólicas e por distribuidoras de energia da companhia que serão colocadas à venda até o final do primeiro quadrimestre de 2018.
O executivo disse que provavelmente todas fatias em ativos de geração e transmissão serão vendidas rapidamente e que muitas podem ficar com os sócios atuais da Eletrobras nos empreendimentos.
"Acho que pode vender as 77, antes das distribuidoras. Pelo interesse que a gente vê dos sócios, talvez se consiga vender para os sócios diretamente", explicou Ferreira.
Ele disse ainda, sem citar nomes, que tem recebido muitas manifestações de potenciais compradores para as distribuidoras.
"O interesse existe e não é pequeno. É a ultima oportunidade de entrar em empresas com esse potencial... há uma demanda reprimida... o potencial de crescimento em cima da base que está lá é certamente muito maior (que em outras empresas)", afirmou.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) divulgou nesta semana condições para a venda das distribuidoras, que incluirão a assunção pela Eletrobras de dívidas das empresas, que somam 20,8 bilhões de reais, contra um valor de 10,8 bilhões atribuído às concessionárias.
Segundo Ferreira, a Eletrobras irá provar que possui créditos e recebimentos que podem cobrir todo ou boa parte desse rombo.
A maior parte dos débitos é da distribuidora do Amazonas junto à Petrobras, e a Eletrobrasnegocia com a petroleira a troca de um grupo de termelétricas da empresa pelo abatimento das dívidas.
A elétrica pretende apresentar a seus acionistas em uma assembleia até o final do ano um plano para equacionar o rombo, incluindo a proposta de negociação das térmicas com a Petrobras.
"O que temos que fazer é que essas dívidas tenham correspondentes em créditos. É o que estamos trabalhando. Tem coisas líquidas e certas. Isso tem que ser submetido a uma assembleia para mostrar que essas dívidas têm créditos firmes... Os débitos com a Petrobras também deverão ser objeto nessa assembleia", disse.