Economistas começam a perder esperança em "recuperação em V"
Economistas estão cada vez menos convencidos da possibilidade de uma rápida recuperação do crescimento
Ligia Tuon
Publicado em 31 de março de 2020 às 14h41.
Última atualização em 31 de março de 2020 às 19h45.
A pandemia de coronavírus seguramente provocará recessão global, mas economistas estão cada vez menos convencidos sobre a possibilidade de uma rápida recuperação do crescimento.
Analistas partem do princípio de que uma recuperação, talvez até vigorosa, ocorrerá no segundo semestre de 2020. Mas, à medida que a pandemia se propaga nos continentes europeu e americano e seus efeitos indiretos ficam claros, ressalvas para essa previsão se acumulam.
Por trás de todas elas está o simples fato de que as consequências econômicas dependem de algo que está além do que a maioria dos economistas pode prever: a trajetória da própria doença.
“Não temos certeza de que o vírus desaparecerá até o fim do segundo trimestre”, disse Joseph Stiglitz, vencedor do Prêmio Nobel e professor da Universidade Columbia, em Nova York. Se “durar até o verão, todos os efeitos serão ampliados”.
Além disso, economistas debatem uma série de questões - e essas dúvidas minam cada vez mais as projeções da chamada “recuperação em V”, na qual a produção perdida é rapidamente restaurada.
Em vez de soar como um decisivo “estamos fora de perigo”, autoridades de saúde parecem defender um retorno gradual à vida profissional, de modo que o “distanciamento social” pode permanecer.
Juntamente com o impacto financeiro da crise, que provavelmente reduzirá gastos com viagens, em lojas ou restaurantes, considerando que essas empresas não fecharão as portas.
“Leva mais tempo para ‘voltar a jogar’ do que ‘voltar ao trabalho’”, disse Catherine Mann, economista-chefe do Citigroup. Isso dá suporte à preocupação com a “trajetória das economias avançadas dependentes de serviços no segundo semestre de 2020”, disse.
A cautela do consumidor já é evidente na China, embora as autoridades digam que é seguro voltar ao marketplace.
Muito dependerá da rapidez com que as empresas criem empregos. A Organização Internacional do Trabalho alerta para a perda de 25 milhões postos de trabalho. E o Goldman Sachs disse na terça-feira que o desemprego nos EUA deve atingir 15%.
Stiglitz se preocupa com o que chama de “impasse financeiro”, no qual famílias e empresas não podem pagar as contas, levando companhias a pedir recuperação judicial e à inadimplência, e assim por diante.
(Com a colaboração de Richard Miller e Enda Curran).