Economia

Economia seguirá em "banho-maria" até 2019, diz Nelson Marconi

O professor da FGV acredita que o presidente Michel Temer não conseguirá se manter em seu cargo até o final do mandato, em 2018

Temer: a crise política, afirmou Marconi, só piorou o cenário econômico brasileiro (Ueslei Marcelino/Reuters)

Temer: a crise política, afirmou Marconi, só piorou o cenário econômico brasileiro (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Reuters

Publicado em 29 de maio de 2017 às 16h29.

São Paulo - A economia brasileira vai ficar estagnada até 2019, quando um novo presidente da República deve assumir o cargo e terá condições e força política para implementar mudanças capazes de fazer o Brasil crescer de forma mais robusta novamente.

A opinião é do professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e presidente da Associação Keynesiana Brasileira, Nelson Marconi, para quem o presidente Michel Temer não conseguirá se manter em seu cargo até o final do mandato, em 2018.

E mesmo quem o substituir, acrescentou, não conseguirá andar com as reformas e colocar o país em rota de crescimento.

"A economia vai ficar em banho-maria", afirmou Marconi à Reuters. "A economia brasileira deve se comportar mais ou menos como o último ano do governo (José) Sarney (presidente entre 1985 e 1990), só que sem a hiperinflação, quando todo mundo esperava o resultado da eleição de 1989", acrescentou.

Marconi, que também é coordenador do Fórum de Economia da FGV, que reúne anualmente importantes economistas e integrantes da equipe econômica, acredita que, se a troca de Temer se confirmar, a equipe econômica deve ser mantida, mas não terá força política para aprovar a agenda de reformas diante da proximidade do pleito no próximo ano.

A principal delas, a da Previdência, é considerada fundamental para colocar as contas públicas em ordem e tem grande apoio do mercado financeiro.

O governo sempre vendeu a reforma da Previdência como peça-chave para a retomada do crescimento, mas diante do impasse político, avalia o Marconi, vai ser obrigado a alterar o discurso de que, mesmo sem ela, o Brasil pode crescer.

"Nesses dias, Meirelles já disse que atrasar a reforma da Previdência não seria nada de outro mundo. Vai ser difícil, mas vão ter de mudar o discurso", disse ele, referindo-se ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Temer corre o risco de perder seu mandato depois de delações de executivos do grupo J&F, levando o Supremo Tribubal Federal (STF) a abrir inquérito contra o presidente por crimes, entre outros, de corrupção passiva.

A crise política, afirmou Marconi, só piorou o cenário econômico brasileiro, que já vinha mostrando sinais de fraqueza.

O crescimento esperado para o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, diz o economista, será puxado somente pelo desempenho do agronegócio e pela mudança metodológica na pesquisas de serviços e comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A projeção de estagnação econômica feita por Marconi é mais pessimista do que a do mercado.

No relatório Focus, do Banco Central, que colhe a previsão de uma centena de analistas todas as semanas, a expectativa é que a economia cresça cerca de 0,5 por cento este ano e 2,5 por cento em 2018.

Sem válvulas

Para Marconi, o Brasil tem poucas válvulas que possam permitir a volta do crescimento robusto.

Na avaliação dele, a recuperação teria de vir por meio da retomada das exportações de produtos manufaturados, o que ajudaria na recuperação do setor industrial e dos investimentos, criando efeito positivo em toda a economia. Hoje, ele diz, o canal das exportações só tem funcionado para o agronegócio.

As exportações de manufaturados, avalia o economista, foram prejudicadas por causa da desvalorização do dólar desde que Temer assumiu a Presidência. No período, o dólar deixou o patamar de 4 reais para a faixa de 3,25 reais.

"O que ajudaria a puxar o crescimento é a exportação de produtos industrializados, mas que foi prejudicada pela valorização do real", diz.

Para Marconi, o governo optou por permitir a desvalorização do dólar para ajudar no combate a inflação. O ideal seria a equipe econômica levar a taxa de câmbio para um patamar entre 3,80 reais e 3,90 reais.

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