Economia

Economia fraca e inflação em alta desafiam política de Dilma

Analistas veem cada vez menos margem de manobra na condução da política econômica brasileira


	A presidente Dilma Rousseff: cenário mais provável da política econômica é que a inflação maior seja tolerada por mais tempo
 (REUTERS/Ueslei Marcelino)

A presidente Dilma Rousseff: cenário mais provável da política econômica é que a inflação maior seja tolerada por mais tempo (REUTERS/Ueslei Marcelino)

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Da Redação

Publicado em 28 de fevereiro de 2013 às 18h35.

São Paulo - Juros na mínima recorde, bilhões de reais em cortes de impostos, uma taxa de câmbio mais competitiva para exportadores. Esses são os ingredientes do que deveria ser uma rápida recuperação da economia brasileira --mas o que se viu até agora foi frustrante.

O governo de Dilma Rousseff tem tido muitas dificuldades para ressuscitar o crescimento da economia. Pior, agora enfrenta a alta da inflação, que já superou 6 por cento no acumulado em 12 meses e ameaça superar o teto da meta do Banco Central, de 4,5 por cento mais 2 pontos percentuais.

A maioria dos analistas concorda que não há solução fácil, e veem cada vez menos margem de manobra na condução da política econômica. Com a aproximação da disputa eleitoral em 2014, Dilma deve se ver diante de alguns dilemas e decisões difíceis na busca pela reeleição.

O que esperar para os próximos meses? Abaixo estão algumas das principais opções a ser consideradas na política macroeconômica, e os riscos envolvidos em cada estratégia.

TOLERAR INFLAÇÃO MAIOR POR MAIS TEMPO

Esse parece ser o cenário mais provável até agora, considerando recentes declarações de autoridades.

Com o mercado de trabalho dando sinais de moderação, qualquer tentativa de esfriar os preços poderia minar de vez a frágil recuperação da economia. Com a eleição cada vez mais próxima, o governo poderia se perguntar: o que é melhor, inflação mais alta ou um aumento do desemprego? Hoje, a inflação é a maior preocupação dos eleitores, mas apenas porque os brasileiros se sentem seguros em seus empregos, de acordo com uma pesquisa de confiança do consumidor da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Se isso mudar, a popularidade de Dilma provavelmente diminuiria.


A atual taxa de inflação em 12 meses, de 6,15 por cento, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apesar de ser a mais alta em um ano, também é muito pequena quando comparada com a época de preços em disparada e prateleiras vazias em supermercados, nos anos 1980 e início dos 1990.

"Não existe hoje no país risco de descontrole da inflação", disse o presidente do BC, Alexandre Tombini, em discurso na semana passada. Assim, se o governo tiver que escolher entre se esforçar mais para garantir o crescimento econômico ou agir para ter uma inflação menor, é provável que fique com a primeira opção.

A dinâmica da inflação ao longo do ano pode sustentar esse cenário. A inflação deve atingir um pico no meio do ano; se não houver choques inesperados, um BC com sangue frio poderia deixar a inflação rodar em níveis altos por meses até que a economia desse sinais sólidos de melhora --quando uma alta de juros teria efeitos menos deletérios sobre a atividade.

Enquanto isso, medidas paliativas se tornariam mais prováveis. O governo, que já reduziu as tarifas de energia e pediu a municípios o adiamento de reajuste dos ônibus, estuda reduzir impostos sobre a cesta básica e alguns produtos importados.

Mas há muitos riscos envolvidos. Os gastos públicos tendem a aumentar em ano de eleição, o que colocaria ainda mais pressão sobre os preços no ano que vem.

Além disso, quanto mais o BC demora para colocar a inflação no centro da meta de 4,5 por cento --a última vez foi em 2010--, maior o impacto sobre expectativas e investimentos de longo prazo e menor a credibilidade do BC, segundo analistas --o que poderia exigir um aumento ainda maior dos juros no futuro.

"Para trazer a inflação para 4,5 por cento vai precisar de um choque monumental," disse Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.


"O Brasil hoje está muito parecido em termos de Banco Central com o que era o Fed (BC dos Estados Unidos) nos anos 1970", acrescentou. No final daquela década, a inflação nos EUA superou 10 por cento, exigindo um aumento dos juros a 20 por cento em 1981. Os preços baixaram, mas o desemprego subiu ao maior nível desde a Grande Depressão.

ABRIR MÃO DE JUROS EM MÍNIMA RECORDE

Novas surpresas com a inflação poderiam forçar o Banco Central a subir os juros neste ano.

A queda da Selic a 7,25 por cento --menor nível já registrado-- é uma das bandeiras de Dilma. Mas muitos analistas e investidores já esperam uma alta de pelo menos 1 ponto percentual na taxa ao longo deste ano.

Seria uma elevação pequena, e não a reversão completa do ciclo de queda de 5,25 pontos percentuais, porque o objetivo do BC seria acalmar as expectativas de inflação sem esfriar demais a demanda dos consumidores.

"Por enquanto, acho que eles estão contentes em falar mais grosso, ganhar algum tempo e esperar que as coisas melhorem. Mas no final, eles vão ter que fazer algo", disse o economista do BNP Paribas Marcelo Carvalho.

O problema é que uma alta pequena da Selic seria insuficiente para resolver o descompasso entre a oferta e a demanda do país, já que milhões de consumidores --os mesmos que têm sustentado o crescimento econômico-- continuariam a forçar os preços de serviços para cima.

Um estudo da consultoria MCM, baseado no mesmo modelo econométrico usado pelo Banco Central, mostrou que um aumento de 2 pontos percentuais da Selic diminuiria o crescimento da economia em 0,8 ponto percentual mas apenas reduziria a inflação em 1,2 ponto -o que ainda a deixaria acima do centro da meta, o que tornaria difícil uma queda da Selic de volta a 7,25 por cento.


ACEITAR UM DÓLAR MAIS BAIXO

A política cambial do Brasil está numa encruzilhada. A alta de quase 10 por cento do dólar no ano passado foi bem recebida por produtores locais, mas também elevou a inflação.

Este ano, o dólar já caiu 3 por cento, para 1,97 real, e tem se mantido ao redor deste patamar desde o começo do mês.

Uma pesquisa recente da Reuters mostrou que é improvável que o governo permita a continuidade da queda do dólar como uma arma alternativa contra a inflação. Tombini descarta a ideia de que o câmbio deve ser usado para controlar preços.

Mas isso não pode ser completamente descartado, segundo economistas, especialmente se a economia global se recuperar mais rápido do que o esperado e aumentar naturalmente a demanda e o preço de bens brasileiros.

Para isso, porém, a produção industrial provavelmente teria também que crescer mais do que os 3,1 por cento esperados para este ano, de acordo com Antonio Madeira, economista da LCA Consultores. "Se não fosse a intervenção do BC o dólar estaria mais baixo, na faixa de 1,80 real", disse.


POLÍTICA FISCAL SEM MUITAS MUDANÇAS

Uma das razões para a inflação no Brasil são os gastos públicos, de acordo com economistas e o próprio BC, que considera a atual política fiscal "expansionista". O governo só cumpriu a meta de superávit primário no ano passado após diversas manobras contábeis previstas em lei, e já anunciou que deve fazer o mesmo neste ano.

É difícil acreditar que o governo pise no freio a pouco mais de um ano e meio das eleições e às vésperas de eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 --sem falar nas obras de infraestrutura, vistas como essenciais para resolver os gargalos que atrapalham o crescimento do país.

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