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Direto para o mercado de trabalho

Numa noite quente de janeiro, um grupo de alunos instalados numa sala do Colégio Bandeirantes, uma das escolas de elite de São Paulo, ouve atentamente a apresentação do professor Francisco Borges sobre a estrutura do curso de redes de computadores. "Estudaremos módulos como Java, programação C++ e CLP", diz Borges. "A proposta é que os […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h23.

Numa noite quente de janeiro, um grupo de alunos instalados numa sala do Colégio Bandeirantes, uma das escolas de elite de São Paulo, ouve atentamente a apresentação do professor Francisco Borges sobre a estrutura do curso de redes de computadores. "Estudaremos módulos como Java, programação C++ e CLP", diz Borges. "A proposta é que os senhores saiam daqui direto para o mercado de trabalho." Sentada na primeira fileira, uma senhora de coque, escarpim e conjunto de saia e blusa cor-de-rosa anota tudo num caderno. Entre seus colegas há alguns homens de cabelo grisalho e um garoto com as madeixas tingidas de azul, piercing e calça cargo vários números acima do usual.

A turma heterogênea é a primeira do curso de graduação em tecnologia e administração de redes do IBTA, único investimento feito pelo grupo de educação do CSFB Garantia -- juntamente com Haddad, do Ibmec, e o Colégio Bandeirantes. Desde 2001, o IBTA oferece treinamento rápido de tecnologia em parceria com instituições como a universidade americana Carnegie Mellon e empresas como Cisco e Oracle. Seu objetivo é dar aos alunos a oportunidade de entrar rapidamente no mercado de trabalho. A classe descrita anteriormente marcou a estréia do IBTA no ensino superior. Os alunos da graduação tecnológica terão seus diplomas nas mãos não em quatro anos, mas em dois e meio. E não serão bacharéis, mas tecnólogos. Os cursos de graduação tecnológica existem há mais de 30 anos no Brasil. Recebem esse nome não por tratar de bits e bytes, mas porque são mais voltados para a educação profissionalizante em tecnologias, ou áreas, específicas.

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"Esses cursos tomaram vulto no passado por causa do crescimento industrial", diz a pedagoga Marcia Augusta Petrone, vice-presidente do Radial, que já foi a maior escola particular técnica de São Paulo e hoje abriga também uma faculdade. "Voltaram a chamar a atenção recentemente pelo surgimento de novas demandas do mercado e estão mais ligados a áreas como gestão e serviços." Em dez anos, o Radial chegou a ter 1 500 alunos. Quando começou a oferecer a graduação tecnológica, esse número dobrou em seis meses. "Especialmente em países emergentes você não precisa só de bacharéis", afirma Ellena, do IFC. "Precisa também de pessoas bem treinadas nas mais diversas áreas." Um documento recente do IFC sobre o papel do setor privado na educação em diversos países ressalta que uma das principais tendências de crescimento está exatamente no ensino profissionalizante para adultos.

Mais da metade das pessoas formadas a cada ano em ensino superior nos Estados Unidos fizeram um curso de dois anos ou menos. A situação é semelhante no ensino pós-secundário europeu. Em países como Argentina, Chile e Venezuela, cerca de um terço das matrículas na graduação são para cursos de um a três anos de duração. "É inevitável que o país siga a tendência de flexibilização no ensino superior", diz Moura Castro. Segundo os dados do MEC, havia 1 milhão de pessoas matriculadas em cursos tecnológicos no Brasil em abril de 2000, 68% delas em escolas privadas. Em 1996, o ministério autorizou também o funcionamento dos chamados cursos seqüenciais. Eles fazem parte da educação superior e podem ser recortes ainda menores dos cursos de graduação.

A necessidade de flexibilização da oferta no ensino superior -- tanto aqui como lá fora -- é mais um fenômeno da sociedade do conhecimento. "Para ser eficaz, o conhecimento precisa ser especializado", afirma Drucker. Ele prevê que o número de profissionais em computação, processos industriais e funções administrativas crescerá muito nos próximos anos. O mesmo deve acontecer com tecnólogos ligados a áreas específicas da medicina -- fisioterapeutas, técnicos dentários, assistentes psiquiátricos e muitos outros. Esse foi, na verdade, o segmento da força de trabalho americana que mais cresceu nos últimos 30 anos.

No Radial, os cursos de graduação tecnológica vão de gestão em serviços hospitalares a marketing de varejo. Como são voltados para o mercado de trabalho, a procura por uma área ou outra varia de tempos em tempos. No último semestre, caiu o número de alunos em webdesign, mas foi necessário abrir três novas turmas em gerenciamento de redes. Com a conclusão do Rodoanel na capital paulista, espera-se que mais pessoas se interessem pelo curso de gestão em logística. Mais de 90% dos alunos do Radial trabalham, e muitos estavam afastados da escola havia cinco anos. "São pessoas de classe média e média baixa", diz Marcia. "Para elas, é o resgate do sonho do status universitário e da carreira." O faturamento do Radial deve chegar a 20 milhões de reais neste ano.

A Universidade Anhembi Morumbi, de São Paulo, criou um novo conceito para interessados no ensino superior: a graduação modulada. Ela dá ao aluno a chance de ter três certificados nesse nível de ensino. Por exemplo, ele pode concluir em dois anos o curso seqüencial de controle da qualidade de alimentos e bebidas. Em três, pode receber o diploma de tecnólogo de nutrição e dietética. Se continuar por mais um ano, recebe também o diploma de nutricionista. Criada em 1982, a Anhembi Morumbi tem hoje 20 000 alunos em três campi em São Paulo. Há sete meses, comprou o prédio do BankBoston no Vale do Anhangabaú, no centro da cidade, onde vai criar o quarto campus, com capacidade para 5 000 alunos.

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