Economia

Dilma promete cumprir contratos e puxa novo modelo para o estado

Respeitar contratos já assinados, minimizar riscos, defender a tarifa mais barata, eleger a hidroeletricidade como prioridade e colocar o Estado outra vez no comando do planejamento do setor elétrico. Em linhas gerais, essas são as premissas do novo modelo para o setor de energia elétrica, apresentadas nesta segunda-feira (7/7) pelo Ministério das Minas e Energia […]

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h46.

Respeitar contratos já assinados, minimizar riscos, defender a tarifa mais barata, eleger a hidroeletricidade como prioridade e colocar o Estado outra vez no comando do planejamento do setor elétrico. Em linhas gerais, essas são as premissas do novo modelo para o setor de energia elétrica, apresentadas nesta segunda-feira (7/7) pelo Ministério das Minas e Energia durante a abertura do Infra 2020, evento que reúne empresas do setor de energia, em São Paulo. O novo modelo foi divulgado pela ministra Dilma Rousseff e por Mauricio Tolmasquim, secretário executivo do ministério.

As regras do modelo ainda estão em análise e foram expostas de maneira genérica, mas têm ao menos uma diretriz clara: colocar o ministério como o grande planejador do setor elétrico. E não poderia ser diferente", disse a ministra Dilma. Não é possível supor uma política de energia sem a ótica do longo prazo e sem a regulação, mas faremos uma gestão compartilhada com a iniciativa privada.

Ainda neste mês, a proposta final para o novo modelo será enviada ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Até outubro, o ministério espera que o projeto com a nova política seja avaliado pelo Congresso. A transição entre o atual e o novo modelo começaria em janeiro de 2004, quando nova leva de contratos iniciais (assinados durante a privatização) ficaria livre para se ajustar as novas regras. Neste ano, 25% dos contratos iniciais já expiraram. No próximo ano serão mais 25%.

A platéia, formada por executivos de geradoras, distribuidoras e produtores independentes, ficou frustrada com as explanações: faltaram detalhes importantes sobre as regras que vão reger as relações entre as empresas, consideras essenciais. Uma das grandes indefinições é a nova norma para o reajuste da tarifa. Em sua apresentação, Dilma frisou que as tarifas de energia aumentaram acima do IGP-M nos últimos anos: e nem por isso o investidor ficou mais confortável , diss Dilma. Isso indica que não basta fixar um indexador para dar segurança ao setor.

Uma mudança esperada, mas que com certeza o novo modelo não trará, é a revisão tributária. Entre 30% e 35% da tarifa hoje é composta por tributos, mas o MME não vai interferir para alterar essa composição. Vamos ser realistas , disse o secretário Tolmasquim. A reforma do setor elétrico não é o espaço para a revisão de impostos: o fórum para isso é a reforma tributária.

Dentro do novo modelo para o setor de energia, a Eletrobrás assumirá a responsabilidade de estimular os investimentos no setor, cuidar do fundo setorial e alocar recursos para financiamentos do setor. Pinguelli descartou a possibilidade que essas e outras atribuições venham a ter implicações políticas sobre a gestão dos negócios. Não vamos comprometer recursos da empresa com projetos sem retornos , disse Luís Pinguelli Rosa, presidente da estatal.

Para Pinguelli, o risco de racionamento está afastado até 2006 se a retomada do crescimento se manter lenta. Se o PIB e a renda voltarem a crescer no ritmo desejado pelo governo, o risco pode vir antes , disse. Pelas estimativas do MME, o risco de um novo apagão estaria descartado até 2007 se todos os projetos hoje propostos forem executados.

A Eletrobrás voltou a rever suas projeções de investimentos para este ano. Pinguelli acredita que o total de investimentos deve chegar a 3,3 bilhões de reais. No início do ano, a Eletrobrás previa investimentos da ordem de 4 bilhões de reais. Após um primeiro semestre de dificuldades para o setor a projeção foi revisada para 2,5 bilhões. Pinguelli acredita numa melhora da conjuntura. A estatal também prepara-se para fazer uma captação no exterior. Representantes da empresa estão em Nova York avaliando a emissão.

Entre as premissas do novo modelo estão:

  • O Ministério da Minas e Energia fica responsável pelas diretrizes do setor. Haveria os planejamentos no longo prazo (a cada 20 anos, em principio). Anualmente seriam feitas licitações, a partir de planejamento de oferta e demanda apresentados pelas empresas do setor. A proposta é fazer um monitoramento das condições de atendimento permanente do setor.
  • Novas instituições: o novo modelo prevê a criação da Administradora de Contratos de Energia Elétrica (ACEE), que funcionará como um pool de geração. Essa nova empresa não vai operar como um grande comercializador de a energia, pois os contratos bilatérias entre geradoras e distribuidoras ficam mantidos. A nova empresa vai contabilizar e liquidar os contratos e controlar as garantias. A adesão das geradoras a esse pool será progressiva: a cada ano 25% da energia contratada inicialmente migraria para o pool. Também será criada a Fundação de Estudos e Planejamento Energético (Fepe), que cuidará da execução das propostas apresentadas pelo ministério. O Mercado Atacadista de Energia (MAE) perderá muitas de suas funções atuais. Especialistas sugerem que ele deverá desaparecer. O Operador Nacional do Sistema (OMS) ganhará atribuições na área da governança corporativa. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) será fortalecida, para atuar na mediação de conflitos e na regulação do mercado. No entanto, não terá poder para fazer as concessões de serviços. O MME entende que se trata conflito de interesse a Aneel fazer concessões e fiscalizar ao mesmo tempo.
  • Produtores Independentes de Energia podem operar em separado ou aderir ao pool, tornando-se um produtor cativo. Quem aderir, terá de assinar contratos com todas as distribuidoras.
  • Grandes consumidores livres: a empresa deve optar pela condição de consumidor livre pelo prazo de cinco anos, não podendo rever essa posição antes do termino deste período.
  • Garantias: as distribuidoras apresentarão como garantia recebíveis ou cartas fianças, que serão acionadas caso os pagamentos não sejam cumpridos.
  • Licitações: hoje a licitação é feita pelo maior valor de uso do bem público. O MME entende que essa modalidade gera ágio, condicionada as empresas a aplicar o custo marginal (buscar a energia pelo maior valor) e eleva a tarifa para o consumidor final. O novo modelo pretende implantar a licitação pela menor receita: ganha quem aceitar prestar o serviço mediante o menor pagamento. Essa seria uma maneira de garantir tarifas mais baixas, segundo o MME, a prioridade do modelo.
  • Instrumento de contestação: o modelo prevê a possibilidade de contestações técnicas e pelo preço. A medida foi apresentada como uma garantia de que as empresas poderão apresentar propostas alternativas mais baratas.
  • Criação de um fundo setorial, que seria utilizado para fornecer hegde (proteção) para variações cambiais e outros riscos.
  • Universalização: o governo prepara um anúncio de um programa que prevê a antecipação das metas de universalização do acesso à energia elétrica. Segundo dados do MME, o Brasil tem hoje 2,5 milhões de residências sem luz, quase 13 milhões de pessoas.
  • Impostos: o novo modelo não prevê alterações nas alíquotas de impostos.
  • Acompanhe tudo sobre:[]

    Mais de Economia

    Pix: Banco Central já devolveu R$ 1,1 bi para vítimas de fraudes ou falhas no sistema

    Câmara tem até quarta-feira para votar reoneração da folha e cumprir decisão do STF

    China registra crescimento de 6% no comércio exterior nos primeiros oito meses de 2024

    Inflação de agosto desacelera e fica em -0,02%; IPCA acumulado de 12 meses cai para 4,24%