Petrobras: política de preços da empresa para a gasolina e o diesel vendidos às distribuidoras tem como base o preço de paridade de importação (Bruno Veiga/Exame)
Reuters
Publicado em 11 de abril de 2018 às 18h36.
Rio de Janeiro - O preço médio do diesel vendido pela Petrobras a distribuidoras de combustíveis atingiu nesta quarta-feira seu maior valor desde meados de 2017, no embalo do movimento do barril do petróleo no mercado internacional, que opera a cerca de 72 dólares, marcando uma máxima desde dezembro de 2014.
O diesel, combustível mais consumido no Brasil, está sendo comercializado nas refinarias da empresa nesta quarta-feira ao valor médio de 1,9169 real o litro, após alta de 2,3 por cento ante o valor cobrado no dia anterior, segundo dados da Petrobras.
É o maior valor do diesel desde que a empresa começou a reajustar preços quase que diariamente, em 30 de junho de 2017, seguindo os valores do mercado internacional, em busca de rentabilidade. Entretanto, a alta acumulada em abril é de apenas 1,5 por cento.
"Hoje, quando o mercado de petróleo oscila, isso é repassado diretamente para a conta. Então você vai ter um aumento naturalmente", disse o sócio da GO Associados Fernando Marcato, destacando que em anos passados a Petrobras subsidiava os preços dos combustíveis, amargando prejuízos bilionários, ao segurar reajustes.
Já o preço médio da gasolina da empresa nas refinarias atingiu 1,6833 real o litro, alta de 2,4 por cento ante terça-feira. É o maior nível desde 3 de janeiro, quando o combustível fóssil foi comercializado a 1,6917 real o litro. Em abril, a alta acumulada é de 0,3 por cento.
Enquanto isso, o petróleo tipo Brent, referência global, operava a 72,08 dólares o barril, com alta de 1,5 por cento na sessão, por volta das 14h55 (horário de Brasília).
A política de preços da Petrobras para a gasolina e o diesel vendidos às distribuidoras tem como base o preço de paridade de importação, formado pelas cotações internacionais destes produtos mais os custos que importadores teriam, como transporte e taxas portuárias, por exemplo.
"Uma das causas é certamente o aumento do preço do petróleo, batendo os 72 dólares o Brent. A taxa de câmbio também está ajudando um pouco, batendo quase 3,42 reais... principalmente de sexta-feira para cá, que aumentou", disse o analista de petróleo da Tendências Walter De Vitto, apontando que a desvalorização do real ante o dólar eleva a paridade de importação.
Tensões geopolíticas, como o possível retorno de sanções comerciais contra o Irã, um grande produtor de petróleo, assim como tensões entre EUA e Oriente Médio são citados como fatores de pressão para os preços do petróleo.
Procurada, a Petrobras não comentou imediatamente o assunto.
Os preços da gasolina e do diesel aos consumidores finais também estão por volta de máximas.
No entanto, os valores da Petrobras são apenas uma parcela dos preços cobrados nos postos de combustíveis. O valor na bomba incorpora tributos e repasses dos demais agentes do setor de comercialização: distribuidores, revendedores e produtores de biocombustíveis, entre outros.
Além disso, antes de serem vendidos nos postos de combustíveis, a gasolina e o diesel sofrem misturas com etanol anidro e biodiesel, respectivamente.
Na semana passada, o preço médio do diesel bateu também um recorde nominal dos postos de combustíveis, a 3,396 reais o litro, segundo os dados mais recentes da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), cuja série histórica não leva em conta a inflação.
Já o preço médio da gasolina nas bombas atingiu na semana passada 4,217 reais o litro, próximo da máxima nominal de 4,221 reais o litro, registrada na semana entre 28 de janeiro e 3 de fevereiro.
Marcato, da GO Associados, destacou que os elevados preços nos postos decorrem ainda de um aumento de tributos dos combustíveis (PIS/Cofins) em meados do ano passado.
Devido à sensibilidade do tema para a população, integrantes do mercado de combustíveis, como Petrobras e a Associação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Lubrificantes, Logística e Conveniência (Plural), contrataram propagandas em diversos meios para justificar a alta dos preços.
"A Plural (ex-Sindicom) está fazendo campanha na TV, dizendo que o problema do posto, da gasolina, é imposto. Fizeram um jogo de palavras...", disse Marcato.
Os preços da gasolina nos postos, por sua vez, poderiam sofrer uma queda nas próximas semanas, com a entrada da safra de cana no centro-sul, uma vez que o combustível recebe 27 por cento de etanol anidro --isso dependendo do peso da sazonalidade para o mercado.
O valor médio do etanol hidratado nos postos do Brasil, no entanto, segundo a ANP, ainda registrou um recorde na semana passada, a 3,055 reais o litro --o repasse do preço dos produtores não costuma ser imediato.
(Reportagem adicional de José Roberto Gomes)