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Desvalorização do peso argentino é arte para CEO vira-lata

Ex-conselheiro que fixou o valor do peso ao do dólar em 1 a 1 está estreando no mundo da arte com US$ 1 milhão em cédulas rasgadas

Peso argentino: Echegaray estima que a Argentina chega a destruir 400 milhões de pesos por semana em cédulas desgastadas (Daniel Garcia/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 26 de maio de 2014 às 22h55.

Buenos Aires - Para observar o efeito da desvalorização do peso argentino , vá à exposição de arte mais famosa do país.

Alberto Echegaray, ex-conselheiro do Ministro da Economia que fixou o valor do peso ao do dólar em 1 a 1 em 1991, está estreando na ArteBA com uma instalação que apresenta 11 esferas de vidro do tamanho de bolas de basquete, cada uma recheada com 1 milhão de pesos em cédulas destroçadas e retiradas de circulação.

Perto delas está um globo ligeiramente maior que contém US$ 1 milhão em cédulas rasgadas; a circunferência está envolvida com uma faixa de metal etiquetada como “Reserva Federal dos EUA”.

A ideia era salientar a queda do peso para 11 por dólar no câmbio paralelo desde que a vinculação terminou, em 2002. Agora que 12 pesos equivalem a um dólar, Echegaray disse que poderia agregar outra esfera.

O artista, atualmente CEO de uma empresa de biotecnologia e ex-analista do Banco Interamericano de Desenvolvimento, disse que passou dois meses seguindo caminhões de segurança que saíam do Banco Central em direção a um lixão de Buenos Aires para revirar as sacolas de cédulas de peso retalhadas.

Echegaray estima que a Argentina chega a destruir 400 milhões de pesos por semana em cédulas desgastadas, pois o peso em queda e a inflação de mais de 30 por cento significam que são necessárias mais de seis cédulas para comprar uma cesta básica, frente a quatro notas em 2012. A nota de 100 pesos (US$ 12) é a maior denominação da Argentina há 22 anos.

“As cédulas destruídas são um tema meio tabu para a Argentina”, disse ele de seu escritório, a dez quarteirões da autoridade monetária. “Isso é o que está saindo pela porta dos fundos do Banco Central.

São os bastidores, um reflexo dos maiores problemas da Argentina: impressão desenfreada de dinheiro e inflação”.

Manifestação visual

A obra está logo após a entrada de La Rural, lugar onde ocorre a ArteBA, um pavilhão de venda de gado do século 19 completamente reformado.

A exposição, que termina hoje, atrai 100.000 visitantes anualmente e é a maior feira de arte contemporânea da América Latina. Neste ano, 82 galerias de 16 países, como México, Estados Unidos e Israel estão participando da ArteBA.

Entre os patrocinadores estão a Petrobras, a franquia Arcos Dorados SA da McDonald’s Corp. e a alemã Mercedes-Benz AG.

“É brilhante”, disse Ana Lavarello, dona de casa de 38 anos. “Estou vendo a realidade argentina diante dos meus olhos. Isso é uma manifestação visual da perda do valor do peso”.

Políticas de vinculação

Há duas décadas, o ministro da Economia, Domingo Cavallo, fixou a quantidade de pesos para as reservas de dólares da Argentina em 1 a 1, espremendo a hiperinflação de 1.300 por cento. O sistema também contribuiu para o default recorde da Argentina de US$ 95 bilhões em dívida em 2001, pois as exportações do país se tornaram caras em relação a seus pares.

Após o default a Argentina restringiu o acesso às contas bancárias, uma medida chamada de “corralito”. No início do ano seguinte, o país acabou com a vinculação com a moeda dos EUA e reduziu um terço das economias em dólares ao convertê-las a pesos.

Echegaray, que utiliza o nome artístico de Cayman, disse que se interessou pelas políticas cambiais do governo depois de ajudar Cavallo a fundar o partido Acción por la República, com o qual o ex-ministro da Economia concorreu à presidência, sem sucesso, em 1999.

Desvalorização em janeiro

Um funcionário do Banco Central, que pediu para não ser identificado citando a política interna, disse que o banco não mantém registros das cédulas destruídas ou do dinheiro retirado de circulação. Ele não quis comentar a exposição.

A Argentina desvalorizou o peso em 19 por cento em janeiro, para 8 por dólar, e desde então o peso já caiu para 8,06 por dólar no mercado oficial.

No mercado paralelo, onde os argentinos vão para evitar os controles sobre a compra de moedas estrangeiras, são necessários 11,90 pesos para comprar US$ 1.

“A obra mostra como os argentinos pensam, como vemos o dólar como uma moeda forte”, disse a artista Elisabeth Verdugo, 52. “Ver todos esses dólares destruídos assim piora ainda mais tudo”.

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Buenos Aires - Para observar o efeito da desvalorização do peso argentino , vá à exposição de arte mais famosa do país.

Alberto Echegaray, ex-conselheiro do Ministro da Economia que fixou o valor do peso ao do dólar em 1 a 1 em 1991, está estreando na ArteBA com uma instalação que apresenta 11 esferas de vidro do tamanho de bolas de basquete, cada uma recheada com 1 milhão de pesos em cédulas destroçadas e retiradas de circulação.

Perto delas está um globo ligeiramente maior que contém US$ 1 milhão em cédulas rasgadas; a circunferência está envolvida com uma faixa de metal etiquetada como “Reserva Federal dos EUA”.

A ideia era salientar a queda do peso para 11 por dólar no câmbio paralelo desde que a vinculação terminou, em 2002. Agora que 12 pesos equivalem a um dólar, Echegaray disse que poderia agregar outra esfera.

O artista, atualmente CEO de uma empresa de biotecnologia e ex-analista do Banco Interamericano de Desenvolvimento, disse que passou dois meses seguindo caminhões de segurança que saíam do Banco Central em direção a um lixão de Buenos Aires para revirar as sacolas de cédulas de peso retalhadas.

Echegaray estima que a Argentina chega a destruir 400 milhões de pesos por semana em cédulas desgastadas, pois o peso em queda e a inflação de mais de 30 por cento significam que são necessárias mais de seis cédulas para comprar uma cesta básica, frente a quatro notas em 2012. A nota de 100 pesos (US$ 12) é a maior denominação da Argentina há 22 anos.

“As cédulas destruídas são um tema meio tabu para a Argentina”, disse ele de seu escritório, a dez quarteirões da autoridade monetária. “Isso é o que está saindo pela porta dos fundos do Banco Central.

São os bastidores, um reflexo dos maiores problemas da Argentina: impressão desenfreada de dinheiro e inflação”.

Manifestação visual

A obra está logo após a entrada de La Rural, lugar onde ocorre a ArteBA, um pavilhão de venda de gado do século 19 completamente reformado.

A exposição, que termina hoje, atrai 100.000 visitantes anualmente e é a maior feira de arte contemporânea da América Latina. Neste ano, 82 galerias de 16 países, como México, Estados Unidos e Israel estão participando da ArteBA.

Entre os patrocinadores estão a Petrobras, a franquia Arcos Dorados SA da McDonald’s Corp. e a alemã Mercedes-Benz AG.

“É brilhante”, disse Ana Lavarello, dona de casa de 38 anos. “Estou vendo a realidade argentina diante dos meus olhos. Isso é uma manifestação visual da perda do valor do peso”.

Políticas de vinculação

Há duas décadas, o ministro da Economia, Domingo Cavallo, fixou a quantidade de pesos para as reservas de dólares da Argentina em 1 a 1, espremendo a hiperinflação de 1.300 por cento. O sistema também contribuiu para o default recorde da Argentina de US$ 95 bilhões em dívida em 2001, pois as exportações do país se tornaram caras em relação a seus pares.

Após o default a Argentina restringiu o acesso às contas bancárias, uma medida chamada de “corralito”. No início do ano seguinte, o país acabou com a vinculação com a moeda dos EUA e reduziu um terço das economias em dólares ao convertê-las a pesos.

Echegaray, que utiliza o nome artístico de Cayman, disse que se interessou pelas políticas cambiais do governo depois de ajudar Cavallo a fundar o partido Acción por la República, com o qual o ex-ministro da Economia concorreu à presidência, sem sucesso, em 1999.

Desvalorização em janeiro

Um funcionário do Banco Central, que pediu para não ser identificado citando a política interna, disse que o banco não mantém registros das cédulas destruídas ou do dinheiro retirado de circulação. Ele não quis comentar a exposição.

A Argentina desvalorizou o peso em 19 por cento em janeiro, para 8 por dólar, e desde então o peso já caiu para 8,06 por dólar no mercado oficial.

No mercado paralelo, onde os argentinos vão para evitar os controles sobre a compra de moedas estrangeiras, são necessários 11,90 pesos para comprar US$ 1.

“A obra mostra como os argentinos pensam, como vemos o dólar como uma moeda forte”, disse a artista Elisabeth Verdugo, 52. “Ver todos esses dólares destruídos assim piora ainda mais tudo”.

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