Desemprego só volta ao nível pré-crise em 2022, diz Credit Suisse
Serão 34 trimestres de espera, e isso se o país crescer 2% a partir de 2018. Taxa natural de desemprego também pode aumentar, segundo estudo do banco
João Pedro Caleiro
Publicado em 22 de agosto de 2017 às 12h12.
Última atualização em 22 de agosto de 2017 às 13h03.
São Paulo - O pico do desemprego no Brasil já passou: a taxa caiu de 13,7% no 1ºtrimestre de 2017 para 13% nos 2ºtrimestre, de acordo com a PNAD Contínua do IBGE.
Mas ainda vai demorar anos para a taxa voltar ao nível registrado antes da crise, de acordo com um estudo divulgado nesta terça-feira (22) pelo Credit Suisse .
O banco prevê só para o 3ºtrimestre de 2022 o retorno do desemprego para os 6,5% registrados no quarto trimestre de 2014. São 34 trimestres de espera, e isso se o país crescer 2% a partir de 2018.
Se a economia crescer 3%, a volta do desemprego de 6,5% seria antecipada para o 1ºtrimestre de 2021. Se crescer 4%, o retorno fica para o 3ºtrimestre de 2020.
O estudo analisou 123 episódios recessivos das últimas décadas em vários países e viu que a regra é que o PIB se recupera mais rápido e só depois vem a reação do mercado de trabalho.
Em 12 casos, nem PIB nem desemprego voltaram para o nível pré-crise. Em 59 casos, o PIB voltou para o nível pré-crise, mas o desemprego continuou acima.
Na média dos 50 países em que houve recuperação total da economia, o PIB demorou 7 trimestres e o desemprego demorou 9 trimestres para voltar ao nível pré-recessão.
Mas em casos de recessão profunda como a brasileira, os prazos de recuperação foram mais longos: 15 trimestres para o PIB e 17 trimestres para o desemprego.
Estes são os números mínimos e supõe que a economia vai retornar para o nível pré-crise. Mas há outros elementos em jogo, já que o trauma da recessão pode causar mudanças permanentes.
A literatura econômica chama isso de histerese, um termo da física para classificar o fenômeno de materiais que conservam propriedades mesmo sem o estímulo que as gerou.
Estudos mostram, por exemplo, que os indivíduos demitidos ou que não conseguem entrar no mercado durante uma recessão tem sua qualificação e rendimentos afetados pelo resto da vida, reduzindo a eficiência geral da economia.
As crises também mexem na composição dos setores de atividade, exigindo que trabalhadores sejam realocados de um para o outro, um processo que gera custos de requalificação, por exemplo.
É por essas e outras que muitas recessões podem causar uma alta na "taxa natural" de desemprego, aquela que pode ser sustentada sem causar aumento da inflação.
No caso do Brasil, a estimativa do Credit Suisse é que a taxa natural suba mais de dois pontos percentuais e fique acima de 9,5%, mas isso depende também da flexibilidade do mercado de trabalho.
Um estudo recente do Itaú, por exemplo, calcula que a reforma trabalhista pode reduzir a taxa de desemprego estrutural brasileira em cerca de 1,4 ponto percentual.
Um estudo recente da FGV concluiu que a rigidez do mercado de trabalho contribuiu para que o atual ciclo recessivo fosse marcado por uma alta do desemprego relativamente acentuada e uma queda da renda relativamente suave na comparação com outras crises recentes no país.