Economia

Desaceleração do varejo retrata ritmo mais lento da economia

Números de fevereiro divulgados pelo IBGE a menor expansão do comércio dos últimos 15 meses

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h23.

A expansão do varejo brasileiro em fevereiro foi a menor dos últimos 15 meses. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o volume de vendas do comércio varejista cresceu 1,32% em fevereiro em relação ao mesmo mês do ano passado. Economistas atribuem a desaceleração do varejo à política monetária de juros altos, mas ressaltam que ainda é preciso esperar os resultados dos próximos meses para confirmar se o Brasil entrou em um patamar mais baixo de atividade econômica.

"Não é possível tomar esses números como conclusivos, porque fevereiro é um mês muito peculiar", afirma a economista-chefe do Banco Espírito Santo Investment, Sanda Utsumi. Além de ser menor que os demais, o mês também contou com um dia a menos na comparação, já que 2004 foi um ano bissexto. Fevereiro de 2004 teve ainda um final de semana a mais, o que sempre estimula as vendas. Por isso, o próprio IBGE é cauteloso sobre a desaceleração verificada. "Ainda é cedo para termos certeza, mas nossa principal hipótese é que o calendário atrapalhou o comércio", diz Nilo Lopes de Macedo, um dos técnicos do instituto responsável pela pesquisa.

Apesar das ressalvas, os números do IBGE se alinham aos de outras fontes. O faturamento do setor, no estado de São Paulo, cresceu 2,1% sobre fevereiro de 2004, em contraste com o volume de vendas, que caiu 6%. A evolução da receita é semelhante à divulgada pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio). Segundo a entidade, nesse mesmo mês, a receita nominal dos varejistas subiu 2,06% na região metropolitana do estado.

Alimentos e bebidas

O que mais prejudicou o desempenho geral do varejo, no mês retrasado, foi o segmento de hipermercados, supermercados, alimentos e bebidas. Essa categoria apresentou retração de 0,22% no volume de vendas. Devido ao seu peso na mostra da pesquisa, o desempenho negativo foi suficiente para cortar 1,4 ponto percentual do resultado geral do comércio em fevereiro, de acordo com Macedo, do IBGE. "Se as vendas desse segmento tivessem apresentado variação nula em vez de queda, o volume de vendas teria crescido cerca de 3%", afirma.

Outro setor que pesou bastante no desempenho geral foi o de combustíveis e lubrificantes, cujo volume de vendas despencou 8,65% contra fevereiro de 2004. O segmento de tecidos e vestuário também registrou recuo de 1,02%.

Juros e dívidas

Para o economista-chefe da consultoria Trevisan, Luiz Guilherme Piva, a expansão do volume de crédito consignado e a desaceleração do comércio não são incompatíveis. Embora tenha crescido 99% nos 12 meses encerrados em fevereiro, o montante liberado por essa modalidade, 13,6 bilhões de reais até fevereiro, ainda é considerado pequeno por Piva, diante da carteira geral de crédito de 498 bilhões de reais.

O crédito consignado, de acordo com Piva, está indo para a aquisição de bens duráveis, como móveis e eletrodomésticos. Uma prova seria a expansão acelerada das vendas desses produtos. Em volume, o incremento foi de 16,10% em fevereiro, segundo o IBGE. Com isso, o nível de endividamento da população estaria subindo.

Assim, dois fatores explicariam a tímida expansão do comércio em fevereiro. O primeiro é que a capacidade dos consumidores de assumirem novas dívidas estaria chegando ao limite. O segundo sãos os juros altos, que já estariam pressionando o ritmo geral da economia. "Mesmo não sendo eficiente para combater a inflação, a política monetária tem conseguido frear a economia", diz.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

Tributação de FII e Fiagros está na pauta da reforma tributária; frentes prometem reação

Campos Neto responde a Lula: é necessário afastar a 'narrativa' de que o BC tem sido político

Haddad: alta do dólar é problema de comunicação do governo sobre autonomia do BC e arcabouço

Reforma Tributária: governo faz as contas para evitar que isenção para carnes aumente imposto

Mais na Exame