Economia Brasileira; PIB; Moeda (Getty Images/Getty Images)
Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 15h14.
O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2025 reforça o cenário de desaceleração da economia e aponta para uma queda da atividade econômica no quatro trimestre e no próximo ano, puxada pela taxa básica de juros (Selic) de 15% ao ano.
Segundo economistas ouvidos pela EXAME, o desempenho fraco amplia as apostas de um corte da Selic em janeiro, mas não deve ser suficiente para antecipar a decisão para a última reunião do ano do Copom, marcada para os dias 9 e 10 de dezembro.
A economia brasileira cresceu 0,1% no trimestre na relação com o mesmo período anterior, segundo dados do IBGE, com leve alta na Agropecuária (0,4%) e na Indústria (0,8%), mas uma estagnação no setor de Serviços (0,1%), o de maior peso no PIB.
A taxa de investimento foi de 17,3%, uma leve queda frente aos 17,4% do mesmo período de 2024. A taxa de poupança manteve-se estável em 14,5%.
Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o crescimento de apenas 0,1% é reflexo direto da perda de fôlego do consumo e dos investimentos. As exportações e as commodities impediram uma queda forte da economia, em especial os grãos e o petróleo.
"As commodities de novo estão segurando, de certa forma, um desempenho pior que a gente poderia ter na economia de 2025", diz.
Vale avalia que os dados do quatro trimestre devem vir ainda mais fracos, com uma queda esperada de 0,8 ponto percentual da economia no período.
"É uma ideia de uma desaceleração que está muito clara e muito evidente. E um PIB que vai ficar de fato próximo de 2% neste ano", afirma.
Samuel Pessôa, economista do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME), avalia que a desaceleração está em linha com as previsões do mercado, de um crescimento de 2% em 2025.
"É a continuação que já tinha mostrado sinais do primeiro para o segundo trimestre, e agora foi reforçada no terceiro trimestre", diz.
Para Vale, a taxa de juros em patamar elevado continuará impactando a economia em 2026. Ele afirma que o Brasil não vê um cenário de iniciar o ano com juros de 15% há pelo menos 20 anos.
"O impacto disso na economia não será pequeno. Vai ser algo em torno de 1,5% do crescimento do PIB [em 2026]. Só não vai ser pior porque temos as políticas de estímulo do governo que estão funcionando", afirma.
Pessoa, por sua vez, reforça que os sinais apontam para o início do ciclo de corte da Selic no início do próximo ano.
"O Banco Central rodará os seus modelos e a projeção da inflação no período que é relevante para o Copom estará dentro da meta. São sinais claros que a política monetária está fazendo o seu serviço", diz.
O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, prevê que o BC poderá reduzir em 0,25 ponto percentual a Selic na reunião do fim de janeiro, mas espera um corte maior a partir de março, quando o BC terá condições mais “seguras” para isso.
“Infelizmente tem aquele fogo amigo do governo que é manter os gastos públicos em expansão e isso tira eficiência da política monetária. Então, por enquanto, é esse o cenário com o qual a Austin trabalha”, disse.
Em nota divulgada nesta quinta-feira, o Ministério da Fazenda afirmou que a desaceleração do consumo está associação aos "impactos defasados da política monetária restritiva".
O ministro Fernando Haddad tem reiterado que a Selic está “alta demais” e que o cenário atual não justifica juros em 15%.
Na véspera da reunião de novembro do Copom, ele afirmou que, se fosse presidente do BC, votaria por uma redução da taxa.
Haddad tem sido a principal voz do governo na pressão sobre o Banco Central para iniciar logo o ciclo de cortes.Haddad e Galípolo: ministro da Fazenda tem realizado críticas a condução do BC e cobrado a redução da Selic (Rovena Rosa/Agência Brasil)
Já o presidente do BC, Gabriel Galípolo, tem repetido que o cenário segue inalterado e que não há expectativa de mudanças na condução da política monetária no curto prazo.
Tanto no comunicado como na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC manteve o tom duro e não deu pistas sobre quando o início do ciclo de cortes da Selic começará. Parte dos analistas esperava ajustes na linguagem, o que não ocorreu. Com isso, o mercado segue dividido sobre o momento exato do início do ciclo. Com o resultado do PIB desta quinta-feira, as apostas convergiram para janeiro.