Economia

Demanda russa por carnes deve sustentar preços de aves

Rússia deverá contribuir para uma alta nos preços da carne suína e de frango no Brasil


	Frangos para exportação são preparados em uma fábrica da D'Oro em Várzea Paulista
 (Marcos Issa/Bloomberg)

Frangos para exportação são preparados em uma fábrica da D'Oro em Várzea Paulista (Marcos Issa/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 12 de agosto de 2014 às 16h35.

São Paulo - A decisão da Rússia de aumentar as importações de carnes do Brasil para compensar um embargo a outros países vai contribuir para uma alta nos preços da carne suína e de frango no país, mas terá impacto mais limitado sobre a área de bovinos, apontaram analistas e representantes do setor.

O governo russo praticamente triplicou o número de unidades brasileiras habilitadas a exportar à Rússia, depois de anunciar embargo a países fornecedores de alimentos em retaliação às sanções de países como Estados Unidos, União Europeia e Austrália, por causa da crise com a Ucrânia.

"Alguma elevação, sem dúvida, virá, porque o preço do frango está muito baixo", disse à Reuters o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, embora ele acredite que o aumento não será "imediato ou abrupto".

Turra ponderou que a Rússia pode deixar de comprar produtos dos EUA e Europa. Mas norte-americanos e europeus poderão, por sua vez, vender para outros mercados, possivelmente competindo com o Brasil, o maior exportador global de carne de frango.

O preço do quilo do frango resfriado subiu cerca de 3 por cento em Toledo, no Paraná, maior produtor e exportador brasileiro do produto, desde o dia 6 de agosto, quando a Rússia anunciou que compraria mais carnes do Brasil.

Já o preço do quilo do suíno no oeste catarinense teve alta de 2,2 por cento em período semelhante, segundo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

Em seu relatório semanal mais recente, o Cepea ressaltou que "uma grande oportunidade pode vir da crise política entre Rússia, Estados Unidos e União Europeia".

O presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado Paraná (Sindiavipar), Domingos Martins, disse que impacto da alta deve ser mais evidente em cortes como coxa e sobrecoxa, mais demandados pela Rússia.

"A comercialização para a Rússia é muito direta entre importador e fornecedor, então isso já mexe com o mercado... Mesmo sem os embarques, já podemos começar a ver melhoras", disse Martins.

Ele acrescentou que os preços da carne de frango estão cerca de 5 por cento mais baixos ante igual período do ano passado, e o mercado deve passar por um ajuste.

No caso da carne suína, que já vem com preços sustentados no ano, por menor disponibilidade de animais para abate, o aumento poderá ser mais expressivo, ponderou o presidente da ABPA, Turra.

"A carne suína, esta sim, já estava tendo uma elevação no mercado interno e externo, e com esta abertura russa tende a aumentar (mais)", acrescentou.

Outro Cenário

Para o setor de carne bovina, porém, o impacto deve ser menos significativo, porque a demanda interna está desaquecida, ressalvou o analista da Scot Consultoria, Alex Silva.

"Não dá para ficar muito animado não... Porque internamente já não vemos muito poder de consumo, já virou clichê falar que a economia está ruim este ano", disse Silva.

Ele explicou que a demanda russa é justamente pelos cortes dianteiros, que são os mais baratos.

"Então, a Rússia poderá ajudar a escoar este tipo de corte, mas os cortes mais nobres, que estão ficando empacados, vão continuar assim", disse.

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