O comércio entre os países da América Latina soma hoje mais de 180 mil milhões de dólares (©AFP / Luis Acosta)
Da Redação
Publicado em 13 de abril de 2012 às 18h30.
Cartagena - Os quase 250 milhões de pobres da América Latina são potenciais consumidores, disse nesta sexta-feira o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, em uma tentativa de convencer centenas de empresários a cooperar com os governos na luta contra a pobreza.
"Cada latino-americano que sair da pobreza é mais um consumidor, por isso é tão rentável e tão importante que os resultados macroeconômicos se traduzam em uma melhoria social", disse Santos na Cúpula Empresarial das Américas, em que participam centenas de empresários e vários presidentes do continente.
"A luta contra a pobreza é um negócio rentável para todo mundo", acrescentou.
Mais de 40 milhões de latino-americanos saíram da pobreza nos últimos anos, mas em 2010, cerca de 31,4% da população da região - 247 milhões de pessoas - ainda vivia na pobreza ou na extrema pobreza, segundo dados recentes da Comissão Econômica para América Latina (Cepal).
O presidente também pediu a empresários americanos e canadenses para considerar a América Latina não "como uma região repleta de problemas, mas sim como uma região repleta de oportunidades".
"Se a América Latina se der conta realmente do potencial que tem", como energia, água, grande capacidade para produzir alimentos, biodiversidade e uma população jovem "e se os Estados Unidos perceberem que seus interesses estratégicos de longo prazo não estão no Afeganistão nem no Paquistão, estão,no longo prazo, na América Latina (...), juntos poderemos encontrar a prosperidade que estamos buscando", afirmou.
Como Santos, o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o colombiano Luis Alberto Moreno, pediu aos empresários para aumentar o comércio intrarregional.
Segundo Moreno, se o PIB latino-americano continuar crescendo a uma taxa média de 4,8%, um nível próximo à média da última década, "é possível duplicar a renda per capita até 2030, e os pobres serão apenas 10% da população total e 75% do continente fará parte de uma vibrante classe média".
Para conseguir isso, temos que "nos unir, aumentando o comércio intrarregional", estender "a rede de comunicações, de infraestrutura" nas áreas mais distantes e nos conectar de maneira equitativa, "oferecendo serviços e produtos à chamada base da pirâmide social", afirmou Moreno.
O comércio entre os países da América Latina soma hoje mais de 180 mil milhões de dólares, apenas 19% do comércio total, contra 48% do comércio interno na Ásia e 54% do comércio interno na Europa, segundo dados do BID.
Uma das oportunidades está no setor da aviação. Milhões de latino-americanos estão viajando de avião pela primeira vez e o BID calcula que nos próximos 20 anos as companhias aéreas da região comprarão mais de 2.500 novos aviões.
"Isso representa uma enorme oportunidade para empresas como Embraer, que fabrica aviões no Brasil e na China, para a canadense Bombardier, que tem uma fábrica em Querétaro, e para a Boeing, que já compra componentes dos clusters aeroespaciais no México", garantiu Moreno.
O presidente do México, Felipe Calderón, insistiu na luta contra o protecionismo.
"Devemos ser claros sobre onde estão as coordenadas por onde o progresso tem que passar. Essas coordenadas não estão no protecionismo, estão na abertura e na liberdade econômica", afirmou.
"E também não estão na estatização ou expropriação (...) Estão no âmbito onde se pode garantir a propriedade e a livre empresa", apontou.
A educação é outro dos grandes desafios da América Latina, onde apenas 40% dos jovens terminam a educação secundária e metade das empresas da região tem dificuldades para encontrar mão de obra qualificada.
O BID lançou esta sexta-feira uma aliança com cinco grandes empresas - Arcos Dorados, Caterpillar, Cemex, Microsoft e Walmart - para capacitar e oferecer estágios e empregos temporários a jovens latino-americanos. O objetivo é que a aliança se estenda em 10 anos pelo menos mil empresas para capacitar um milhão de jovens.