Economia

Cubanos começam a sentir no bolso nova política dos EUA

Cubanos que faziam fila em agência que realiza transferências internacionais estavam felizes com as novas regulações americanas para Cuba

Cubano usando camiseta com bandeira dos Estados Unidos caminha por rua de Havana (Yamil Lage/AFP)

Cubano usando camiseta com bandeira dos Estados Unidos caminha por rua de Havana (Yamil Lage/AFP)

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Da Redação

Publicado em 16 de janeiro de 2015 às 17h41.

Havana - Os cubanos que faziam fila em uma agência que realiza transferências internacionais em Havana Velha estavam felizes com as novas regulações americanas para Cuba.

Em vigor a partir desta sexta-feira, elas têm impacto direito em seus bolsos.

"Esta decisão do presidente (Barack) Obama foi muito positiva. Será vantajoso para os dois países", disse à AFP o aposentado Julio Montalvi, comentando sobre as normas anunciadas na quinta-feira por Washington, que aumentaram quatro vezes a quantia autorizada das remessas de dinheiro e flexibilizaram as viagens à ilha.

O limite das remessas subiu de 500 para 2.000 dólares por trimestre com as novas regulações, que deram efeito legal à histórica mudança de política anunciada por Obama em 17 de dezembro.

"Para mim (essas normas) serão positivas para ter um pouquinho de melhoria social e econômica", disse à AFP Pedro Rodríguez Medel, bailarino de 25 anos, enquanto esperava para entrar na agência da 'Western Union', única empresa com licença para transferir dinheiro dos Estados Unidos para Cuba.

Os cubanos que faziam fila na calçada antes de entrar na agência de Havana Velha não quiseram revelar os valores recebidos das transferências. Mas, sem dúvida, a ajuda de seus parentes nos Estados Unidos é vital, pois os salários cubanos - de 20 dólares em média por mês - são insuficientes para as necessidades de uma família.

Obama suavizou certas sanções e prometeu restabelecer laços diplomáticos, mas o embargo a Cuba, vigente desde 1962, só pode ser suspenso pelo Congresso norte-americano, dominado pela oposição republicana.

"Passamos muitos anos esperando e nada de ruim pode acontecer; já passamos tudo de ruim, então agora temos a expectativa de que tudo vai ser bom", disse uma mulher na fila que não quis dizer seu nome.

"Eu às vezes recebo remessas do exterior", disse Noelia Fuentes Montero, de 64 anos, funcionária do Ministério do Comércio Interior, que aproveitou a ocasião para declarar seu apoio ao governo comunista.

"Tudo o que foi feito em Cuba a partir da revolução foi benéfico. A decisão tomada (de se reconciliar com Washington) partiu dos nossos dirigentes e o povo a apoia", disse à AFP.

A Western Union tem mais de 220 agências em 140 dos 168 municípios de Cuba, e entregam as quantias enviadas em pesos conversíveis, que têm paridade com o dólar, menos um desconto de 10% em impostos.

As remessas familiares, de 2,7 bilhões de dólares ao ano, são a segunda fonte de divisas da ilha, atrás da venda de serviços médicos, calculados em 11 bilhões, e acima do turismo, que soma 2,5 bilhões.

"Quero levar charutos e rum"

As novas normas favoreceram também os americanos e cubano-americanos, ao reduzir os requisitos para viagens a Cuba e permitir o uso de cartões de débito e crédito na ilha.

Além disso, os viajantes podem voltar aos Estados Unidos com até 400 dólares em produtos cubanos, incluído o limite de 100 dólares em bebidas e tabaco. Antes, todo produto cubano era confiscado na alfândega norte-americana.

"Tudo o que aproximar os nossos países é maravilhoso. Espero que a gente vire grandes amigos de Cuba, como somos do Canadá", disse à AFP Salomon Schepps, um advogado de Nova York em visita à ilha.

"Quando ouvi a notícia foi ótimo. Quero levar uns charutos na volta se eu puder, e quem sabe um rum", disse Danny Schepps, estudante de psicologia de 22 anos.

"Não o vejo há quase quatro anos"

O otimismo também podia ser percebido no Terminal 2 do aeroporto José Martí de Havana, onde chegam os voos de Miami - cidade em que se concentra a diáspora cubana - e de outras partes dos Estados Unidos.

"Estou esperando meu filho. Faz quatro anos que não o vejo", disse à AFP um taxista que se identificou apenas como Freddy e lamentou que o consulado americana tenha lhe negado o visto para visitar seu filho.

Perto dali, duas irmãs davam as boas-vindas ao pai, que não parava de chorar ao retornar a Cuba depois de 13 anos.

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